Coralina, triste pela irmã Prudência, e mais triste ainda por tudo ter acontecido devido à preguiça de levar sua própria bolsa ao banheiro, contou à irmã Lídia sobre o que havia acontecido com Bruno. O que foi uma enorme besteira, porque Lídia não era confiável com segredos e adorava aprontar altas confusões num cenário de muita azaração.
O resultado desse lapso de Conquista foi que a mãe, o pai, Mary, a irmã gótica, metade da vizinhança e 24 países à sua escolha ficaram sabendo o que pensava Danilo sobre Prudência.
Se a família delas fosse do tipo "comercial de margarina", saberem que Pru estava com a autoestima tão baixa que chegava ao núcleo terrestre lhe garantiria uma porção de abraços e compreensão. Como não era o caso, o episódio lhe garantiu um encontro às cegas com o filho de uma colega de sua mãe, assim quem sabe ela esqueceria tudo, e ele era um menino tão bom...
Prudência pensou como tudo piorou tão rápido. Um dia estava tudo indo bem, no outro tinha que lidar com a pena generalizada de sua família e um encontro com alguém que ela nem sabia como era. Aliás, ela nem estava pensando em romance neste momento, só queria tirar nota suficiente para passar em cálculo. Ainda bem que ninguém sabia da sua tentativa de falar com Danilo na padaria.
Prudência imaginou que seria mais rápido encerrar o assunto se ela fosse ao encontro. Diria aos parentes que não deu muito certo e tocariam a vida.
Marcaram no Habibs. Ele não teve a polidez de chegar antes dela, que pegou um refrigerante e sentou-se. Se ele não aparecesse, tanto melhor. Quinze minutos após o horário marcado ela avistou um rapaz desengonçado à porta. Pensando "por favor não seja ele", Prudência olhou para os lados e tentou se esconder atrás do copo. Não funcionou. O rapaz esquisito, gorducho e com barba mal feita sentou-se à mesa com ela.
- Oi... você é a Prudência, não é? - perguntou, olhando não em direção aos olhos dela, mas praticamente dissecando suas glândulas mamárias com o olhar.
Incomodada, Prudência afundou na cadeira, tentando manter o mínimo de si aparente acima da mesa.
- Sou eu – respondeu, envergonhada, pensando em quanto tempo levaria aquele encontro – Você é o Cauã, certo?
- Isso.
Seguiu-se um silêncio altamente constrangedor. Prudência reparou na camiseta do moço, estampada com personagens de Uma Família da Pesada.
- É... Cauã... você vai pedir esfirra?
- Vou. Mas não vou pagar o seu pedido, vamos dividir hein?
- Eu... - respondeu a moça, confusa, com um fiapo de voz – eu não pedi para você me pagar nada.
- Ótimo. Porque as mulheres ficam querendo tirar tudo da gente, é terrível. - Cauã falou como se fosse uma pérola de sabedoria – Mas você é diferente, você parece uma mulher de verdade, Prudência. Precisa de um homem de verdade para cuidar de você. Eu soube que você faz estatística, acho ótimo uma mulher que goste de matemática.
- Senhor Jesus, me ajude – sussurou Prudência.
- O quê?
- Nada – assustou-se – é que sempre eu faço uma oração antes de comer – respondeu, rindo nervosamente.
Quando a comida chegou, Cauã comeu suas batatas fritas e ainda as de Prudência. Ela não reclamou; de boca cheia e fechada ele era um sábio.
- Quer que eu te acompanhe até em casa? - Cauã perguntou, com um pretenso olhar sedutor.
- Não precisa. Eu só preciso pegar o ônibus aqui na frente.
- Eu espero com você.
- Não precisa mesmo, eu já estou acostumada.
- Eu insisto.
Sem forças para argumentar, Prudência andou mecanicamente até o ponto.
Cauã olhou para ela, preparando uma abordagem. Um ônibus chegou e algumas pessoas subiram. Encoberto pelo coletivo, Prudência foi agarrada pelos tentáculos do garoto, que já se preparava para beijá-la.
Aquilo já era demais. Decidida a não deixar a vida lhe passar a perna mais uma vez, empurrou Cauã que, surpreso, lhe soltou e olhou-a, confuso, enquanto ela subia no ônibus que estava prestes a partir.
Prudência foi parar no centro da cidade e teve que pegar dois ônibus para voltar para casa. Mas nada a faria ficar mais cinco minutos com o repulsivo rapaz.
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Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e Preconceito
FanfictionPrudência vivia tentando por juízo na cabeça de sua irmã, Coralina. Que, de tanto correr atrás dos topzeras, ganhou por alcunha Conquista. Prudência não gostava de apelidos. Conquista gostava de sonhos, daqueles bem doces (os reais e os figurados)...