Capítulo 16

158 18 9
                                    

Todo dia, ao despertar, nos deparamos com um desafio novo. O abrir de olhos no amanhecer traz as escolhas, dúvidas, esperanças e sentimentos. Acordar depois de saber que sua irmã está grávida – alguém cujos grandes defeitos, na visão de Prudência, eram ter um gosto duvidoso para música, rolês, o universo e tudo o mais - era um senhor desafio.

No entanto, no pós amanhecer, aquele momento em que o sol já saiu, mas ainda está tentando romper a barreira das nuvens que, teimosas, preferem que ainda seja noite, Pru começou a juntar os pedaços de informação que recebeu na noite anterior.

Aquela não tinha sido uma noite de pensar, bem entendido. Foi uma noite de consolar, de abraçar, de ouvir o choro e tentar estancá-lo. Conhecia Lídia, e sabia que ela só conseguiria raciocinar – embora raciocinar não fosse assim o seu forte – se estive bem, tranquila e, principalmente, se Prudência já tivesse pronto um plano infalível à lá Cebolinha para que a irmã seguisse.

O cérebro de Pru começou a operar como um meme da Nazaré matemática. As informações que conseguiu colher eram as seguintes:

1. Lídia estava ficando com um rapaz que conheceu em uma balada

2. Ambos estavam bêbados demais para lembrarem que existem riscos inerentes ao contato humano nesse nível (Prudência tinha vontade de gritar "Mas vocês são ingênuos assim ou só burros mesmo?", mas ficou quieta).

3. Lídia, por algum motivo, se recusava a dizer o nome do rapaz.

A informação número três era a que mais preocupava Prudência. Tinha medo pois imaginava que ou ela conhecia o pai do filho que crescia no ventre da irmã ou Lídia tinha levado para a vida real o que lia em algumas fanfics na internet sobre donos de morro e patricinhas.

Bom, nada disso importava agora. Havia uma criança, um fardo pequeno só no tamanho, que certamente causaria um enorme rebuliço na casa. Prudência, então, acordou Lídia.

- Ahn, sai daqui Pru, me deixa dormir.

- O bebê não vai te deixar dormir – respondeu Pru, séria.

Contra fatos não há argumentos; Lídia levantou. Sob a orientação de Prudência, Lídia pegou seu cofrinho da Hello Kitty e retirou o pouco dinheiro que tinha ali. Foram as duas ao laboratório, fazer um exame de sangue para ter certeza. Quem sabe não tinha sido um falso positivo, um alarme falso? Quem sabe a vida não tinha sido benevolente com elas, permitido que tudo voltasse à normalidade.

Lídia tremia enquanto a enfermeira tentava furar seu braço. Tudo isso era assustador demais pra ela. Pensava nos rolês que perderia. Pensava na possibilidade de fazer faculdade – algo que ela não dava muita atenção – se esvaindo como cachaça derramada evaporando. Pensou em como não conseguiria rebolar no baile com a barriga. Ah, a barriga! A sua, negativa, se contorcia por dentro enquanto ela pensava como engordaria. Agora nunca seria musa fitness no instagram... a menos que soubesse usar photoshop, claro, porque às vezes nem as musas se parecem com elas mesmas. Mas isso ela não sabia mesmo, e aprender coisas nunca foi seu forte.

Prudência ficou em silêncio todo o tempo, inclusive durante a volta. O trajeto do ônibus parecia ainda mais lento do que o normal. E olha que o normal era ser bem lento mesmo, porque ele era feito para passar em mais pontos do que uma TV 4K tem de pixels.

O resultado saiu no dia seguinte, confirmando que a vida não estava lá muito afim de ser benevolente. Com o papel em mãos, Lídia procurou Prudência novamente, mas a segunda não estava de bom humor. Depois de tanto pensar e ajudar, Pru viu que não havia muita pílula a dourar (aliás, se houvesse pílula não teria acontecido o problema, pra começar).

Prudência simplesmente puxou a irmã pelas mãos até a cozinha, onde estava todo o resto da família – Mary no celular, jogando um joguinho qualquer, Coralina fazendo pão de queijo e a mãe delas criticando o que Conquista fazia.

- Com licença, pessoal, a Lídia tem algo a dizer – anunciou Prudência.

Lídia olhou para ela com uma mistura de medo e profundo ódio. As demais olharam Lídia esperando uma tour digna do LDRV.

Os olhos de Lídia esfregaram o chão. Os de suas irmãs pareciam gritar "ATENTA". Finalmente, após alguns segundos de constrangimento, ela disse:

- Terei um filho.

Sua mãe imediatamente gritou:

- E você contou primeiro para a Prudência? Eu sou a sua mãe!

Depois dessa pérola de sabedoria todas começaram a falar ao mesmo tempo, enquanto Pru apenas colocava sua mão sobre a testa, perplexa e cansada. Foi Mary quem parou a balbúrdia, ao estilo João Kléber.

- Para, para, para!

Funcionou.

- Lídia – continuou Mary – só me responda uma coisa... quem é o pai?

Lídia engasgou.

Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora