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Larguei o saco das compras deixando cair tudo no chão. Agarrei-me à estante mais próxima  e serrei os olhos com força. Senti uma enorme dor abaixo da barriga, algo mesmo forte, algo que não podia controlar. Isto já me acontecera imensas vezes e eu simplesmente me continha sem fazer muito alarido. Era simplesmente esperar que passasse. Mas não foi bem assim que decorreu. Um jovem que estava à minha frente apercebeu-se do sucedido e tentou ajudar-me, trazendo-me um banco para me sentar. E foi aí, precisamente no segundo em que ia colocar o meu pequeno rabo no acento, que um riacho escorreu pelas minhas pernas. Algo mesmo desagradável e nojento. Arregalei os olhos. Olhei cautelosamente paras as minhas pernas que estavam encharcadas e a primeira coisa que me veio à cabeça foi: "Mas porquê agora?" Não podia simplesmente ter acontecido num momento mais adequado e, já agora, noutro lugar qualquer? Quer dizer, como é que eu ia explicar ao meu filho daqui a uns anos, que as águas me tinham rebentado num supermercado?

"Chamem uma ambulância!" falou o rapaz

Várias pessoas se aproximaram para ver o que se passava, até do exterior da mercearia espreitavam curiosos. Odeio ser o centro das atenções. Isso é talvez o único facto de eu jamais querer ser famosa como Harry. Senti-me pressionada por toda aquela gente que falava alto e me sufocava pelo simples facto de estar a uma proximidade enorme de mim. Graças a Deus que o jovem pediu a todos para se afastarem para me deixarem respirar, o que foi muito bom da sua parte e da minha, que rapidamente me senti mais descontraída. Como não era de esperar, a ambulância levou mais de vinte minutos a chegar ali, o que foi um sofrimento para mim que não aguentava as dores. Sou uma pessoa tranquila, não pretendo dar nas vistas nem ser reconhecida, mas naquele momento eu mandei um berro que me fez ser o centro do universo. A dona da loja pôs-se de joelhos à minha frente e mostrou-me pequenas coisas que me pudessem acalmar, como um ritmo igual de inspirações e expirações e um posição um pouco estranha, que me poderia aliviar. Nada disso aliviou. Só me fez ficar ainda mais aflita. O que realmente me iria acalmar era Harry. Agarrei no meu telefone e marquei o seu número. Este atendeu ao terceiro toque mas eu estava tão cansada e sem fôlego que tive de passar o telefone ao rapaz que me agarrava na mão.

Percebi vagamente a conversa que eles tinham tido, concluindo que Harry viria o mais rápido possível. O jovem passou-me o telefone no final e a única coisa que ouvi, sem se quer ter tempo de dizer fosse o que fosse, foi- "Vai ficar tudo bem, eu vou já para aí. Amo-te meu anjo." -  e desligou. Aquela frase bastou para me acalmar. Inspirei fortemente e suspirei agressivamente. 

*

Harry chegou pouco depois. Estava exaltado e apressado, empurrando as pessoas em redor. O primeiro sítio onde realmente as suas esmeraldas olharam foram nos meus pequenos olhos. Esbocei-lhe um sorriso tímido e estendi-lhe a mão. Este agarrou-a e beijou-a de uma forma adorável. Alguns à nossa volta cochichavão coisas inaudíveis mas ocasionalmente ouvi o nome do Harry e da boyband. Custava-me a crer que a ambulância ainda não tivesse chegado. As dores permaneciam mas com menos força ainda que abundantes. Harry beijou-me discretamente e, antes de me ajudar a levantar, mandou um berro enorme exigindo que se fossem embora e que a situação estava controlada e não era nada mais que uma grávida, quase em trabalho de parto. Estas resmungaram e foram saindo aos poucos, ficando só eu, os donos da loja e o rapaz que me olhava com uns olhos cintilantes.

"Obrigada pela ajuda." sorri-lhe

Este sorrio-me de volta, retirando o seu chapéu, fazendo uma vénia, e voltando a coloca-lo na cabeça. Ri-me do seu gesto. Harry agarrou-me pela cintura e disse:

"Se aqueles cabrões não chegarem em meio minuto, eu levo-te lá."

E quando Harry fala assim, é tudo menos a brincar. Agarrou-me ao colo com certa dificuldade, dirigiu-se ao carro tentando abrir a porta do mesmo. O senhor da loja veio a correr abri-la e ambos me colocaram na parte traseira. Comecei a respirar irregularmente novamente. Eu gritava, mas gritava mesmo alto. Harry apressou-se a entrar no carro e a guiar a uma velocidade não habitual, até ao hospital mais próximo, que não era assim tão próximo.

"Sophia, ouve-me. Respira comigo. Inspira, expira, inspira, expira."

"H-harry eu já não aguento." 

"Por favor, é só mais um bocadinho. Estamos lá perto!" encorajou

Senti os meus olhos fecharem e pareceu que tudo desabara naquele instante. Ouvi-a os gritos de Harry a chamarem por mim, lá ao longe. Duas mãos agarram em mim e parecia que estava a voar, embora estivesse a ser levada para dentro de um edifício com luzes ofuscantes. Múltiplas pessoas olhavam na nossa direção. A minha visão estava já turva, e eu, deixei-me levar.



P.S She's not dead.

Caroline :)

Far Way ;; h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora