Capítulo 21

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O andamento do processo de Lídia não foi acompanhado por Prudência. Não por desinteresse, embora houvesse um pouco. Mas porque Geórgia, a irmã de Danilo, teve uma amizade quase instantânea com Lídia, e as duas se uniram como Batman e Robin para tomar as providências cabíveis contra aquele detestável Coringa. Nada como o ódio em comum para unir duas pessoas.

Era uma manhã bem comum para Prudência, depois de tantos dias conflituosos. Tomou seu café, comeu seu pãozinho amanhecido com geleia e sua meia maçã cortada. Vestiu sua camiseta favorita do homem-aranha e saiu.

O tempo estava nublado, cinza escuro. Vinha chuva por aí. Talvez a camiseta do homem-aranha não tinha dado sorte como de costume.

O ponto de ônibus estava vazio, o que dá no mesmo que alguém gritar "Oi, você perdeu seu ônibus hahaha!". Ao que parece o destino estava com vontade de trolar mesmo, pois as gotículas de garoa começaram a se sentir solitárias e se agrupar em gotinhas amiguinhas, depois em gotas maiorzinhas, depois em um dilúvio.

Prudência, que não tinha o costume de falar palavrão, soltou um substantivo agressivo enquanto sentava-se nos banquinhos de lata do ponto. Bem no banquinho do meio, onde o vento não faria a chuva invadir a cobertura da parada de ônibus. Já imaginava como seria passar o dia com aquele tormento urbano chamado tênis e meia molhados.

Lá na esquina, onde deveria vir um ônibus, veio um rapaz correndo. Prudência segurou a bolsa com mais força e caprichou na cara de enfezada. Para estar correndo na rua com aquela chuva devia ser nóia, pensou. 

A criatura molhada correu em direção a ela, para se abrigar no ponto de ônibus. A garota estremeceu... aquela sensação que todo mundo tem quando vê dois caras numa moto.

O calafrio, porém, transformou-se em perplexidade. Era Danilo quem entrava, todo molhado, na cobertura do ponto de ônibus. Prudência desapertou a bolsa e apertou os olhos para ter certeza do que estava vendo. Até levantou do banquinho.

Confirmado. Um Danilo todo molhado adentrava o recinto.

- O que você está fazendo na rua nessa chuva?

Danilo olhava para baixo, envergonhado. Tirou o celular do bolso.

- Tinha um unown aqui. - sua voz saiu ínfima, apenas um fiapo.

- Quê?

- Um Pokemón raro.

- Você saiu de casa na chuva por causa de um Pokemón?

- Era um unown - Danilo parecia sem graça. Como explicar o quanto um unown era raro? Melhor não tentar. - E não estava chovendo quando eu saí de casa.

Pru conferiu a esquina. Nada do ônibus passar. Voltou o olhar para o rapaz ao seu lado.

- Danilo, você está encharcado. - Às vezes o óbvio precisa ser dito.

- Eu sei. - O rapaz tinha noção de que sua camiseta branca (que ele usava para dormir, e não trocou devido à pressa de pegar o unown) estava praticamente transparente e extremamente colada. Sentia o olhar de Prudência sobre si. Sua auto-estima e sua timidez duelavam.

Prudência sendo Prudência, disse:

- Você vai ficar com gripe se ficar aqui com essa camiseta toda molhada.

Danilo olhou para ela. Suspirou e concordou. E então tirou a camisa.

Pru engasgou com ar. Tinha gosto de fumaça, chuva e desodorante masculino.

Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora