Coralina e Bruno se gostaram como num pagode dos anos 90, mas não se deixaram levar pela paixão tão rapidamente. Era preciso tempo para relaxar, ver que era amor e não cilada. Conquistar sempre foi mais fácil do que confiar.
Conversavam coisas comuns pelo whatsapp. Oi, bom dia, olha esse vídeo que engraçado. E todos os dias, pontualmente às 18h30, compravam pão na padaria. A irmã Prudência, por outro lado, achou isso ótimo. Voltar à padaria lhe parecia tenebroso.
Enquanto pedia oito pães em uma quarta-feira comum, Conquista sentiu uma mão lhe cutucar as costas.
- Oi linda, tudo bem? – Bruno a cumprimentou com um beijo no rosto.
- Oi, você vem sempre aqui? Soube que o pão é ótimo! -respondeu, e ambos riram como se tivessem dito algo muito engraçado. Nada como um pouco de amor para temperar uma piada.
Alguém tossiu, de leve. Apenas o suficiente para que os dois pombinhos percebessem que havia uma terceira pessoa.
- Ah! - recordou Bruno – Coralina, lembra do meu amigo Danilo?
Conquista fez que sim, já o conhecia daquela outra vez, quando veio à padaria com a família. Danilo sentia que estava sendo vela naquele caso, mas não tinha coisa melhor a fazer naquele momento. Se é para ser vela, que seja. Já conhecia Bruno tempo suficiente para saber os sinais que o amigo faria quando quisesse que ele sumisse – e ele nunca sumia, porque achava divertido ser particularmente irritante em alguns momentos. Era como a versão pessoal deles da mania masculina de demonstrar afeto xingando o amigo das mais variadas formas possíveis, de preferência duvidando o máximo possível de sua heterossexualidade bem como da fidelidade de suas mães.
Os três se engajaram em uma conversa frívola que tratou de temas diversos como o clima, os doces feitos pelo padeiro e a não aceitação de vale-refeição para aquisição dos produtos vendidos ali. Querendo ser educado e mudar um pouco o assunto, Bruno perguntou como estava a irmã de Conquista.
- Prudência está bem, passou a tarde na biblioteca da faculdade hoje. Está estudando mais do que o normal ultimamente porque não foi bem na última prova de cálculo. Ela cursa estatística.
Danilo franziu o nariz.
- O Danilo não gosta de exatas – explicou Bruno. - É estudante de letras.
Houve um silêncio levemente constrangedor entre o trio.
- Bruno, você segura minha bolsa por um instante? - Pediu Coralina – preciso ir ao banheiro.
O rapaz assentiu.
- Rápido, pega o celular dela – disse Danilo, ao ver que a garota já estava entrando no sanitário.
- O quê? Você está louco?
- Como você vai saber se ela não tem um namorado?
- Eu sei que ela não tem! Já a adicionei no facebook!
- E o whatsapp? E se ela tiver tinder? É a sua oportunidade de ouro, amigo.
Confuso e pressionado, Bruno assentiu e abriu a bolsa, torcendo para que o celular não estivesse lá. Ela não seria tão distraída a ponto de pedir para seu paquera segurar sua bolsa com algo tão precioso dentro e... ela foi distraída sim. Lá estava o aparelho, entre uma necessaire com vários itens de maquiagem, um bolo de papéis com uma quantidade pouco usual de folhetos dos mais variados estabelecimentos comerciais e vários cupons do Burguer King.
O rapaz pegou delicadamente o celular pelas orelhas da gigantesca capinha de ursinho colocada nele.
- Viu, seu burro? Tem senha! Óbvio que tem senha – reclamou Bruno.
O aparelho começou a vibrar.
- Tão ligando para ela, Danilo! - o nome Prudência apareceu na tela.
- Põe de volta na bolsa, anda.
Atrapalhado, Bruno colocou o celular de volta na bolsa. Os dois rapazes riram do susto.
- Que falta de sorte, a irmã dela ligar bem na hora – disse Bruno.
- Sim, sem dúvida... qual delas era?
- Era a Prudência, a que faz estatística.
- Eu sei quem é. Estava na padaria outro dia, com o resto daquela família barulhenta – Danilo fez uma careta.
- Ela é da sua idade... O que achou dela? Eu podia agitar um encontro entre vocês – Bruno deu uma piscadinha.
- Não inventa, Bruno.
- É sério... faz muito tempo desde a última vez em que te vi com alguém... você não a achou bonita?
- Não o suficiente para me tentar.
Ao notar que Conquista tinha saído do banheiro, os dois amigos calaram-se. Mas não perceberam que, na bolsa, o celular ainda trazia na tela a ligação de Prudência. Atendida, porém, e já durando alguns minutos. Segundos após a frase de Danilo, contudo, a chamada foi encerrada.
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Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e Preconceito
Fiksi PenggemarPrudência vivia tentando por juízo na cabeça de sua irmã, Coralina. Que, de tanto correr atrás dos topzeras, ganhou por alcunha Conquista. Prudência não gostava de apelidos. Conquista gostava de sonhos, daqueles bem doces (os reais e os figurados)...