Capítulo 8

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Coralina soube do que aconteceu com Mary, Prudência e Danilo, apenas depois. Ela pediu desculpas por não ter ajudado - por não ter sequer percebido que algo estava acontecendo. Claro que dificilmente perceberia: estava beijando apaixonadamente Bruno. Estava olhando nos olhos de Bruno, dando risadinhas e ficando vermelha. Sim, ele havia feito Conquista corar.

Quem corou também, e por longos dias, foi Mary. Nem a maquiagem que a deixava tão pálida conseguiria esconder a vergonha que sentia. Ela lembrava de tudo o  que tinha acontecido. Meditou sobre sua vergonha em longas caminhadas pelo cemitério. Declamou mórbidas poesias até o ponto de perceber que nada daquilo importava. A longo prazo estaremos todos mortos, como todos que habitavam aqueles lotes. Mary respirou o ar pesado de luto e poeira levantada pelas solas de seu coturno.

Chorou lágrimas de raiva, que borraram sua sombra preta. Quem a visse, meditando em meio aos túmulos,poderia achar que era uma otaku fazendo cosplay de L de Death Note.As pessoas mais próximas não se importaram, ou por não estarem vivas ou por estarem bêbadas demais de vinho químico mesmo não sendo nem 22h ainda.

O resultado da meditação na mente de Mary foi o desejo premente de desculpar-se com sua irmã Prudência.Ela havia a ajudado mais uma vez, e talvez algo pudesse ser feito para retribuir a colaboração. Caminhou ao ponto de ônibus observando as luzes da cidade enquanto um cantor americano gritava arrotando uma música qualquer em seus fones de ouvido.

Logo ali, notou uma silhueta familiar em um bar – do outro lado da rua, Charlote Cachalote estava comendo batatas fritas e tomando caipirinha de morango enquanto um rapaz olhava lascivamente para ela. Mary achou que conhecia o rapaz, mas não lembrava de onde. Ele parecia bem ridículo, mas Charlote provavelmente iria amaldiçoar todas as gerações da família se ela tentasse cumprimentá-los (ou, como Charlote diria, se ela tentasse estragar mais um lance).

Bem, o rapaz tinha certeza de que a noite iria longe, pelos olhares que dirigia a Charlote. Mary pegou o ônibus pronta para contar para a irmã a fofoca.

Em casa, encontrou Prudência no celular. William, o rapaz xavequeiro, estava falando com ela. Soltava algumas frases feitas, que complementava com memes printados do twitter que terminavam com "quando a gente vai se pegar?". Pru, solitária, correspondia. Sabia que algo estava errado. Sabia que ele não fazia seu tipo. Mas quem fazia não a queria, não é mesmo?

Espera. Danilo fazia seu tipo? Prudência eliminou o pensamento. Não, ele não fazia. Eram muito diferentes. Dois mundos totalmente diferentes, que só se misturavam em casos muito especiais, como o de sua irmã Conquista. Graças, ela imaginava, à beleza que a irmã pegou toda pra si. Se William fingia que Pru era bela, bem ela ia fingir que era. Mas lá dentro, sabia que William estava usando nela as táticas mais básicas que Coralina usava para pegar vários topzeras em uma noite de balada sertaneja.

Mandou mensagem para Charlote, mas o celular dela estava desligado. Ganhou um abraço de Mary, o que diminuiu a tristeza da noite. Quando William começou a lhe pedir fotos no Whatsapp, decidiu que era hora de dormir. Acordar, estudar,procurar emprego, repetir. Nada como a rotina.

Alguns quilômetros dali, Conquista protagonizava cenas de romance de banca de jornal com Bruno. Sentia-se mais linda do que jamais tinha sentido, apesar de ter plena consciência de sua atratividade para a parcela masculina do mundo. Com ele, não parava para pensar se as unhas estavam feitas ou se os carinhos despenteavam seus cabelos. Era uma ligação mais do que carnal. Não era fogo, era luz.

Prudência e Conquista - fanfic Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora