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Arrastei o meu corpo ao longo da porta, sentando-me e puxando as pernas contra mim. O que aconteceu foi deveras surreal. Presumo que Cameron tivesse chegado pois deixei de ouvir chamamentos e murmúrios vindos do lado de lá da porta. As suas vozes pareciam distorcidas de forma que não conseguia perceber o que estavam a dizer. Espreitei pela fechadura e vi ambos a discutirem sobre assunto nenhum, acabando por fim Harry a sair desalmadamente, batendo com a porta principal numa força estrema.

Levei as mãos à cara e um choro forte e agudo ecoou nas pequenas paredes do quarto. Ouvi batidas intermináveis na porta e fiz o esforço de as ignorar, dirigindo-me para a casa-de-banho onde de lá não saí o resto da tarde. Debrucei-me no lavatório e colocando as mãos em forma de concha, levei um pouco de água ao rosto húmido. Limpei-me à toalha de tons cinza e observei-me no espelho. Pode dizer-se que desde que deixei a casa do Harry, há não mais de uma semana, o meu corpo e a minha pessoa mudou completamente.Tanto física como psicologicamente. Perdi peso bastante notável e isso deve-se à falta de apetite constante. Formaram-se-me olheiras por baixo dos olhos, tingidas de uma cor arroxada. O meu cabelo perdeu aquele brilho natural que possuía e as suas pontas encontram-se agora mais espigadas do que nunca. O sorriso que outrora tinha no rosto a toda a hora, fosse para onde fosse, também esse, infelizmente, se perdera no meio de tanto choro e fora substituído por um rosto triste e em baixo. Eu pensava que isto iria ser mais fácil de lidar, mas ao que parece tem sido uma tortura e já ninguém me consegue levantar para cima de novo. Visitei um médico conhecido de Cameron que me recomendou uma dose de medicamentos que me "ajudará" a ultrapassar tudo. Não sou médica nem um génio de biologia ou medicina, ou o que quer que seja, mas duma coisa estou ciente, que a única cura possível é ele mesmo. Estarei a desfalecer aos poucos com a saudade? Será possível alguém ficar gravemente doente com a falta de alguém? 

"Sophia? Por favor abre-me a porta, ou então diz qualquer coisa. Estás a deixar-me preocupado."

"Estou bem Cameron. Só quero ficar um bocadinho sozinha."

"Estás aí à horas. Mas tudo bem."

Suspirei agressivamente e não me surgiu mais nada se não me enfiar dentro da banheira e olhar o teto confusa, confusa com a vida, com o amor, com tudo em meu redor. Verti lágrimas, mais uma vez, com a esperança de que algo mudasse, embora soubesse que as coisas não mudam se não se fizer alguma coisa mas eu sinto que não tenho de ser eu a dar esse passo. Foi ele quem errou, é ele quem tem de se desculpar e lutar por mim. O que eu vejo é precisamente o contrário.

*

Subitamente algo me fez acordar do meu sono profundo. Batidas ferozes na porta assustaram-me a mim e ao meu corpo gélido. Levantei-me e acabei por fim por abrir a porta. Cameron olhava-me preocupado e com um certo receio.

"O que é que aconteceu?"

Ele não disse nada. Limitou-se a apertar-me contra o seu peito musculado e suspirar radicalmente. O meu corpo outrora frio começara a aquecer. 

"Tu estás bem? Estás gelada." agarrou-me por um braço e puxou de uma manta, cobrindo-me.

"Hm, eu estou bem. Só queria ficar um bocadinho sozinha, mas tu pareces-me mais stressado do que nunca."

Semicerrou os olhos e falou -"Eu lamento tu tenhas de saber isto, mas acho que não sou capaz de to dizer."

"Conta-me! O que se passa Cameron?"

"Liga a televisão."

Agarrei-lhe numa das mãos -" Isto é sério, conta-me!"

"Liga o televisor merda!" insistiu.

Assim fiz. Arregalei os olhos ao ver no primeiro canal que me aparecer a pior coisa que alguma vez podia ouvir. Sirenes abafavam a voz da jornalista que contava, com certa dificuldade, a catástrofe que ocorrera à cerca de meia hora atrás. Um carro tinha-se despenhado duma ravina perto da autoestrada que dava aceso ao centro de Holmes Chapel. As poucas imagens que consegui ver antes de me por a chorar foram nada mais nada menos do que o Jeep do Harry, completamente espatifado, uma parte na estrada, outra no penhasco e pedaços dispersos. A noticia deve de ser interrompida pois o vento forte dificultava a emissão. Fiquei sem saber o estado em que estado ele ficara. 

Cameron agarrou-me pelos cotovelos e puxou-me para um abraço reconfortante, onde me acariciava o rosto com as suas mãos. Eu não parava de soluçar. Eu queria desaparecer por um bocadinho que fosse e jurar que isto não tinha acontecido. Embora tenham ocorrido demasiadas  coisa estes últimos tempos, a única coisa que eu queria saber era o seu estado, ferido, talvez gravemente.. Eu amo-o e isso não consigo negar. Quero estar com ele. Só quero que me digam que ele está vivo. Estará?


HEY girls, mais um capitulo aqui do Far Way. Vejo que há cada vez mais leitoras interessadas no meu livro, que passam horas a lê-lo e que constantemente recebo notificações de que foi adicionado à biblioteca! Isso é fantástico e sinto que estão a valorizar imenso o meu trabalho, mais do que eu esperava. Espero que estejam bem,

Caroline.

Far Way ;; h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora