Cheguei no carro e ele estava parado ao lado. Silveira já não estava e em silêncio abriu a porta do passageiro e depois entrou do lado do motorista.
— Não acho que está em condições de levar o carro. — falei vendo sua mandíbula quase quebrar.
— Estou bem! — sua voz saiu rouca e controlada. Depois de alguns minutos percebi que não era direção de casa. Continuei em silêncio e relaxei no banco. Não é como se tivesse medo do Jamie. Parou em frente a um restaurante e lembrei que não tínhamos almoçado. Sentamos em uma mesa um pouco mais reservada e fizemos os pedidos ao garçom.
— Está machucada? — apontou para onde tinha segurado e como não sentia nada, neguei.
— Não!
— Ele ainda te olha com interesse... amor e a porra toda e você perece não se importar. — apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos. — Explodi! Porra, aguentei até onde deu mas… vocês pareciam ter tanta cumplicidade. Um passado inteiro que não posso competir.
— Tem razão! Temos cumplicidade e um passado que, com certeza, não pode competir. — mastigou os lábios e pediu um uísque. — Não sei se está mentindo apenas para mim ou realmente acredita que foi por ciúmes, toda aquela cena.
— O que mais seria?
—Talvez o fato de estarmos falando sobre mulheres que sofrem com violência doméstica fez lembrar da sua mãe — não respondeu e não precisava. — Você carrega muitas culpas que não são suas.
— Não sabe do que está falando.
— Você se culpa pela morte da sua mãe. Se culpa por tudo que a Sophia passou, por Lúcia ter abdicado de uma vida pessoal para cuidar de vocês. Se culpa pensando que foi fraco na época em que aquele homem abusou de você e por ter fugido deixado para trás sua irmã e Lúcia. Jamie, você se martiriza por ter me chantageado e obrigado a me casar, depois por não ter acredito em minha palavra quando o Daniel armou aquela merda, sem falar nos abortos que sofri. Não vou nem falar na sua assistente embuchada por aí. — ele não me olhou e gritou por outro uísque. Virou tudo de uma vez e pediu ao garçom que trouxesse a garrafa.
— Sinto como um fracassado! Falhei com todo mundo que amei.
— Sinto muito dizer mas exceto pelo nosso primeiro casamento, nada estava em seu controle.
— Você nunca vai entender…
— Nenhum garoto de seis anos poderia evitar que um louco puxasse uma arma e mostrasse toda sua monstruosidade. Os eventos que se seguiram não foram causados por você. A culpa não foi sua.
— Poderia ter feito diferente. Escutado a Lúcia quando me alertou, não sei… não sei…
— Precisa buscar ajuda. Tem que aprender a se perdoar ou tornará nossas vidas impossíveis. — o garçom trouxe a garrafa. — pode levar de volta. Não é mais necessário. — o garçom olhou para o Jamie que concordou e logo se retirou. — Tem que dar uma chancepara sua irmã. Ela é tudo o que restou da sua família e uma vez me disse que tentou uma reaproximação. Tente novamente! Se não por você, então por mim.Jamie
Depois do que ocorreu no dia anterior na casa do Daniel resolvi me redimir. Tita tinha saído mais cedo para comprar algumas coisas com as amigas e disse que ficaria a tarde inteira fora. Fiz duas reservas no Paris6, um dos melhores restaurantes da cidade. Comprei flores e um livro que ouvi ela comentar outro dia que queria. Nada de joias! Tita odeia ganhar porque diz que sou exagerado e ela mesma quer comprar o que vai usar no corpo. Deixei instruções para que fossem colocas velas aromatizantes e pétalas derosas sobre a cama depois que saíssemos. Tudo seria perfeito para uma noite de amor e reconciliação. Esperei… Esperei… e esperei… Não queria ligar e parecer um perseguidor desesperado. Sabia que tudo estava bem porque Silveira tinha mandado uma mensagem avisando que ela estava no apartamento de Leandra. Por volta das oito e meia recebi sua mensagem informando que resolveram ter uma noite das garotas e sairiam um pouco para espairecer. Entrei em colapso e estava a ponto de sair para trazer minha mulher de volta para casa quando Vitória entrou em minha frente.
— Encontrei exatamente quem estava buscando.
— Estou saindo! — tentei passar por ela mas voltou a ficar em minha frente.
— Cinco minutos é tudo o que estou pedindo. — era melhor ceder por agora e tentar me acertar com ela. Sentei em um sofá e ela permaneceu em pé. — Tita merece mais do que isso… — apontou para mim. Não respondi mesmo com vontade de mandar minha sogra cuidar da vida na casa do caralho. — A forma como a tratou na casa da Vera foi o fim. Morri de vergonha e tenho certeza que minha filha também sente a mesma coisa.
— Foi um acesso de raiva…
— Sabe porque ajudei você a voltar com minha filha no início?
— Tenho certeza que vai me contar. — andou de um lado para o outro e lembrei que a Tita faz a mesma coisa quando está com raiva. Sentou e esfregou as mãos tentando se mostrar calma.
— Quando recebi alta da clínica descobri que minha filha não passava de uma carcaça bêbada e sem esperanças. — impossível não carregar a culpa — passava o dia dormindo e as noites eram baladas e mais baladas. E mesmo vivendo em festas não sorria de verdade. Era uma felicidade falsa e quando me olhava parecia vazia…
— Estava igual ou pior. — ela me olhou sem acreditar — Sem ela era como viver sem existir. Sofri muito também.
— Um dia ela chegou tão bêbada que mal conseguia ficar em pé. Quando me viu começou a chorar desesperada, implorando para que tirasse aquela dor do seu peito. — Vitória estava tão abalada como eu. — No dia em apareceu lá em Monte Alegre foi como ver minha filha renascer. Os olhos dela brilhavam como nunca antes.
— O que mudou para você ficar contra mim? — ela me olhou e sabia que não teria problema em dizer a verdade.
— Na época Tita estava muito envolvida com Beto e ele é um homem incapaz de amar outra mulher e mesmo que não fosse isso, ele é simplório e a enterraria em uma vida monótona. — foi duro lembrar que Tita estava nutrindo sentimentos por outro homem antes do meu retorno. — Quando percebi que ainda havia sentimentos entre vocês, imaginei que era a chance da minha filha viver de verdade. Era pra você mostrar o mundo a ela. Viajarem, curtirem a vida… Tita tem apenas vinte e seis anos e dez deles dedicados a cuidar do Nuno e de mim. Mas a quer apenas para você. Engravidou minha filha…
— Não foi algo planejado.
— Mentira! — gritou — lembro muito bem do seu olhar de satisfação enquanto contava. Foi mais uma conquista sobre minha filha. Uma imposição sua, como todas as outras. Acha que ela vai aguentar por quanto tempo?
— Do que está falando? — imaginei que Vitória tivesse descoberto sobre a gravidez da Anikka. Isso sim, seria o motivo mais que justo para a mulher me matar.
— Da maneira em que sufoca minha filha com seus ciúmes exagerados. — pelo menos não estava ciente da Anikka — Tenho certeza que estava prestes a sair atrás dela.
— Minha relação com a minha mulher não é da sua conta.
— A sua mulher, como a chama, é minha filha e tudo relacionado a ela me diz respeito.
— Tita é feliz…
— Outra mentira! Ninguém pode ser feliz passando os dias esperando que esteja ovulando para depois descobri que a tão sonhada gravidez não aconteceu. — ela tinha razão e por muitos meses vi a expectativa ser transformada em decepção deixando a Tita arrasada. O sexo também tinha mudado e quando era seu período fértil a única razão para gozar era para engravidar. Não existia prazer. Ela deitava, eu a penetrava e seus pensamentos ficavam focados no bebê e quando terminava levantava as pernas e rezava para que tivesse acontecido. — No final das contas foi você quem a enterrou em uma vida infeliz. E espero que não demore o dia em que minha filha acorde e descubra a vida de merda em que está levando.
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LOUCA OBSESSÃO Livro 2
RomanceSegundo livro da duologia Obsessão. Aproveitem para adicionar em suas bibliotecas. Em breve o prólogo será lançado.