68

369 30 21
                                    

O tempo passou relativamente depressa, de forma que já eram quatro e cinquenta e eu ia chegar atrasada. Como eu não queria que de forma alguma isso acontecesse despachei-me em menos de cinco minutos, penteando o cabelo e lavando apressadamente os dentes. Fui de carro até ao meu local de trabalho e estacionei mesmo à beira mar, uma vez que o restaurante se situava ao lado.

Entrei e qual não foi o espanto ao ver que estava com metade das mesas cheias. Os empregados estavam aflitos e quando me viram chegar, os seus olhos brilharam como se deus tivesse descido à terra. Chamaram, aliás, gritaram por mim a pedir ajuda e assim fiz. Mudei de roupa e comecei o trabalho.

Recebi algumas gorjetas e vários elogios pelo meu trabalho. Em tão pouco tempo tornei-me a jovem mais experiente no restaurante. Todos me admiravam e por vezes pediam concelhos e ajudas. Quatro pessoas estavam a meu cargo, que outrora tinha sido do Kevin. Desde que tal aconteceu, sinto que a nossa amizade não é a mesma. Posso até dizer que não me faz muita diferença porque não me dou assim muito com ele, mas tornou-se rude e arrogante para mim. Não me quero gabar nem nada, mas para mim, isso soa a inveja. Porque em muitos anos que aquele restaurante tem, foi sempre ele o chefe na parte hoteleira. E claro, passar a ser igual aos outros onde uma jovem rapariga sem qualquer experiência lhe rouba o cargo, não deve ser de todo agradável.

"Como é que estás?"

Virei-me para ele "Bem, acho."

"Foi horrível o que aconteceu naquela noite. Sabes quem foi?"

"Hm.. Não. Nem tenciono saber."

Deu de ombros e foi-se embora. Que atitude estranha.

*

Eram agora onze e um quarto. Acabava o meu turno à meia noite e meia e como todas as sextas feiras, era eu a fechar o restaurante. Jocelyn já estava de saída porque tinha de ir ter com o seu namorado ao outro lado da cidade, de forma que lhe dei uma ajuda e disse-lhe para se ir embora mais cedo, uma vez que o seu horário normal seria à meia noite.

"Hey, estou de saída. Boa noite."

"Adeus, aproveita." pisquei-lhe o olho

"Podes crer." sorrio perversamente

Conheci o namorado dela, ou como dá a entender que seja, à cerca de uma semana. A minha primeira impressão dele é simples - um cabrão. E porque digo isto? Porque sim. Porque pela cara dele consigo constatar que vai com todas. Demos os três um passeio pela zona e eles estiveram o tempo todo agarrados e na marmelada. O que ela não reparou e eu reparei é que ele passava o resto do tempo em que não se comiam a olhar para as miúdas boas à volta, nem que tivessem trinta anos ou fossem casadas e com filhos. Era-lhe completamente indiferente, o que interessava é que elas olhassem para ele e assim começava a rotina de se comerem com o olhar. Que nojo.

Eu já a avisei mas ela ou me ignora ou diz que só faço filmes e que "ele só tem olhos para mim Sophia." Antes fosse. Mas isso não me interessa. Ela à de se arrepender e eu vou-me rir. Maneira de falar. Porque claro que não me vou rir, ainda me cai em cima. E eu não quero. O mais provável é o contrário. Haver imensas miúdas a observarem o Harry completamente maravilhadas. Mas são todas umas cabras porque jamais estarão no meu lugar.

Sorri áquela forma de pensar mas arrependi-me logo pois parecia uma maluca qualquer a tentar engatar a pobre parede. Além disso tinha um homem com uns tais cinquenta anos, cabelo meio grisalho, sentado num banco a olhar para mim.

"A menina está bem?" riu-se

"Sim. Estou só.. A pensar."

"Hmm.." meio que me olhou de lado

"Por vezes, pensar faz bem, sabe?"

"E a menina pensa em quê? É que sorrio de uma forma que me parecia bastante apaixonada."

"E estou." sorri

Sentei-me do lado de dentro da bancada e servi um copo de whisky ao senhor. Este aceitou-o com um sorriso no rosto.

"Fica por conta da casa." sorri

"A menina não bebe?"

Pensei em responder àquela pergunta sem ser indelicada mas não sabia bem o que dizer. Eu queria, mas não devia.

"Posso acompanha-lo?"

"Claro! Aliás, eu pago!" sorrio-me

Agradeci-lhe. Retirei outro copo e coloquei a bebida neste mesmo. Comecei por pôr um fundo e acabei com o copo cheio. Aquilo era mesmo bom.

"O senhor é casado ou está junto?" senti permissão de perguntar

"Sou divorciado." -suspirou- "Juntei-me com a Kelly há trinta anos. Lembro-me como se fosse ontem. Éramos muito felizes e acabámos por ter uma linda menina dez anos depois que agora está junta com um rapaz e nunca mais a voltei a ver. Depois da Karen ter nascido, os cinco primeiros anos foram maravilhosos. Mas depois comecei a sentir que nos estávamos a afastar e acabámos mesmo por o fazer. Pediu o divórcio sem mais nem menos e mais tarde vim a saber que me tinha deixado não pelo tempo que não tinhamos um com o outro mas.."

"Mas?" insisti

"Ela juntou com uma mulher. Seis anos mais nova."

Fiz uma careta. Que grande desgosto. Tenho todo o respeito pelas pessoas que amam outras do mesmo sexo, mas havia uma criança no meio disso.

"Como é que a Karen reagiu com isso?"

"Nunca lho disse."

Arregalei os olhos. Penso que seria o melhor a fazer-se, porque dizer a uma filha de cinco anos que a mãe deixou o pai por se ter tornado lésbica deve ser um choque.

Acabámos de beber as nossas bebidas e ele teve de se ir embora, despedindo-se.

"Gosto em conhecê-lo."

"Igualmente." abriu a porta principal

"Porque que nome chamo pela próxima vez que vier?"

Virei-me para ele "Não precisa saber o meu nome."

Sorrio fraco "Oh..está bem. Gosto em vê-la."

P.S para a minha querida 😊 catistyles

Far Way ;; h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora