Capítulo 06

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Tita

Bati na porta novamente querendo ser ouvida mas não havia sinal de ninguém. Estava decepcionada com Lúcia por me trair dessa maneira. Aceitei ela em minha casa para que no final das contas me aprontasse uma cachorradas dessas.
— abre essa porcaria — chutei a madeira e gemi com a dor em meu pé. Era inútil gritar por ajuda. Ninguém escutaria e pelo que percebi Jamie mantém todos os seus funcionários no cabresto.
— venha comer e pare de fazer escândalos, minha cabeça ainda dói — me voltei para voz e quis mata-lo. Burra! Idiota! Me repreendi por ser tão fácil me manipularem. 
— mande abrir essa porta ou juro que vou denuncia-lo por cárcere privado — gritei suando frio. Jamie sorriu de um jeito cínico mordendo o sanduíche deixado por Lúcia — vocês dois armaram tudo, não foi? Sabiam que não o deixaria bêbado e por isso me enganaram. Usaram da minha boa fé para isso — apontei para porta. Engoli a vontade de chorar e ergui minha cabeça afim de não mostrar fragilidade... ou medo.
— não me olhe como se estivesse preparada para guerra. Sou seu marido.
— foi meu marido. Não é mais nada, além de um estorvo em minha vida.
— estorvo? — seu tom de voz parecia magoado — É assim que me vê?
— não tente reverter os papéis e fingir estar ofendido. Sou a única que está sendo mantida como refém de um homem completamente sem escrúpulos e maluco com a ajuda de uma senhora com cara e conversa de vovozinha — falei alto querendo que Lúcia escutasse.
— nada disso seria necessário se não tivesse na cama com outro homem por dias — gritou levantando e me vi encolher quando se aproximou. Odiei me sentir vulnerável e pequena. Se ele se mostrasse violento não conseguiria me defender. O cheiro de uísque me deixou com mais medo porque mostrava que realmente havia bebido. Baixei a cabeça esperando ele avançar sobre mim e fiquei surpresa quando Jamie ficou em minha frente sem fazer nada. Afastei o medo e as lembranças ruins porque não era o momento para expor a minha fragilidade. Jamie levantou a mão em um movimento brusco e me encolhi novamente achando que iria acertar meu rosto. Ele grunhiu ao perceber o meu medo — acha que vou te bater — não era uma pergunta. Os dedos deslizaram por meus cabelos.
— você já mostrou que perde o controle com muita facilidade
— você é a única que me mantém são ao mesmo tempo que me leva a loucura.
— agora deu pra recitar filosofia barata? — me afastei e fui até onde a comida estava e bebi o suco rápido demais. Estava morrendo de fome e com os nervos aflorados e ficar sob tensão aumentava a minha ansiedade. Retirei os sapatos e joguei em um canto qualquer do quarto. Mordi o sanduíche quase gemendo pela delícia. Comi tão rápido quanto bebi o suco e mesmo assim ainda estava com fome.
—  pode terminar o meu se quiser — sorriu voltando a deitar do outro lado da cama.
— você é capaz de arruinar até mesmo minha dieta — mordi o sanduíche que ele havia deixado. A tensão de minutos atrás tinha evaporado e relaxei um pouco mais. Bebi o suco que não havia tocado e abri a boca cansada. Tinha tido um dia trabalhoso e com muitas horas atrás de um volante.
— desde quando você faz dieta?
— desde o dia em que percebi que minha bunda não entrava no jeans 42. Agora estou vestindo 38 sem nenhum problema — estava orgulhosa por ter conseguido emagrecer quase dez quilos. Devo isso a dona Vitória que praticamente me obrigou a parar de comer besteira. Sentia tanta falta de chocolate, macarrão, hambúrguer gigantes com muito queijo, bacon e mostarda.
— prefiro sua bunda 42. Ficava linda quando a curvava na cama implorando para ser comida com mais força... — engasguei tossindo e joguei um dos travesseiros em seu rosto.
— escroto idiota — bocejei cansada e não demorou muito para as minhas pálpebras pesarem.
— parece cansada — Jamie agarrou meu pé e tentei empurra-lo sem muito sucesso.
— o que vai fazer?
— massagem relaxante — ele sabia o que fazia. Baixei minha guarda por alguns minutos e apaguei.

                    ********
Era bom dormir mas os sonhos foram bastante estranhos. Quase reais, eu diria. Sonhei estar em um avião e de alguém pedir que me acalmasse porque estávamos chegando em casa. Estiquei os braços e abri devagar os olhos. Meu corpo estava estranhamente pesado como na época em que tomava os antidepressivos. Minha percepção também parecia lenta e precisei piscar várias vezes sem imaginar onde estava. O quarto era diferente do que dormi na casa do Jamie. Aliás, nem percebi o momento que apaguei. Provavelmente foi o cansaço.  Afastei o lençol e suspirei aliviada por ainda estar vestida, sinal de que ele não quis dar uma de espertinho e tirar as minhas roupas. Olhei ao redor percebendo o luxo daquela suíte. Era enorme e bem decorada.  Onde estava? Que lugar era aquele? Jamie abriu a porta do quarto e me assustei ao ve-lo vestido de terno e gravata. As bolsas ao redor dos olhos mostravam exaustão.
— que bom que acordou
— me trouxe para outro quarto?
— pode se dizer que sim.
— quanto tempo dormir? — levantei procurando minhas sandálias.
— o suficiente... — apontou para uma mesa posta e meu estômago roncou. Levantei e fiquei tonta voltando a me sentar. Ele tentou me ajudar mas o afastei — precisa comer — trouxe um prato com sopa.
— prefiro tomar café em minha casa — meus lábios estavam secos e senti uma cede excessiva — depois terei que conversar com a Lúcia sobre essa infantilidade sem tamanho.
— vai ser um pouco difícil... — o tom de voz rouco era quase sinistro.
— o que será difícil? — ele levou a comida até a mesa e depois voltou-se para mim. O olhar escuro e uma leve ruga formada entre as sobrancelhas denunciavam a preocupação. Passou a mão pelos cabelos deixando-os bagunçados.
— acho que ficamos casados tempo suficiente para saber que sou bastante objetivo. Não gosto de rodeios e muito menos de mentiras entre nós.  — abri minha boca para protestar mas ele levantou a mão pedindo que me calasse — precisa me ouvir antes de fazer um escândalo — concordei ainda confusa — preciso de você... — não desviei o olhar mesmo querendo evitar a força em que seus olhos verdes me fitavam. Preciso ser forte! Sou forte! — mas também sei que coloquei tudo a perder no passado... — colocou as mãos nos bolsos da calça e pareceu mais imponente que de costume — quero estar com você de novo mas antes preciso que me conheça de verdade — andou até o outro lado da cama e sentou de costas para mim — fiquei louco quando encontrei você nos braços daquele bastardo sem vergonha.
— eu não...
— não me interrompa.Esse momento não é fácil  — me calei e esperei que continuasse — estava ferido. Era a primeira vez que amava uma mulher e fiquei cego e burro.
— preferiu confiar nele do que em mim.
— coloque-se no meu lugar. Se fosse você a me encontrar beijando uma ex noiva. Uma noiva que fazia questão de gritar que amava. O que pensaria? — tentei entender sua reação.
— me acabaria de chorar — falei. — não choro. Eu fico puto e acabo com o causador da minha dor.
— você alcançou seu objetivo porque acabou comigo.
— Cristo! Como fui estúpido. Passei muito tempo imaginando o que aconteceria se estivesse feito diferente. Se não tivesse dado ouvidos aquele cretino...
— o passado não pode ser reescrito e o que aconteceu foi uma cadeia de fatalidades. Sabia que com você não tinha conversa. Sempre foi muito bruto e quando sente que está sendo ameaçado a sua primeira reação é atacar com toda força.
— precisei ser assim. Você não tem noção do que as pessoas podem fazer por ambição e poder. No trabalho...
— eu não era sua empresa. Era sua mulher. Sua esposa. Aquela que te esperava na porta ansiosa para passarmos um tempo juntos. A mesma que pediu para não ser machucada e que você prometeu nunca fazer.
— sabe que meu mundo era a empresa. Não tive nenhum outro relacionamento antes de você. Porra! Nem mesmo beijava as mulheres que dormia. Isso era só com você. Ninguém teve tanto de mim — limpei uma lágrima que teimava a cair e meu peito apertou com suas palavras — os anos que passei longe foi quase como a morte. Compreendo que meu jeito de amar é diferente do seu — sorriu sem vontade.
— o que quer dizer?
— você seguiu em frente. Está sempre rodeada de amigos e parece muito feliz — queria dizer que por trás da carcaça havia uma mulher sofrendo. Alguém que lutava todos os dias para se esconder. Não era completamente feliz. Sempre me faltava algo ou alguém. Jamie nunca iria saber que fui até o aeroporto e observei de longe ele me esperando. Jamais admitiria que chorei no banheiro quando vi ele embarcando e precisei de ajuda para voltar pra casa. Ou das muitas vezes que liguei para seu apartamento em Nova York de forma restrita para ouvir sua voz. Sim, sofri como nunca. Dormia chorando e acordava do mesmo jeito. E era durante a manhã que mais sofria porque queria abrir meus olhos e ve-lo ao meu lado. Queria esticar meu braço e sentir o calor do seu corpo. A voz rouca pelo sono e o bom dia acompanhado de um beijo.
— achou que ficaria puxando correntes por você? Não fiquei...
— não foi fácil para mim. Arrasto correntes até hoje.
— no seu caso, as correntes são por culpa — precisava desarma-lo antes que suas palavras me deixasse sem força.
— tem razão. A culpa machuca muito. E o pior é saber que quase me tornei o que sempre odiei.
— essa conversa não vai acrescentar em nada em nossas vidas. Vamos parar antes que as palavras nos machuque.
— quero você de volta. Eu te amo muito — falou e neguei com a cabeça.
— não comece com esse papo absurdo de amor. Estou cansada de ser machucada por quem diz me amar.
— é a verdade!
— a única verdade que conheci foi a de um homem egoísta e controlador capaz de fazer qualquer coisa para conseguir o que quer — me recostei sobre os travesseiros e fechei os olhos.
— pare de erguer um muro entre nós.
— tenho motivos para tentar me proteger, não acha?
— um dia terá que me perdoar.
— mas não será hoje — minha boca seca voltou a me incomodar bastante — pode me dar um pouco de água? — Jamie foi até a mesa e me serviu.
— beba devagar ou o estômago vai doer — advertiu. Bebi à água e parecia que tinha passado dias no deserto — coma um pouco da sopa — voltei a observar o quarto e aquele luxo não era característicos de nenhuma casa que conheci na cidade. As cortinas pesadas não deixavam o sol entrar e uma sensação estranha voltou a esmagar meu peito. Aceitei a sopa e gemi quando senti o gosto maravilhoso em minha boca. Jamie havia retirado o paletó e a gravata e jogado sobre a cama.
— tenho que ir para o bar, hoje vou receber as bebidas e preciso conferir tudo — expliquei comendo devagar. Quando terminei voltei a me sentir forte novamente. levantei e procurei por meus sapatos.
— não pode ir embora sem terminarmos nosso assunto.
— que assunto? Olhe Jamie, não sei o que fez voltar a me perturbar mas basta! O que tivemos acabou a muito tempo e agora a única coisa que desejo é refazer a minha vida.
— com o delegado viúvo? — rosnou com raiva em uma acusação sem fundamento.
— o nome dele é Beto.
