Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e Preconceito

Capítulo 19

Dizer que o tempo parou naquela cafeteria seria clichê. Mas o fato é que tudo ficou em animação suspensa, como se o X-man Mercúrio tivesse passando por ali, enquanto Prudência processava as palavras de Danilo.

Pru não estava pronta para aceitá-lo, ele percebeu. Não era tão altruísta a ponto de não pensar que sua ajuda poderia ajudar a desfazer a impressão ruim que ela tinha de si. Imaginava que com sua tão bem-vinda colaboração poderia, no mínimo, conseguir ser desbloqueado no WhatsApp dela. E, se tivesse sorte o suficiente, ganharia um beijo de gratidão.

Sim, um beijo. Naquele momento ele pensou que conseguiria. Que todo o mal seria desfeito, todo o orgulho dela seria desmanchado e todo o preconceito dele, suas palavras duras com relação à família dela, esquecidas. Esperava ver Prudência inclinar-se, olhar para ele com o desejo com que ela olhava para uma bomba de chocolate. E ele corresponderia. Ah, como corresponderia.... Um beijo de Pru, imaginava, seria tão doce e açucarado como uma sobremesa a encerrar um magnífico jantar.

Contudo, ele compreendeu esse silêncio, essa pausa em câmera lenta, e resolveu que, naquele momento, o melhor seria continuar a falar. Aquela não era a hora certa. Ele era Kratos em cima de um monstro e tinha apertado círculo cedo demais.

- O que eu quero dizer, Prudência, é que você pode contar comigo. De verdade. Eu sei que tivemos nossas diferenças, mas eu te considero muito. Sei que você precisa de um amigo agora.

O som da palavra amigo soou falso. Extremamente falso. Mas Pru pareceu acreditar nele. Era uma oferta de paz. Amizade, por hora. Sem querer algo em troca. Sem choro na internet pela friendzone. Sim, aquilo era uma falsidade sem tamanho. Ser só amigo de Prudência era uma recompensa magra demais para Danilo. Contudo, a palavra ajudaria a romper a tensão inicial.

- Obrigada - o som da voz de Prudência interrompeu seus devaneios - Eu agradeço a sua ajuda. E isso é importante para sua irmã, também... não foi justo o que William fez com ela.

- Não... não foi. - Danilo começou a sentir-se ainda pior. Tinha usado, ou pelo menos pensado em usar, o drama de sua irmã para poder falar com Prudência. Sentiu-se uma pessoa terrível e perguntou-se se, lá no fundo, não seria parecido com William. Não, essa comparação não era válida. Era jamais se aproveitaria de uma mulher. - Certo. Então, Prudência, converse com sua irmã. Nós vamos conseguir para ela a pensão durante a gravidez.

A garota agradeceu. Era hora de ir. De pasta na mão, estava rumando para o ponto de ônibus, mas Danilo prometeu uma carona. Não, não era trabalho nenhum, sim, faço questão, e outras expressões de educada coerção se seguiram, até que Pru aceitou. A fila do ônibus estava enorme.

Ele abriu a porta de modo cavalheiro, talvez com mais pompa do que seria necessário, mas uma boa impressão se fazia necessária. Saíram do estacionamento em silêncio, o que fez Danilo perceber que era uma boa ideia ligar o rádio.

Prudência, por sua vez, relembrava a última vez que tinha andado naquele carro, no dia do resgate de uma Mary muito louca (literalmente) que tinha aprontado altas confusões (literalmente também).

Coincidentemente ou não, a música que tocava era First Date, do Blink 182. In the car I just can't wait, to pick you up on our very first date¹... Se aquilo era um primeiro encontro, era um primeiro encontro horrível.

Danilo piscou e deu um tique como se tivesse percebido algo importante.

- Prudência, eu tenho que falar uma coisa sobre o processo.

Pru saiu de seus devaneios musicais.

- O que foi, Danilo?

- Você precisa ter certeza de que o filho da sua irmã é mesmo do William.

Uma tempestade digna de passar no Datena era o rosto de Pru. Ela nada disse o resto do caminho, dada a grosseria de tal comentário. Que sua irmã não fosse santa, ela sabia. Mas esse tipo de insinuação era um pouco além do que ela estava disposta a ouvir.

Mal o carro chegou em sua rua e ela já estava com a mão na maçaneta, pronta a abri-la no segundo em que o veículo parasse. E o fez, batendo a porta e dizendo um obrigado pela carona da forma mais maquinal e robótica possível.

Danilo foi embora sentindo-se um idiota. No rádio, Carry On My Wayward Son tocava.

¹No carro, eu mal posso esperar, para te buscar em nosso primeiro encontro