Capítulo 5

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Era domingo, e Charlote foi à casa de Prudência ouvir da amiga como tinha sido o encontro. Charlote estava muito curiosa, e torcia genuinamente por Pru. Pelo menos a companheira estava tendo alguma chance no amor: apesar de ter 27 anos, Charlote nunca teve um namorado. Fora vítima de vários rapazes que a faziam sentir-se honrada pelas migalhas de afeto que lhe davam, sem nunca assumi-la perante a sociedade. Era a ficante gorda que servia para o fim de noite após várias garrafas de cerveja, mas nunca a namorada para um passeio de mãos dadas no shopping.

Bateu palmas no portão, como fazia sempre. Quem apareceu à porta foi Mary.

Charlote gostava de Mary. A irmã imediatamente mais nova de Prudência compartilhava com Charlote a falta de sorte no amor. Mas a frustração que uma descontava na comida, a outra descontava em garrafas de vinho barato tomadas ao pé do anjo do túmulo mais antigo do cemitério onde se enterravam os restos mortais das famílias mais ricas da cidade.

- Oi Charlote – saudou Mary – você veio procurar a Prudência?

- Oi Dinha – Charlote era a única pessoa que poderia chamar Mary (nascida Maria Aparecida, conhecida por Cidinha até começar a ouvir Smiths e pintar os olhos com quantidades obscenas de sombra preta) sem levar uma garrafada de Sangue de Boi na cara – Vim sim minha linda. Queria saber as fofocas de ontem.

- Vou chamá-la. Pode ir entrando, você é de casa.

Mal Mary começou a destrancar o portão, apareceu das sombras daquele dia ensolarado uma criatura gorducha, vestida com uma camiseta do Bart Simpson.

- Com licença... - começou a falar o estranho

- Eu não atendo Testemunhas de Jeová, pode bater na próxima casa – respondeu Mary.

Educada como sempre, Charlote ignorou a ríspida resposta da irmã de sua amiga e perguntou ao moço se podia ajudá-lo.

- Eu sou o Cauã, amigo da Prudência.

Mary olhou para o rapaz por alguns segundos antes de responder:

- Ela não está.

- Desculpe – pigarreou Cauã – mas eu ouvi você responder a essa senhorita – sorriu para Charlote – que Prudência estava em casa.

Charlote gostou de ser chamada de senhorita. Não sabia o que tinha acontecido entre aquele garoto e sua amiga, mas parecia que ele era muito educado.

- Aqui não tem Prudência nenhuma – respondeu Mary - Aqui só tem trevas e solidão. Sai daqui antes que eu te ofereça em sacrifício aos deuses pagãos.

Assustado, Cauã deu um passo para trás. Não que ele soubesse bem quem eram os deuses pagãos a que Mary iria sacrificá-lo. Mais provável serem os deuses do Rock&Roll. De qualquer forma, covarde como era, não iria pagar para ver.

Mary bateu o portão com força, e passou o cadeado na corrente que o travava como se fosse fechar um bunker. Entrou em casa correndo, ignorando completamente a garota perplexa que tinha deixado na calçada.

Quem percebeu a existência de uma Charlote abobada em frente à casa de Prudência foi Cauã.

- Er... o que foi isso?

- A Mary é uma pessoa boa, ela só deve estar um pouco irritada hoje - contemporizou Charlote.

- Louca! Mulheres são todas loucas mesmo.

Charlote o olhou nos olhos, confusa.

- Menos você, você me parece não ser como as outras - corrigiu Cauã.

A garota fez um leve cumprimento com a cabeça e voltou para sua casa. Falaria com Prudência pelo zap mesmo. Pela reação de Mary, ficava óbvio que o encontro da amiga não fora bem.


Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora