O andamento do processo de Lídia não foi acompanhado por Prudência. Não por desinteresse, embora houvesse um pouco. Mas porque Geórgia, a irmã de Danilo, teve uma amizade quase instantânea com Lídia, e as duas se uniram como Batman e Robin para tomar as providências cabíveis contra aquele detestável Coringa. Nada como o ódio em comum para unir duas pessoas.
Era uma manhã bem comum para Prudência, depois de tantos dias conflituosos. Tomou seu café, comeu seu pãozinho amanhecido com geleia e sua meia maçã cortada. Vestiu sua camiseta favorita do homem-aranha e saiu.
O tempo estava nublado, cinza escuro. Vinha chuva por aí. Talvez a camiseta do homem-aranha não tinha dado sorte como de costume.
O ponto de ônibus estava vazio, o que dá no mesmo que alguém gritar "Oi, você perdeu seu ônibus hahaha!". Ao que parece o destino estava com vontade de trolar mesmo, pois as gotículas de garoa começaram a se sentir solitárias e se agrupar em gotinhas amiguinhas, depois em gotas maiorzinhas, depois em um dilúvio.
Prudência, que não tinha o costume de falar palavrão, soltou um substantivo agressivo enquanto sentava-se nos banquinhos de lata do ponto. Bem no banquinho do meio, onde o vento não faria a chuva invadir a cobertura da parada de ônibus. Já imaginava como seria passar o dia com aquele tormento urbano chamado tênis e meia molhados.
Lá na esquina, onde deveria vir um ônibus, veio um rapaz correndo. Prudência segurou a bolsa com mais força e caprichou na cara de enfezada. Para estar correndo na rua com aquela chuva devia ser nóia, pensou.
A criatura molhada correu em direção a ela, para se abrigar no ponto de ônibus. A garota estremeceu... aquela sensação que todo mundo tem quando vê dois caras numa moto.
O calafrio, porém, transformou-se em perplexidade. Era Danilo quem entrava, todo molhado, na cobertura do ponto de ônibus. Prudência desapertou a bolsa e apertou os olhos para ter certeza do que estava vendo. Até levantou do banquinho.
Confirmado. Um Danilo todo molhado adentrava o recinto.
- O que você está fazendo na rua nessa chuva?
Danilo olhava para baixo, envergonhado. Tirou o celular do bolso.
- Tinha um unown aqui. - sua voz saiu ínfima, apenas um fiapo.
- Quê?
- Um Pokemón raro.
- Você saiu de casa na chuva por causa de um Pokemón?
- Era um unown - Danilo parecia sem graça. Como explicar o quanto um unown era raro? Melhor não tentar. - E não estava chovendo quando eu saí de casa.
Pru conferiu a esquina. Nada do ônibus passar. Voltou o olhar para o rapaz ao seu lado.
- Danilo, você está encharcado. - Às vezes o óbvio precisa ser dito.
- Eu sei. - O rapaz tinha noção de que sua camiseta branca (que ele usava para dormir, e não trocou devido à pressa de pegar o unown) estava praticamente transparente e extremamente colada. Sentia o olhar de Prudência sobre si. Sua auto-estima e sua timidez duelavam.
Prudência sendo Prudência, disse:
- Você vai ficar com gripe se ficar aqui com essa camiseta toda molhada.
Danilo olhou para ela. Suspirou e concordou. E então tirou a camisa.
Pru engasgou com ar. Tinha gosto de fumaça, chuva e desodorante masculino.
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Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e Preconceito
FanfictionPrudência vivia tentando por juízo na cabeça de sua irmã, Coralina. Que, de tanto correr atrás dos topzeras, ganhou por alcunha Conquista. Prudência não gostava de apelidos. Conquista gostava de sonhos, daqueles bem doces (os reais e os figurados)...