Capítulo 2

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Coralina e Bruno se gostaram como num pagode dos anos 90, mas não se deixaram levar pela paixão tão rapidamente. Era preciso tempo para relaxar, ver que era amor e não cilada. Conquistar sempre foi mais fácil do que confiar.

Conversavam coisas comuns pelo whatsapp. Oi, bom dia, olha esse vídeo que engraçado. E todos os dias, pontualmente às 18h30, compravam pão na padaria. A irmã Prudência, por outro lado, achou isso ótimo. Voltar à padaria lhe parecia tenebroso.

Enquanto pedia oito pães em uma quarta-feira comum, Conquista sentiu uma mão lhe cutucar as costas.

- Oi linda, tudo bem? – Bruno a cumprimentou com um beijo no rosto.

- Oi, você vem sempre aqui? Soube que o pão é ótimo! -respondeu, e ambos riram como se tivessem dito algo muito engraçado. Nada como um pouco de amor para temperar uma piada.

Alguém tossiu, de leve. Apenas o suficiente para que os dois pombinhos percebessem que havia uma terceira pessoa.

- Ah! - recordou Bruno – Coralina, lembra do meu amigo Danilo?

Conquista fez que sim, já o conhecia daquela outra vez, quando veio à padaria com a família. Danilo sentia que estava sendo vela naquele caso, mas não tinha coisa melhor a fazer naquele momento. Se é para ser vela, que seja. Já conhecia Bruno tempo suficiente para saber os sinais que o amigo faria quando quisesse que ele sumisse – e ele nunca sumia, porque achava divertido ser particularmente irritante em alguns momentos. Era como a versão pessoal deles da mania masculina de demonstrar afeto xingando o amigo das mais variadas formas possíveis, de preferência duvidando o máximo possível de sua heterossexualidade bem como da fidelidade de suas mães.

Os três se engajaram em uma conversa frívola que tratou de temas diversos como o clima, os doces feitos pelo padeiro e a não aceitação de vale-refeição para aquisição dos produtos vendidos ali. Querendo ser educado e mudar um pouco o assunto, Bruno perguntou como estava a irmã de Conquista.

- Prudência está bem, passou a tarde na biblioteca da faculdade hoje. Está estudando mais do que o normal ultimamente porque não foi bem na última prova de cálculo. Ela cursa estatística.

Danilo franziu o nariz.

- O Danilo não gosta de exatas – explicou Bruno. - É estudante de letras.

Houve um silêncio levemente constrangedor entre o trio.

- Bruno, você segura minha bolsa por um instante? - Pediu Coralina – preciso ir ao banheiro.

O rapaz assentiu.

- Rápido, pega o celular dela – disse Danilo, ao ver que a garota já estava entrando no sanitário.

- O quê? Você está louco?

- Como você vai saber se ela não tem um namorado?

- Eu sei que ela não tem! Já a adicionei no facebook!

- E o whatsapp? E se ela tiver tinder? É a sua oportunidade de ouro, amigo.

Confuso e pressionado, Bruno assentiu e abriu a bolsa, torcendo para que o celular não estivesse lá. Ela não seria tão distraída a ponto de pedir para seu paquera segurar sua bolsa com algo tão precioso dentro e... ela foi distraída sim. Lá estava o aparelho, entre uma necessaire com vários itens de maquiagem, um bolo de papéis com uma quantidade pouco usual de folhetos dos mais variados estabelecimentos comerciais e vários cupons do Burguer King.

O rapaz pegou delicadamente o celular pelas orelhas da gigantesca capinha de ursinho colocada nele.

- Viu, seu burro? Tem senha! Óbvio que tem senha – reclamou Bruno.

O aparelho começou a vibrar.

- Tão ligando para ela, Danilo! - o nome Prudência apareceu na tela.

- Põe de volta na bolsa, anda.

Atrapalhado, Bruno colocou o celular de volta na bolsa. Os dois rapazes riram do susto.

- Que falta de sorte, a irmã dela ligar bem na hora – disse Bruno.

- Sim, sem dúvida... qual delas era?

- Era a Prudência, a que faz estatística.

- Eu sei quem é. Estava na padaria outro dia, com o resto daquela família barulhenta – Danilo fez uma careta.

- Ela é da sua idade... O que achou dela? Eu podia agitar um encontro entre vocês – Bruno deu uma piscadinha.

- Não inventa, Bruno.

- É sério... faz muito tempo desde a última vez em que te vi com alguém... você não a achou bonita?

- Não o suficiente para me tentar.

Ao notar que Conquista tinha saído do banheiro, os dois amigos calaram-se. Mas não perceberam que, na bolsa, o celular ainda trazia na tela a ligação de Prudência. Atendida, porém, e já durando alguns minutos. Segundos após a frase de Danilo, contudo, a chamada foi encerrada.

Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora