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"O que é que isto foi?"

"Não sei bem. Um ato de consolo? " - sorri fracamente - " Desculpa."

Sorrio. Sai-o da água e agarro nas minhas coisas, prestes a ir para casa quando a pessoa que eu menos queria que aparece-se ali, encara-me completamente estupefacta. Merda. E eu que não gosto que digam asneiras, disse-lo por uma primeira vez. Estou feita.

"Deves ter muito que explicar, agora vai para casa imediatamente."

"Eu não fiz nada de mal! Apenas.. me diverti!"

"Desobedeceste-me. Foi isso."

Aumento a velocidade do passo e só consigo ouvir os berros do meu pai para com o pobre rapaz que não tem culpa nenhuma. Fui eu que o trouxe para ali. Eu quis. Ele não merece ouvir aquilo. Quero chegar lá e berrar com o meu pai tal como ele fez, mas não sou capaz. A isso se chama -cobardia-.

"Quero-te fora desta ilha amanhã!"

Ouço um último berro. O meu pai é capaz de tudo, mas desta não estava a espera. Sinto um aperto no coração e uma raiva enorme. A culpa é minha. Uma lágrima percorre a minha bochecha e cai na areia, agora bastante fria. Eu passo a vida a chorar. Ao mínimo problema, eu choro. Mas para mim o choro alivia, contrariamente ao que dizem, sinto-me livre e expulso as coisas más de dentro de mim.

Corro até casa e tranco-me no quarto. O meu telefone tilinta pouco depois e pego nele - Sete mensagens e três chamadas do Harry. Estou com tudo menos vontade de falar com ele. Sim, a voz dele suaviza o meu pânico e nervosismo, mas não é altura certa, uma vez que o motivo é ele. O seu nome aparece no ecrã. Deixo tocar umas quatro vezes mas não consigo conter a minha mão que pega no telefone e desliza com o dedo para o botão verde.

-Olá! Ainda não tínhamos falado hoje, o que se passa?

-Fiquei sem bateria. Minto

-Não me parece. Ficas sempre aflita com medo que eu te ligue e que não vás a tempo de atender..

-Olha mas hoje aconteceu, e estou com pouca vontade de falar, sim ? Desculpa.

-Até parece que fiz alguma coisa! Que mau humor!

-Não tem a ver contigo sim? Adeus Harry

-Mas Soph-

Desligo o telefone. Depois de sete meses a falar com ele, nunca me aconteceu lhe desligar o telefone. Mas há sempre uma primeira vez para tudo na vida. E eu não me quero magoar, por isso quero um pouco de distancia. Não que já não estejamos longe o suficiente um do outro. É melhor assim. Pelo menos por enquanto. Derramo lágrimas em cima do Haz e serro os punhos com força, deixando a marca das unhas cravadas na pele. Sinto dor, mas contenho e tento respirar.

*

Acordo de súbito na cama. Tenho a respiração acelerada e o pânico aparece. Mais outro sonho. Levanto-me e vou na direcção da casa de banho que está anexada ao meu quarto. Abro a torneira e lavo a cara com água bem fria para estar bem acordada. Abro o roupeiro e visto uns calções vermelhos e uma camisola de mangas até ao cotovelo. Calço as chinelas e sento-me no chão, encostada ao muro do quarto. Aperto o meu urso de peluche com quase dois metros e procuro a caixinha que de lá contém os preciosos anéis que durante anos pertenceram ao meu ídolo.

FlashBack On

É de manhã. Acordo com um barulho nada familiar que rapidamente identifico como sendo um barco. Arregalo os olhos. Saio disparada do quarto e sem pensar duas vezes, corro até á beira das rochas que dão para o mar, sem pensar que pode desabar a qualquer momento, devido á fragilidade das pedras encaixadas umas nas outras, bem como a terra batida. Limito-me a observar o barco partir lentamente para Norte. Não reproduzo qualquer som. Fico imóvel e completamente perplexa. Desta vez sem soltar qualquer lágrima dos meus olhos cor de avelã. Não á rancor nem raiva. Apenas uma leve musica de árvores a embaterem umas nas outras devido ao vento que se faz sentir, e que arrefece o ar.

Far Way ;; h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora