Era domingo, e Charlote foi à casa de Prudência ouvir da amiga como tinha sido o encontro. Charlote estava muito curiosa, e torcia genuinamente por Pru. Pelo menos a companheira estava tendo alguma chance no amor: apesar de ter 27 anos, Charlote nunca teve um namorado. Fora vítima de vários rapazes que a faziam sentir-se honrada pelas migalhas de afeto que lhe davam, sem nunca assumi-la perante a sociedade. Era a ficante gorda que servia para o fim de noite após várias garrafas de cerveja, mas nunca a namorada para um passeio de mãos dadas no shopping.
Bateu palmas no portão, como fazia sempre. Quem apareceu à porta foi Mary.
Charlote gostava de Mary. A irmã imediatamente mais nova de Prudência compartilhava com Charlote a falta de sorte no amor. Mas a frustração que uma descontava na comida, a outra descontava em garrafas de vinho barato tomadas ao pé do anjo do túmulo mais antigo do cemitério onde se enterravam os restos mortais das famílias mais ricas da cidade.
- Oi Charlote – saudou Mary – você veio procurar a Prudência?
- Oi Dinha – Charlote era a única pessoa que poderia chamar Mary (nascida Maria Aparecida, conhecida por Cidinha até começar a ouvir Smiths e pintar os olhos com quantidades obscenas de sombra preta) sem levar uma garrafada de Sangue de Boi na cara – Vim sim minha linda. Queria saber as fofocas de ontem.
- Vou chamá-la. Pode ir entrando, você é de casa.
Mal Mary começou a destrancar o portão, apareceu das sombras daquele dia ensolarado uma criatura gorducha, vestida com uma camiseta do Bart Simpson.
- Com licença... - começou a falar o estranho
- Eu não atendo Testemunhas de Jeová, pode bater na próxima casa – respondeu Mary.
Educada como sempre, Charlote ignorou a ríspida resposta da irmã de sua amiga e perguntou ao moço se podia ajudá-lo.
- Eu sou o Cauã, amigo da Prudência.
Mary olhou para o rapaz por alguns segundos antes de responder:
- Ela não está.
- Desculpe – pigarreou Cauã – mas eu ouvi você responder a essa senhorita – sorriu para Charlote – que Prudência estava em casa.
Charlote gostou de ser chamada de senhorita. Não sabia o que tinha acontecido entre aquele garoto e sua amiga, mas parecia que ele era muito educado.
- Aqui não tem Prudência nenhuma – respondeu Mary - Aqui só tem trevas e solidão. Sai daqui antes que eu te ofereça em sacrifício aos deuses pagãos.
Assustado, Cauã deu um passo para trás. Não que ele soubesse bem quem eram os deuses pagãos a que Mary iria sacrificá-lo. Mais provável serem os deuses do Rock&Roll. De qualquer forma, covarde como era, não iria pagar para ver.
Mary bateu o portão com força, e passou o cadeado na corrente que o travava como se fosse fechar um bunker. Entrou em casa correndo, ignorando completamente a garota perplexa que tinha deixado na calçada.
Quem percebeu a existência de uma Charlote abobada em frente à casa de Prudência foi Cauã.
- Er... o que foi isso?
- A Mary é uma pessoa boa, ela só deve estar um pouco irritada hoje - contemporizou Charlote.
- Louca! Mulheres são todas loucas mesmo.
Charlote o olhou nos olhos, confusa.
- Menos você, você me parece não ser como as outras - corrigiu Cauã.
A garota fez um leve cumprimento com a cabeça e voltou para sua casa. Falaria com Prudência pelo zap mesmo. Pela reação de Mary, ficava óbvio que o encontro da amiga não fora bem.
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Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e Preconceito
FanficPrudência vivia tentando por juízo na cabeça de sua irmã, Coralina. Que, de tanto correr atrás dos topzeras, ganhou por alcunha Conquista. Prudência não gostava de apelidos. Conquista gostava de sonhos, daqueles bem doces (os reais e os figurados)...