Capítulo 25

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O encontro entre Danilo e Prudência foi marcado para a sexta-feira, entre risinhos e mensagens pensadas várias vezes antes de se apertar o enter. Uma simples linha pode conter muito mais do que apenas as palavras que nela constam quando se trata de duas pessoas que desejam se beijar mas não tem coragem de admitir - talvez nem para si mesmas. Ou, no caso de Pru e Danilo, pessoas que talvez gostariam de se beijar de novo. E uma terceira vez também, quem sabe.

Não era feriado, mas a data demorou a chegar como se fosse. Como é de conhecimento dos trabalhadores em geral, no dia anterior à sua folga a Terra decide rotacionar-se de forma a tornar as horas mais longas e o turno interminável. E aquela sexta era mais importante do que um feriado, do que uma folga, do que um domingo de sol. Era a chance de Danilo fazer tudo certo. Ele, porém, logo pensou que devia ter escolhido um sábado. Queria ter tempo de tomar um banho, arrumar os cabelos, passar perfume. Bem, não havia tempo para aquilo - apenas de repassar o desodorante e ouvir as gracinhas dos colegas de trabalho que o viram se perfumar e pentear o cabelo.

Enquanto isso, Prudência não teve tempo de pensar em beleza. O dia tinha sido cansativo e não fosse pelo interesse dela em entender o que havia entre sua pessoa e Danilo provavelmente teria adiado encontrá-lo. Queria perguntar exatamente qual é a dele. Agora, porém, era tarde demais para voltar atrás. Danilo tinha prometido buscá-la na saída da faculdade, já que ela tinha apenas a primeira aula naquele dia. Sair com alguém depois da segunda aula de uma sexta-feira, caindo de sono, balbuciando palavras desconexas enquanto pensava em sua cama quentinha (com direito a uma manta de lã e seu ursinho) era algo impensável. Pessoas que frequentavam baladas e barzinhos nesse horário... pessoas que frequentavam baladas e barzinhos, enfim... Prudência não as compreendia. Os indivíduos ao seu redor não apreciavam uma boa soneca como ela.

Seu coração batia apressado, os olhos fixos no farol de pedestres em frente ao prédio da universidade. Cada leva de automóveis a passar trazia consigo a possibilidade de ter o veículo que pertencia a Danilo. Preocupações corriqueiras como o local em que ele poderia parar para que ela embarcasse se misturavam às do coração. O que falaria ao entrar no carro? Será que ele viria mesmo? Quanto tempo teria de esperar?

A resposta para a última questão foi respondida imediatamente; o rapaz tinha chegado.

Ele deu seta para estacionar, parou e abriu o vidro.  Prudência entrou, pôs o cinto e então disse oi. Danilo ficou pensando se deveria ter levantado e aberto a porta para ela. Teria sido gentil. Menos dez pontos para a Grifinória. Apenas, então, respondeu ao "oi" dela.

- Jantar e cinema? - perguntou ele, ansioso.

- Sim, foi o combinado - Pru respondeu, sorrindo com os olhos.

- Se você quiser fazer outra coisa, não tem problema, é só falar. - Um segundo depois de ter dito a frase Danilo se sentiu mal pelo duplo sentido que aquilo poderia ter. Prudência deu uma risadinha.

- Não. Está ótimo.

Ele parou de olhar o trânsito por um momento para ver o sorriso dela se abrir... momento em que lamentou estar dirigindo. Num uber, poderia ficar o trajeto todo olhando pra ela, devorando a energia que emanava de seu olhar e que o abasteceria pelos próximos dias que ficaria sem vê-la. Esperava que fossem poucos; isso significaria que haveria um segundo encontro. Que ela iria querer vê-lo de novo. Que ele não tinha estragado tudo outra vez.

Danilo levou-a a uma cantina italiana. Um lugar bonito e convidativo onde os clientes sorriam, os garçons eram senhores barrigudos de calça social e o perfume de Prudência se misturava ao do manjericão e do molho de tomate. Um cheiro de alegrias e possibilidades.

Sentiu-se feliz pela escolha do lugar ao observar o rosto dela se iluminar. Podia ser apenas fome, mas era um sinal de que ela estava feliz e confortável. E, se fosse fome, ele alimentaria não apenas seu estômago, mas também o vazio de seu coração.

Prudência começou a mordiscar os pãezinhos do couvert que o garçom prontamente trouxe logo que se sentaram. Danilo propôs vinho, mas ela não quis. Ele deixou que ela escolhesse o prato, e tão logo o garçom se retirou um pequeno silêncio tomou conta da mesa. Era preciso que um deles começasse a falar. Esse papel coube a Danilo.

- Estou feliz que pudemos sair hoje.

O sorriso de Prudência concordou.

- Esse lugar é incrível. Obrigada por ter me trazido.

- Você merece. Nós precisávamos ter um encontro de verdade... não que estar na chuva com você não tenha sido maravilhoso.

Os lábios dela chegaram a coçar, e ela fez força para ficar séria.

- Danilo, eu... - Ela hesitou por um instante - eu queria te perguntar uma coisa. É uma coisa que tem me perturbado um pouco.

O rapaz gelou. Ela continuou:

- Você disse que gostava de mim... e, bem, teve aquele beijo. Mas eu ainda não entendo.

- O que você não entende?

- Danilo você me acha feia e não suporta a minha família e...

Ele a interrompeu.

- Desculpa, mas QUÊ??

Pru olhou para suas próprias mãos.

- Eu ouvi você dizer isso. Sobre a minha aparência.

Danilo ficou confuso até lembrar quando teria dito algo sobre Prudência não ser bonita. O celular. Aquele maldito celular, aquele dia com Bruno. 

- Prudência, eu acho você maravilhosa. - falou com a voz firme.

A garota permaneceu em silêncio. Ele segurou as mãos dela.

- É verdade. Eu posso ter falado coisas das quais me arrependo. Posso ter tentado disfarçar o que sentia por você. A verdade é que quanto mais conheço você mais gosto do que vejo. Eu não vou dizer que você é linda porque quero que seu ego seja massageado. Eu digo que você é linda porque é como eu vejo você. Por dentro e por fora.

Prudência sorriu como a Monalisa. Ele sorriu um sorriso aberto, grandioso. Soltou as mãos dela por um momento e retomou, num tom sério:

- Eu peço desculpas por tudo que falei insinuei sobre sua família. Não foi gentil. Sei que são importantes para você. Eu sou uma criatura estranha... no final, eu tive medo dos sentimentos que desenvolvi por você. Fiquei assustado com o quanto seu rosto passou a aparecer na minha mente.

A chegada do garçom interrompeu o fluxo de sentimentos. O senhor trouxe um lindo prato de parmegiana de carne, o molho fumegante sobre o queijo. Ele encheu o prato de Prudência com arroz e batatas fritas usando a técnica milenar dos garçons dos restaurantes em que se sai rolando de tanto comer, e que envolve pegar o arroz com duas colherinhas.

Quando deu a primeira garfada uma explosão de sabor e cremosidade preencheu suas papilas. Nesse exato momento olhou para Danilo, e seu coração ficou bem quentinho. Foi um momento mágico, embora aquilo não fosse feitiçaria (nem tecnologia). Era o momento em que se percebe que tudo está bem, tudo está nos eixos e nos sentimos queridos e confortáveis. Era, em suma, um momento em que tudo parecia valer a pena.

Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora