Capítulo 07

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Jamie

— seu lunático maluco... — ela gritou pegando o que encontrava pela frente para jogar contra mim. Foi impossível não sorrir diante do seu temperamento explosivo e da queda da sua máscara de gelo e indiferença. Gosto de lidar com ela brava e apaixonada.
— pare com isso ou vai acabar acertando a minha cabeça — falei quando uma peça de decoração passou ao meu lado e espatifou na parede. Louca!
— essa é a intenção — gritou a todo pulmão e sorri ainda mais quando avançou sobre mim na tentativa patética de me acertar um soco. Deixei descarregar sua raiva contra meu peito até ficar ofegante — como teve coragem de me drogar? — choramingou cansada. Segurei seus pulsos e a trouxe para mais perto, abraçando-a.
— precisava estar aqui e não conseguiria viajar deixando você, sem ter a chance de conversarmos — não tinha a  possibilidade de deixar que aquele delegado de merda colocasse as mãos sobre ela novamente. Tita era minha mulher e nada ficaria em meu caminho. Dessa vez não iria desistir.
— Isso é sequestro e pode ter certeza que minha mãe...
— a idéia foi dela — revelei mesmo sabendo que seria um choque para ela. Tita me empurrou e parecia perplexa mas queria que entendesse e aceitasse tudo o mais rápido possível. Era crucial estarmos bem para tentar um recomeço.
— mentiroso! Mamãe jamais me jogaria a mercê de um homem que ela não conhece — ela vacilou por alguns segundos quando chamou Vitória de mamãe. Não era mãe, como alguém adulto e confiante, era a mamãe de uma garotinha carente e sozinha.
— também fiquei puto quando ela me ofereceu alguns dos seus comprimidos para colocar em sua bebida. Fiquei imaginando o que aconteceria se ao invés de mim fosse um maluco...
— você é um maluco — sussurou sentando na cama decepcionada. Os olhos tristes e sem brilho acabaram comigo. 
— não vou te machucar.
— quem me garante? Já fez antes, esqueceu? — ela sabia onde cutucar a ferida e não tinha receio em fazer.
— já falei que não precisa jogar em minha cara. Esse é um fato que nunca vou me perdoar ou esquecer.
— o que pretende fazer comigo?
— nada demais. Vamos aproveitar a oportunidade para nos conhecermos melhor e tentar um relacionamento de verdade.
— fala como se fosse fácil.
— nada é fácil quando se trata de nós dois.
— vai me deixar trancada no quarto? — franziu o cenho carrancuda.
— você não está presa e o apartamento é enorme.
— então posso ir embora quando quiser? — porra!
— claro que não — falei e ela bufou irritada — quero você comigo, será que estou falando grego?
— tenho que fazer sexo com você? — olhei no fundo dos seus olhos e tentei mostrar a verdade das minhas palavras.
— não vamos transar até que esteja segura e que seja sua vontade. É você quem terá de me procurar. A decisão é sua e vou respeitar qualquer que seja.
— então espera que aconteça? — queria negar mas a verdade é que estava louco para senti-la novamente.
— meu pau está dolorido e babando para estar dentro de você de novo. Não sabe o quanto me excita...
— quero usar o banheiro — interrompeu desviando o olhar. Estava triste, e não parecia tocada com a minha tentativa de excita-la. Apontei para porta e ela se foi. Sentei na cama e tentei montar alguma estratégia mas nada me ocorreu. Lúcia estava certa quando me disse que ela havia mudado. Tita não era mais a garotinha buscando minha proteção ou encantada com o que fazíamos na cama. Em minha frente tinha uma mulher que precisou crescer rápido demais e que criou uma espécie de armadura para se proteger. O pior é saber que fui um dos culpados por causar tanta dor e angústia. Fui até a porta e tentei ouvir qualquer coisa mas o único barulho que se escutava era o do chuveiro ligado. Levei minha mão à maçaneta, sabendo que estaria aberta, já que retirei as chaves mais cedo. Pisei em suas roupas porque o vapor nublava o ambiente. Mesmo assim a vi. Tita estava sentada no chão, com os joelhos contra o peito. Os ombros subiam e desciam em um choro silencioso. Não disse nada. Não tinha o que falar. As palavras ficaram presas entre o meu cérebro e a boca. Então fiz o que achei certo. Tirei meus sapatos e as meias e entrei de roupa, sem me importar que fossem ficar molhadas. Sentei ao seu lado e esperei. Seus cabelos cor de chocolate escondiam seu rosto e acariciavam meu braço. Ignorei seu corpo nu e a falta que sentia do calor de seus braços. A água caia sobre as suas costas e meu ombro, deixando tudo pior. Quando ela soltou um soluço agoniado não me contive e a puxei para meus braços. Fiquei surpreso quando apenas me deixou abraça-la.
— não chore... Não sei o que fazer quando começa a chorar. Prefiro quando grita e me atira coisas — ela parou de chorar e quase senti a vibração de um sorriso.
— ninguém se importa com o que eu quero. Todos tentam me encurralar de alguma maneira e isso acaba comigo. Será que você ou minha mãe não percebem o que estão fazendo? Sempre me atirando de um lado para o outro. Decidindo tudo e me sufocando no caminho — se afastou e não impedi — Você sabia que quase me viciei em remédios para dormir ano passado? Claro que não! Você não sabe nada sobre mim. Foi um sacrifício enorme deixar de usar antidepressivos para suportar a dor e o peso do que me fez  — apontou o dedo em direção do meu rosto — você estragou tudo colocando essas malditas drogas em meu organismo — Vitória não havia me falado nada a respeito. Aquela mulher tinha chegado no limite. E eu também.
— você irá ficar bem, garanto.
— é mesmo um cínico irremediável.
— quero apenas uma oportunidade pra mostrar que podemos dar certo.
— em algum momento pensou no que eu quero? Porque ouvi apenas você bater no peito gritando que era sua e que me quer de volta. Não sou um objeto. E definitivamente não quero voltar com você. Nunca iríamos dar certo se sempre começamos errado. Foi assim da primeira vez e está sendo assim agora. Preciso que aceite a minha decisão — não quis acreditar em suas palavras. Tita era teimosa e talvez acreditasse no que estava falando mas sabia que seria o único homem capaz de faze-la feliz. Pode parecer arrogância, certamente era.
— posso fazer valer a pena.
— a única coisa que quero é um relacionamento normal. Sem casamento por chantagem ou sequestros imprudentes e irresponsáveis. Quero conhecer alguém esbarrando com ele na calçada.Trocarmos telefone depois que me ajudar com a bolsa caida no chão. Sair pra jantar em um lugar ruim e rir da péssima escolha. Quero ser levada até a porta da minha casa e ser beijada como uma pequena amostra do que podemos sentir. Quero passar o dia ansiosa esperando que me ligue e correr para o telefone quando tocar. Ir ao cinema e andar de mãos dadas pelo parque. Quero o melhor. Quero o sonho de amor completo.
— não sou assim... nunca iria me contentar em sair e deixa-la em casa. Certamente a levaria para minha casa e nunca mais a deixaria sair da minha cama.
— não posso suportar a montanha russa que é estar ao seu lado. Tenho minha vida, meu trabalho e... — seu olhar mudou.
— é por causa daquele imbecil, não é? — ela não me respondeu mas estava claro que os dois tinham um caso. Quase soquei a parede ao pensar nos dois juntos.
— até onde vocês chegaram?
— o que?
— até onde vocês chegaram? — repeti a pergunta mesmo sem querer saber a resposta — transou com ele? Quero ouvir sua resposta.
— não é da sua conta — levantei antes que fizesse uma besteira mas antes de sair falei:
— uma pena que não tenha escolha a não ser esquece-lo. Serei o único que estará em sua vida de agora em diante, então é melhor se recompor. Como pode perceber no banheiro tem tudo de que precisa e suas roupas estão no closset. Por hoje deixarei que descanse mas a partir de amanhã iremos voltar a dormir juntos — sai antes que começasse outra briga. A merda estava feita e não tinha escolha a não ser lutar com as armas que tinha.

