Prudência sentiu forte a tristeza da amizade perdida; Charlote não queria ouvi-la e tampouco aceitaria conselhos. Há erros que temos que cometer por nós mesmos, pensou - não se sabe se nela ou em Charlote, porque Prudência tinha acabado de errar, em certa medida: a garota aceitou o convite de William para sair.
Marcaram de jantar e ir ao cinema depois. A expectativa de Prudência era comer um lanche no shopping, quem sabe rir um pouco, ver um filme e ir para casa dormir cedo. A expectativa de William era de que Prudência só voltasse para casa no dia seguinte.
William insistiu que fossem em um shopping mais distante da casa da moça, o que serviria melhor a seus propósitos. No local marcado, viu que Pru já havia chegado.
Cumprimentou-a com um abraço, demorando-se um pouco mais do que o habitual para que ela pudesse sentir seu perfume. Passou três borrifadas, queria que ela lembrasse.
- Que bom te ver, linda – elogiou ele – estou muito feliz porque pudemos sair.
Prudência sentiu-se sem graça. Deveria estar se divertindo, aproveitando o momento com um rapaz atraente. Contudo, em alguns momentos sentia-se melancólica. A imagem do rosto de Danilo tão perto do dela após trazer sua irmã da festa passou, veloz, pela sua mente. Espantou o pensamento.
- Então William, qual o plano? - perguntou Prudência.
- Vamos jantar naquele restaurante ali e depois podemos pegar um cinema, o que acha? - Pru pôde ler no rosto do rapaz que havia algo mais.
- Qual filme você gostaria de ver?
- Não sei, escolhemos na hora.
- Mas não seria interessante comprarmos o ingresso antes?
- Não! Erhm... vamos com calma linda... Venha, vamos comer primeiro.
Depois de uma mais ou menos longa discussão sobre o local onde iriam comer – porque um comeu hamburguer ontem e o outro, pizza; um não curte tomate e o outro adora cebola; a fila ali está enorme e ali do lado também. Daquele lugar tenho cupons, mas o outro lá está em promoção.
A verdade era que William queria mesmo que Prudência escolhesse logo um lugar em que ela quisesse ir. De preferência não muito caro, pois ele iria pagar. Sempre pagava pois acreditava que isso aumentava suas chances de acordar ao lado da moça com quem foi jantar.
Prudência escolheu uma prosaica pizza de calabresa. Estava indo tudo bem; a conversa não tinha morrido muitas vezes, como acontece tanto em primeiros encontros.
- Então Prudência, queria muito ter falado com você naquele churrasco. Vi você indo embora tão cedo! - indagou ele.
- Acho que você não viu bem o que aconteceu... a minha irmã... erm... a minha irmã bebeu demais e precisei ajudá-la. Ela ficou mal a ponto de achar que tinha incorporado o Axl Rose.
William riu.
- Puxa, eu não sabia! Se tivesse percebido com certeza teria ficado com vocês, caso precisassem de alguma coisa.
- Melhor que não percebeu. Eu passei a maior vergonha. Ela passou a maior vergonha... temos sorte de aquilo não ter ido parar no Youtube. E o Danilo ajudou... ele nos deu uma carona para casa.
- O Danilo? Ora vejam só... esse cara fez alguma coisa decente na vida então.
- Você o conhece bem?
- Sim. Ele é ridículo.
- Nossa...
- Não vamos falar dele, está bem? Quero aproveitar esse dia com você, linda. Fale de você, do que você gosta...
Prudência pensou um pouco antes de responder. Os gostos são algo pessoal, mesmo que se possa conhecê-los olhando apenas as páginas que alguém curte no Facebook. Não, aqui a resposta tinha que ser exata. Não era hora de falar que gostava de ver novelas turcas depois de tomar banho e colocar pantufas quentinhas de pé de monstro. Tampouco de citar a enorme crush que tinha pelo Han Solo. Não, definitivamente não era boa ideia que William se comparasse com Harrison Ford.
- Eu gosto de cinema – respondeu ela.
- Hum, é mesmo? Cinema é muito bom mesmo, eu também adoro. E sabe uma coisa que eu adoro no cinema? - o rapaz pausou um instante, olhando fixamente para ela – Adoro beijar no cinema.
Prudência corou. William, ao notar, cumprimentou-se mentalmente. E notou que ela ficava uma graça quando ficava sem graça.
Pru não sabia bem o que dizer. Normalmente teria algum comentário espirituoso a fazer, algo que desarmaria o rapaz, ou daria uma risada daquelas que diz "nem em sonho, babaquinha!". E, sem saber, perdida em um daqueles momentos onde a resposta perfeita só aparece em nossa mente no dia seguinte, Prudência apenas ficou em silêncio.
Seu silêncio, contudo, foi confundido como encorajamento. William puxou a cadeira para a lateral da mesa e olhou-a. Ela achou um grande atrevimento dele, mas não teve sequer tempo de falar algo – em menos tempo do que Usain Bolt levaria para atender a campainha da casa dele, William estava com os lábios sobre os dela.
Seria mentira dizer que não era bom. William sabia o que fazia, e sabia que daquele beijo dependia o sucesso da sua noite como um todo. Beijou-a devagar, parando de vez em quando para contornar as bochechas dela com a ponta do nariz. Exalava confiança e sensualidade. Sentia que estava arrasando, que era irresistível.
- Desculpe – murmurou Prudência.
- O quê? - parou, subitamente, William.
- Eu não estou me sentindo muito confortável... podemos só conversar hoje?
William engoliu seco.
- Erm... sim.. claro, linda. Eu entendo. Vamos conversar.
Conversar, porém, não foi algo que eles fizeram. Depois do gosto da torta de climão mal se falaram. Concentraram-se com afinco em seus pratos, dando cabo de suas fatias (de pizza) tão rápido quanto puderam. William sentiu-se mal por ter subestimado Prudência: pensou que o desafio daquela noite seria mais simples. Tanto melhor: Prudência não era uma fase tutorial, era uma boss battle, e ele estava mais do que motivado para superar aquele Game Over. Daria tempo ao tempo: aquele dia estava perdido, mas bastava que superasse mais um encontro, imaginava, e Prudência seria sua. Alguém como ela se conquista aos poucos e, uma vez conquistada, estaria cativa eternamente. Ou pelo menos é o que ele desejava. Ademais, estava cedo; ainda dava tempo de ir para a balada e terminar a noite com alguém.
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Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e Preconceito
FanfictionPrudência vivia tentando por juízo na cabeça de sua irmã, Coralina. Que, de tanto correr atrás dos topzeras, ganhou por alcunha Conquista. Prudência não gostava de apelidos. Conquista gostava de sonhos, daqueles bem doces (os reais e os figurados)...