— porra! Acha mesmo que irei permitir que volte para os braços de outro homem? — gritou andando de um lado para o outro — ainda é minha mulher...
— você não tem que permitir nada. Não sou mais sua esposa. Graças aos céus estamos devidamente divorciados.
— se tem algum sentimento por aquele bastardo, esqueça. E não me importo o que a porra de um papel diz, porque pra mim continua sendo minha mulher. Minha esposa.
— com você não tem diálogo. É um idiota completo — passei por ele e tentei abrir a porta do quarto mas novamente estava trancada. O pânico me invadiu e recostei minha testa na madeira fria — essa brincadeira não tem mais graça — ele não falou nada e me vi obrigada a me virar para encara-lo — abre a porta!
— vamos terminar nossa conversa — teria que escuta-lo se quisesse sair daquele quarto.
— tudo bem mas quando terminarmos quero que abra a porta. Preciso trabalhar — voltei a me sentar, desta vez em uma das poltronas e esperei. Jamie me encarou com um sorriso cínico.
— precisa baixar a guarda, minha querida.
— não me trate como se fosse uma estúpida. Fale de uma vez e me deixe cair fora daqui. Tenho uma vida pra cuidar.
— quero você de volta.
— oh, por favor... essa é a sua frase preferida agora? Já passamos por isso uma vez e não deu certo.
— pode pelo menos ouvir? E pare de me afastar. Estou tentando porra!
— pare você de xingar. E faça um favor aos meus ouvidos e abaixe o tom porque não sou surda. O que inferno quer de mim? Espera realmente que esqueça o que fez e me jogue em seus braços, não é? — idiota!
— você me amou e não faça essa cara.
— não te amei... — ele me secou com o olhar e mesmo assim não recuei — achei que amava é diferente. Agora entendo que buscava alguém que tomasse as decisões por mim. Naquele momento estava sobrecarregada com tantos problemas que me agarrei a você como um bote salva vidas. Era carência, solidão e muita baixa estima — estava sendo sincera — quando apareceu e começou a cuidar de tudo me senti livre e grata. Estava vulnerável e confundi tudo — ele abriu os primeiros botões da camisa e arregaçou o colarinho como se o sufocasse. Caminhou até onde estava sentada e se abaixou ficando na altura dos meus olhos. As mãos tocaram as minhas coxas e senti meu coração acelerar.
— será que também fingiu gozar como uma cadela no cio enquanto metia meu pau nessa sua bo.ceta apertada? — meus mamilos começaram a doer e minha boca secou. As mãos ainda passeavam por minha coxa e meu olhar foi direto para onde tocava. O cheiro dele também era bom e quase pirei com a vontade de enfiar meus dedos por seus cabelos e puxar com força — estou louco pra lamber você inteira.
— uiii, parece que continua o mesmo pervertido de sempre.
— deixe eu mostrar como somos bons juntos — a mão fechou sobre os meus seios e quase arqueei minhas costas para dar mais acesso ao seu toque — você me quer — ele falou e percebi sua arrogância. Aquilo mexeu com o meu orgulho e quis mostrar que sou dona do meu corpo. Mentirosa!
— ah, Jamie... nunca falei que o sexo era ruim — usei a minha voz mais sedutora. Abaixei minha cabeça e passei minha língua por seus lábios. Ele gemeu apertando meu seio com mais força. Suguei seu lábio inferior sentindo o quanto eram macios. Apertei seu pau duro fazendo-o grunhir e quando ele tentou me agarrar coloquei meu pé em seu peito e empurrei com força fazendo-o cair de bunda no chão.
— mesmo assim não vou querer repetir. Agora pode me dizer onde tudo isso vai chegar.
— oh, essa é a parte boa...
— que parte? — perguntei intrigada.
— a que você surta por descobrir que a trouxe para o meu apartamento em Nova York.
— filho da puta...

LOUCA OBSESSÃO Livro 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora