Capítulo 27

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Prudência tomava o café da manhã do sábado preguiçosamente. Era o único dia em que ela tinha tempo de fazer a refeição como gostava: com frutas, pão integral, iogurte. Sentia-se bem. É claro que algo iria acontecer para atrapalhar. No caso, era Mary que vinha, sonolenta e ainda com a camiseta do Slayer que usava pra dormir:

- Oi Pru, bom dia... você viu a Lídia?

Prudência engoliu um gole de café quente demais.

- Como assim, se eu vi a Lídia?

- Ela não dormiu na cama dela ontem. Achei que ela tinha dormido no sofá, mas hoje eu vi que não. - a voz de Mary começou a soar assustada.

Pru pegou o celular e mandou uma mensagem para a irmã. O whatsapp mostrava que ela esteve online pela última vez no dia anterior, à tarde. Começou a se preocupar. Lídia não respondia, não atendia ligações.

Perguntou, então, à sua mãe, que respondeu que também não sabia onde estava Lídia, mas acrescentou que Pru não deveria se preocupar tanto, uma vez que a irmã já estava grávida mesmo. Esse comentário deixou um amargor no ar; Prudência poderia argumentar que aquele era um tipo de pensamento ridículo, machista, retrógrado, mas sabia que depois aguentaria as indiretas de sua genitora quanto às filhas não terem consideração com seus pobres nervos, e calou-se.

Eis que, no meio do desespero pragmático de Prudência e do desespero gótico sonolento de Mary, ouviram o barulho do portão sendo aberto. Era Lídia quem chegava. Ambas correram para a porta, aberta por uma Lídia sorridente.

- Onde você estava? Por que não respondia nossas mensagens?

Lídia sorriu, maliciosa.

- Estava com meu namorado.

- E desde quando você tem namorado? - questionou uma confusa Mary.

- Ué, o meu filho você acha que eu fiz como?

As palavras soavam como um pancadão para Pru.

- Lídia... espera... você estava com o pai do seu filho? Você estava com o William?

Lídia deu de ombros.

- Você não tem nada que se intrometer na minha vida, irmãzinha.

Se Bruce Banner tivesse uma irmã como Lídia ficaria em sua forma de Hulk eternamente.

- Você é a pessoa mais burra que eu já conheci em toda a minha vida. - sussurrou Pru.

Mary continuou discutindo com Lídia, tentando entender por que, após tudo o que tinha acontecido, a irmã tinha corrido atrás de William novamente. Não, nada daquilo fazia sentido. Prudência, contudo, tinha desistido. Aquele era um momento catártico, onde seu pragmatismo agiu para fazê-la entender que não, aquele grupo não tinha salvação. Não era ela que, por maior que fosse seu coração ou seus braços capazes de carregar o mundo, que faria aquela família tomar decisões melhores, ou fazer algum sentido. Não, eles eram o que eram. Lídia era quem ela era, e não mudaria.

Não, Pru não poderia entrar nessa. Deixou a irmã ir, lavou a louça de seu perfeito café da manhã agora arruinado, pegou seus materiais e começou uma extensa lista de exercícios da faculdade. Algo que fazia sentido, como a matemática, era exatamente o que ela precisava.

Sua mãe, é claro, não criticou Lídia, quando informada da razão de seu sumiço. Acreditava que a melhor coisa para a filha era mesmo estar com o pai de seu filho, por mais traste que fosse o espécime em questão. 

O dia transcorreu sem maiores acontecimentos após essa cena - Pru estava focada nos estudos, deliberadamente ignorando seus familiares (e todo o resto do mundo, inclusive Danilo, que sentia sobremaneira a falta dela em seus braços). Coralina estava trabalhando e Mary estava escrevendo poemas sombrios que não rimavam.

Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora