Louca obsessão
Permanecemos deitados em um silêncio sepulcral. Apenas o barulho de nossas respirações vagarosas. O sol entrava pela janela e iluminava o seu corpo e precisei agarrar o lençol para não toca-lo. Jamie não avançou sobre mim como achei que aconteceria. Ele esperava a minha aprovação enquanto lutava para entender o que tinha feito. Como fui capaz de aceitar novamente um relacionamento, quando tentei de todas as formas ficar afastada? Porque ele exercia esse poder sobre mim? Em menos de dois dias e já o queria com tanta força. Busquei as respostas, mas o que encontrei foi seus olhos verdes, sagazes e que as vezes parecem tristes demais.
— oi... — ele pronunciou e enrolou uma mecha do meu cabelo que insistia em cair sobre o rosto.
— oi... você vem sempre aqui? — tentei fazer uma piada e ele sorriu de forma indulgente.
— Quase todas as noites, mesmo que não para o propósito que o local oferece.
— E o que o local oferece? — sussurrei tirando a mão que tocava meu cabelo e segurando-a perto do meu rosto.
— Paz e tranquilidade
— Pensei em algo mais simples, como dormir.
— Pra dormir precisa de paz e tranquilidade, coisas que não tinha até essa noite — era difícil resistir quando o Jamie se mostrava charmoso e atormentado. As mulheres geralmente gostam de homens atormentados para salvar e proteger. Instintos protetores! Era isso o que estava acontecendo? Será que me sentia impelida a cuidar do pobre garoto que viveu nas ruas e que parecia sofrer com todas as dores do mundo? Pena? Não pode ser... Ou será que pode? Me virei desviando dos seu olhar e foquei no teto — não posso faltar ao trabalho. Gostaria de me acompanhar? — ele notou a minha mudança e ao contrário do que costumava fazer não me pressionou.
— Quero conversar com você antes que vá trabalhar.
— Estou escutando — novamente tocou meus cabelos e desta vez afundou o rosto na curva do meu pescoço. Fechei os olhos e senti sua boca quente distribuindo pequenos beijos da orelha até o queixo.
— Não quero pular etapas, preciso que vá com calma. Cometemos muitos erros no passado que precisam ser evitados agora. Não me sufoque. Não exija demais de mim.
— Quer algo normal e posso dar isso a você. Não sei como fazer, mas sou bastante obstinado e aprendo rápido. — pousou a mão em meu seio e apertou de leve.
— Calma, pode ser? Não vamos deixar o tesão nublar nossa visão.
— Se vamos tentar, tem que me perdoar.
— Nunca me pediu perdão. Não de verdade.
— Estou sempre pedindo...
— Não! Você já me disse que deseja recomeçar, que precisamos esquecer o que aconteceu, que sente muito... não foi sua intenção me machucar mas nunca implorou por perdão. Nenhuma vez. Quero que faça. Exijo que me peça perdão — olhei para ele conhecendo o tamanho do seu orgulho e querendo vê-lo cair por terra.
— Tem razão, nunca implorei seu perdão. Na verdade nunca implorei a ninguém por coisa alguma — ele jamais baixaria a cabeça.
— Não consegue, não é? — virei para o outro lado com raiva.
— Olhe pra mim — obedeci, odiando por fazer tão rápido — perdão... me perdoe por entrar em sua vida de forma... Idiota e infantil. Perdão por acusa-la injustamente e ter usado palavras duras de se ouvir, principalmente de alguém em quem confiava. Perdão pela noite em que toda aquela desgraça aconteceu... Perdão pelo bebê, infelizmente não posso mudar o que fiz — engoli o choro preso na garganta e me forcei a ser forte.
— Ainda não estou pronta para perdoar. Talvez um dia mas com certeza, não hoje.
— Vou lutar por nós e se necessário pedirei perdão todos os dias.************
Não levantei da cama até o Jamie sair para trabalhar. Não trocamos nenhuma palavra e quando tentou me beijar virei o rosto. Ele não se deu por vencido e segurou a lateral do meu rosto beijando minha boca com força e frustração. A princípio não cedi mas ele foi persistente e quando menos esperei estava retribuindo. Com dificuldade nos afastamos e ele se foi.
Durante a tarde estava bastante impaciente e andava por todo o apartamento sem saber o que fazer. O local era enorme e tinha desde uma academia completa até uma piscina coberta. Era um triplex bem decorado, porém impessoal. Esse deve ter sido um dos motivos para Lúcia fugir, antes de enlouquecer. Testei os telefones e funcionavam perfeitamente. Pensei em ligar para alguém, mas quem? Minha mãe? De jeito nenhum! Beto... com certeza ficou preocupado por não termos saído para correr. Tentei lembrar o número do seu celular e não consegui. Meus contatos estavam em meu celular. Jamie! Não queria ligar pra ele. Comecei a procurar por minha bolsa no quarto. Abri as gavetas e fiquei apaixonada pela coleção de relógios que o Jamie tinha. Todos caríssimos e impressionantes. Peguei um e coloquei em meu pulso mas ficou folgado. Revirei outras e encontrei apenas gravatas, abotoaduras, meias e cuecas. Tudo muito bem dobrado e arrumado.Talvez estivesse no cofre. Não desisti e busquei em todos os lugares do quarto. Nada! Lembrei que esse não era o único quarto da casa e esperei que não estivessem trancados. Fui até o primeiro e era bastante feminino, talvez o quarto da Lúcia. Não queria invadir sua privacidade mas lembrei que ela tinha ajudado o Jamie com toda essa história e me senti menos desconfortável em mexer em suas coisas. O quarto era enorme e o closset estava vazio. Ao pé da cama um baú antigo de madeira com um cadeado. Aquilo me deixou curiosa mas não poderia quebrar o cadeado. Continuei a busca sobre o criado mudo e a única coisa que encontrei foi a chave do misterioso baú. Rodei-a por meus dedos decidindo se abriria ou não. Infelizmente não resisti e abri. Havia um vestido de noiva amarelado pelo tempo. Era lindo... coloquei sobre o meu corpo e fui para frente do espelho. Sempre imaginei me casando com um vestido especular, assim como esse. Quando fiquei noiva do Daniel escolhi um vestido simples sem brilho. Meu pai tinha falecido a pouco tempo e ainda estava de luto. Com o Jamie foi ainda mais sem graça... coloquei o vestido sobre a cama e peguei um álbum de fotografias e sentei no chão. As primeiras fotos eram com certeza Lúcia ainda na juventude, ao seu lado uma jovem de cabelos loiros e olhos verdes. Era uma das mulheres mais lindas que tinha visto. O sorriso era perfeito e a boca com lábios cheios. Parecia muito com o Jamie. Talvez fosse sua mãe. Passei mais uma e me apaixonei pelo bebê gordinho sorrindo para câmera. Outras do mesmo bebê em várias poses diferentes. As outras fotos eram da mesma loira estonteante com um homem que com certeza era o pai do Jamie. Os dois eram parecidos demais. Mesmo porte, o rosto anguloso e nariz aristocrático. A foto era espontânea e o homem parecia olhar para mulher com veneração enquanto ela sorria. Deveriam ser um casal feliz. Continuei a ver até encontrar um bilhete com papel gasto e uma letra bem desenhada.
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LOUCA OBSESSÃO Livro 2
RomanceSegundo livro da duologia Obsessão. Aproveitem para adicionar em suas bibliotecas. Em breve o prólogo será lançado.