Existem irmãs muito parecidas. Daquelas de dividem guarda-roupa, segredos e travessuras. E existem aquelas tão diferentes que fica a dúvida de como puderam vir do mesmo útero. Prudência e Coralina eram do segundo tipo.
Prudência, a mais velha, ganhou o nome por uma galhofa de seus pais – não é sempre assim com quem tem nomes estranhos? Na hora parece muito legal e divertido, até que a criança chega na escola e tem que explicar por que raios se chama Facebookson. Ou Goku. Ou Jade Sofia.
Pois a ironia é que a menina nasceu justamente por ter faltado prudência a seus pais. Bem, naquela época as campanhas de saúde não eram tão frequentes. Hoje, o que menos faltava a Prudência era exatamente... prudência. Pru era aquela garota que sempre tinha um band-aid na bolsa, cursava Estatística, se alimentava a cada 3 horas, usava o Waze mesmo que soubesse o caminho de cor. Nunca saía da linha, fosse qual linha fosse. Exceto na baldeação da verde para a azul em Ana Rosa – aí não conta, certo?
Coralina, 3 anos mais nova, ganhou o apelido de Conquista de tanto correr atrás dos topzeras. Sextou, sabadou e domingou, lá estava ela pronta para soltar um #partiu no twitter. De todas as recomendações passadas por sua irmã, Coralina não seguiu uma sequer. Já traiu, já foi traída (mas não deu 50 reais ao casalzinho que estava atrapalhando). Já bebeu, já deu pt, já saiu carregada e já carregou. Se Ricky Martin dedicasse Livin La Vida Loca a alguém, seria a Conquista.
Conquista gostava de sonhos, daqueles bem doces (os reais e os figurados). Prudência ia à padaria comprar só pão mesmo, de preferência integral 127 grãos que é mais saudável.
Certo dia, procurando seus muffins de aveia, Pru viu um carinha lindo na seção de coisinhas saudáveis-orgânicas-veganas-semglúten-frangocombatatadoce.
Conquista e as outras irmãs (sim, a família era grande, não tinha TV e muito menos Netflix na época em que os pais casaram – aliás já mencionei que lhes faltava prudência, certo?) estavam causando no meio dos doces, e Prudência morreu de vergonha. Por que né, se não for pra causar elas nem saem de casa, era o que dizia sua irmã Lídia. Lídia era de leão e tinha 16. Anos e leggins coloridas para usar com salto alto plataforma.
Mas, apesar da vergonha alheia, Prudência chegou no rapaz bonito e disse:
- Oi! Você também curte alimentação saudável?
Ele levantou a cabeça e seus olhares se encontraram. Ele sorriu - um sorriso lindo e charmoso - e lhe respondeu:
- Não se eu puder evitar.
Prudência, sem saber onde enfiar a cara – seria o pão de milho fofo o suficiente para esconder a si e sua vergonha? Melhor voltar para a família: vergonha por vergonha, com aquela ela já estava acostumada.
Ao chegar perto das irmãs, viu Conquista fazendo mais uma... conquista. Um rapaz ruivo, belo como se tivesse saído de um clã escocês, do tipo que aparece de kilt em um clã de Outlander. Pru ficou alguns segundos pensando se ele não teria um kilt de verdade. Hipsters ruivos podem surpreender.
Sua irmã e o jovem estavam trocando telefones, sorrisos e esperanças. Para ela era tão fácil! A única vez que Prudência não foi prudente e decidiu ser espontânea não deu muito certo.
Na fila do caixa, o ruivo – chamado Bruno – chamou por um amigo. Coralina piscou para a irmã, aquele sinal clássico de esse-é-pra-você. Mas obviamente não era, pois o amigo, Danilo, era o mesmo cara que não curtia alimentação saudável. E que, Prudência pensou, também não curtia a ela.
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Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e Preconceito
FanfictionPrudência vivia tentando por juízo na cabeça de sua irmã, Coralina. Que, de tanto correr atrás dos topzeras, ganhou por alcunha Conquista. Prudência não gostava de apelidos. Conquista gostava de sonhos, daqueles bem doces (os reais e os figurados)...