                   **********

Dizer que dormir é um eufemismo. Na verdade vaguei pelo apartamento até o dia amanhecer. Depois dos primeiros raios de sol surgirem fui correr pelo central parque até jogar um pouco dessa tensão fora. Quando voltei ao apartamento ouvi barulhos na cozinha e andei devagar sabendo que Tita estava vasculhando os armários em busca de comida. Parei e observei ela se mover com habilidade pelo ambiente. Linda com os cabelos soltos e uma das minhas camisas preferidas. Ela virou e fingiu não se importar comigo.
— o que está fazendo?
— você tem cozinheira? — continuou a mexer em uma vasilha e misturar ingredientes.
— quem sempre cozinhou foi a Lúcia.
— imaginei isso. Infelizmente ela não está e como não pretendo morrer de fome, irei preparar algo decente mas não pense que estamos de bem. Porque não estamos. Estou por aqui com você — fez um sinal de corte no pescoço para mostrar o limite de sua paciência.
— já sei disso. E como não sou capaz de ajuda-la a cozinhar deixarei por sua conta. Estou indo tomar banho.

          

                       ********

Ela havia preparado um delicioso café da manhã. E o melhor é que comeu tudo sem falar em dieta. Na verdade não conversamos muito e por alguns momentos a peguei me encarando.
— esse bolo está delicioso — falei cortando outro pedaço — do que é feito?
— leite, farinha, açúcar, manteiga, ovos — sorriu fingindo simpatia — e um ingrediente especial... — ela tentou me aterrorizar com a possibilidade de ter colocado algo que me fizesse mal mas ignorei sabendo que não tinha coragem de machucar ninguém. Mesmo que esse alguém fosse eu.
— então é uma receita secreta. Parabéns! Está muito bom e você sabe que não gosto de nada doce, principalmente durante a manhã — tirou o seu prato e depois o meu mesmo não tendo terminado.
— já comeu demais e deveria diminuir o açúcar. Não tem mais idade para excessos.
— está me chamando de velho?
— jovem é que não é — respirei fundo querendo mostrar quem era o velho. Paciência...
— vou passar o dia em casa, quer fazer alguma coisa? Talvez dar uma volta para conhecer a cidade.
— não tem medo que comece a gritar por ajuda? — claro que tinha mas não era minha intenção mante-la trancada o tempo todo. Pelo contrário, queria que ela se divertisse comigo. Ignorei sua pergunta e falei:
— tem um restaurante que conheci ano passado e na hora que entrei lembrei de você. Quer ir comigo?
— melhor que ficar aqui — continuou a arrumar a cozinha e resolvi ajudar mesmo sem saber direito o que fazia — ontem fiquei pensando sobre uma coisa.
— sobre o que?
— lembrei que me acusou de roubar documentos importantes do seu escritório. Você os encontrou? Do que se tratava? Quem tinha roubado?

LOUCA OBSESSÃO Livro 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora