Prudência pensou em não contar para Danilo sobre a mensagem daquela estranha mulher. Sua decisão, contudo, durou apenas 4 horas. Ela não resistiu e enviou a ele um print da mensagem. No momento em que leu o texto Danilo se encheu de ódio, rancor e de muito, mas muito, arrependimento. Lembrou que falou mal da família de Pru e Coralina para seu amigo Bruno, que tinha dito que conviver com aquelas pessoas teria sido pior do que ônibus cheio, na chuva, com as janelas todas fechadas. Só que ele próprio agora convivia com elas! E de vontade própria!
Eis que, então, sua tia faz pior do que toda família de Pru já fez. Uma irmã bêbada cantando Guns and Roses não é nada perto de uma tia que manda mensagem para sua crush pedindo - ou melhor, mandando - que deixe de sê-lo. Desonra em último grau, diria o dragão Mushu. Tinha que pedir desculpas, consertar isso de alguma forma. Era muita vergonha junta. Sentir-se hipócrita tinha um gosto mais amargo do que o normal para ele.
Decidiu, então, conversar com sua tia... só que não queria fazer isso. Famílias são complicadas e parentes chão cheios de melindres. Pensou no barraco que poderia sair daquilo tudo, algo que ele sabia que Prudência detestava. Não queria correr o risco de que sua tia fizesse Pru mais triste do que já tinha feito. Se tinha alguém que ele queria que vivesse sempre alegre, sem qualquer nuvem para encobrir o sol que era seu sorriso, era Prudência.
Após cuidadosa ponderação ele optou por mandar uma mensagem à titia usando uma linguagem que lhe era muito cara. A do sarcasmo:
[17h10] Tia, como vai? Parece que, durante a sua festa de aniversário, alguém deve ter pego seu celular e o usado para enviar uma mensagem a uma pessoa que gosto muito, com o intuito de magoá-la. Sei que você nunca faria algo do tipo, pois me ama muito e jamais consentiria em qualquer coisa cujo resultado me traria uma mágoa tão grande - naturalmente você saberia que se tivesse sido mesmo você eu jamais olharia em seus olhos novamente. Até que esse mal entendido seja resolvido, estarei bloqueando seu número de meu telefone, apesar de saber que a pessoa envolvida já o bloqueou também.
Danilo sorriu. Tinha tirado da cartola uma saída honrosa para sua tia. Se ela lhe diria a verdade ou sustentaria uma mentira, não importava. O que valia agora era resolver seu karma com a família de sua querida Pru e seu melhor amigo. Ele tinha refletido tempo demais, motivado pela bobagem de sua tia, sobre aparências e pessoas que se preocupavam com elas.
Não era tão diferente, lá no fundo. Também tinha visto Pru numa luz não tão favorável, no início, provavelmente a mesma luz (ou falta dela) que motivou a mensagem grosseira de sua parenta. E pior do que isso, tinha atrapalhado seu melhor amigo. Bruno o ouvia, pedia seus conselhos.
Ele sabia que Bruno e Coralina se dariam bem; Coralina era dinâmica, divertida, de bem com a vida. Bruno era divertido, tão de bem com a vida quanto. Talvez não muito esperto, mas tinha um bom coração. Já ela era mais esperta, pelo bem do casal. Não tinha entendido o que houve para que parassem de se falar, mas sabia como fazer Bruno contar tudo e até mais um pouco. Ligou o Playstation para jogarem Rocket League juntos, porém separados: cada um na sua casa, os dois com headsets. Quando jogava, Bruno falava demais, e sobre tudo. Se dizem que a bebida entra e a verdade sai, com ele era a PSN logar para a verdade sair.
Pois então Danilo abriu o jogo e chamou Bruno, que tinha o costume de estar jogando naquele horário. Falaram de amenidades do tipo "você joga muito mal", "seu noob", "esqueceu como joga, animal?" e outras gentilezas com que os homens geralmente tratam seus melhores amigos. No momento propício, Danilo puxou a conversa:
- E aí filhão, você lembra da Coralina? - disse, tentando manter um tom de voz casual.
- Claro que lembro.
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Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e Preconceito
FanficPrudência vivia tentando por juízo na cabeça de sua irmã, Coralina. Que, de tanto correr atrás dos topzeras, ganhou por alcunha Conquista. Prudência não gostava de apelidos. Conquista gostava de sonhos, daqueles bem doces (os reais e os figurados)...