Capítulo 35

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Jamie

Andei como um bicho enjaulado por toda a casa. O telefone estava tão apertado em minha mão que achei um milagre não ter esfarelado. Estava ciente que poderia confiar na Tita mas o meu lado irracional me fez duvidar até da minha própria sombra. Não tinha como esquecer que eles foram namorados por quase dez anos. Daniel foi seu amor de juventude e essas coisas simplesmente não apagam assim, como um toque de mágica. Olhei de novo o celular e eram quase 15:00 da tarde e ela não tinha me ligado. Não queria ir atrás dela e fazer um escândalo. O certo era esperar pelo seu retorno e GRITAR como um louco psicótico. Ainda tinha que esperar a visita do advogado a Annika. Aquilo era uma droga, principalmente depois de ouvir a Tita me comparar ao meu pai. O advogado falaria com ela no início da noite e se tudo fosse como o esperado teria Annika no próximo voo para os Estados Unidos, onde o aborto é legal amparada pela décima quarta emenda. Não cometeria nenhum crime, não é? Tinha que acreditar ou me volveria maluco de vez. Precisava de uma distração urgente e foi por isso que fui para academia. Correr me ajudaria a tirar essas merdas da minha cabeça. Porra! Como fui colocar a gente nessa situação de foda? Tita não merecia passar por isso. Talvez se não tivesse me reaproximado ela estaria bem e feliz cuidando do seu bar e até mesmo com um cara normal que fosse capaz de dar uma realidade segura com uma casa de cercadinho de madeira branca, um cachorro no quintal e filhos Porque se não fosse eu o pai não haveriam abortos. Por mais que me digam que não fui culpado, nada me remove da ideia de que tudo é por minha causa. O primeiro aborto aconteceu por conta das coisas que a fiz passar. E depois o sexo aquele dia foi terrível. Ela sangrou logo depois Aumentei a velocidade da esteira e o suor pingava no painel. O segundo aconteceu graças ao que minha irmã fez no dia do nosso casamento. Agora tem uma puta que pode estar carregando o filho que deveria ser dela. Ninguém mais merecia tanto ter uma criança como Tita. Desacelerei a esteira quando minhas pernas travaram de dor. Os músculos cobrando o esforço exagerado e a falta de hidratação.

— A senhora chegou! — Silveira me avisou e me entregou uma garrafinha de água. Estava com as mãos no joelho e tão ofegante que fui incapaz de falar alguma coisa. Minhas mãos tremiam quando levei a água em minha boca — Senhor Carter não sei como explicar isso mas acho que a senhora Tita bebeu — quase engasguei e tive um novo acesso de energia. Andei apressadamente até a casa e quase não fui capaz de subir as malditas escadas.

— Tita — ela estava jogada na cama de bruços. Uma perna estirada e a outra caída para fora da cama. O rosto avermelhado e os cabelos bagunçados eram reflexo da realidade. Ela roncava e babava no travesseiro apagada. Afastei o cabelo do rosto e encostei o nariz próximo a boca. Não fedia a bebida alcoólica, pelo contrário, cheirava a chocolate. — Amor você está bem? — virou o rosto para o outro lado voltando a dormir. — Tita acorde! — balancei seu braço com mais força e ela gemeu levantando a cabeça. Os olhos ainda estavam fechados e realmente pensei que estivesse bêbada — Voltou a beber depois de três anos sóbria?

— Não sou tão estúpida como imagina. — abriu os olhos sem muita vontade — estou chapada por conta do bagulho que provei.

— Que bagulho? — ah, não! — fumou maconha? Está louca, porra? Foi ele que te drogou, não foi? Daniel te drogou para se aproveitar de você. — corri até minha carteira e chaves — vou matar aquele filho da puta!

— Fica na tua que não foi nada disso — lambeu os lábios como se não bebesse água a dias — comi por engano um bolo batizado da tia Vera. Ela usa a erva para suportar as dores — abriu os braços tomando toda a cama. — Agora vem aqui deitar comigo — chamou com uma mão e respirei aliviado — estou com fome — bateu a mão no pequeno espaço que sobrou do colchão me chamando de novo.

— Estou suado e fedendo!

— Sua inhaca é cheirosa. Agora vai negar se deitar comigo?

— Nem morto! — tirei a camisa que pingava de suor e deitei feliz. Estava com medo de ser rejeitado e que fosse expulso do quarto. Deus sabe que merecia toda a sua rejeição mas Tita não era assim. Sempre foi uma mulher muito doce e amorosa. Ela afundou o rosto na minha axila e cheirou sem nenhum pudor.

LOUCA OBSESSÃO Livro 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora