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Depois do belíssimo jantar - uma lata de conversa de feijoada e um garrafa de litro e meio de limonada que datava do mês passado - acabamos sentados no sofá a ver um ridículo de um filme chamado Freddy contra Jason. Inevitavelmente não contive uma gargalgada estridente.

"Acabou."

"A maior barbaridade de sempre." comentei por fim.

"Não era assim tão mau, um pouco de ação, sangue e algumas miúdas a gritar pela vida. Tudo o que um filme para me entreter precisa."

"Fala por ti! Isso de interessante não teve nada. Que bela merda."

"Hey, veja lá a linguagem." brincou.

"Agora mandas na minha boca é?"

"Posso mandar na tua língua." piscou-me o olho.

Rolei os olhos - "Não me parece."

"Desculpa." repreendeu-se desligando o televisor.

"Não achas que devíamos dormir?" sugeri.

"Podes ir. Eu estou bem." ageitou-se no sofá.

Cruzei os braços e esperei que este me desse alguma atenção. Uma vez que não o fizera, atirei-me literalmente para cima dele, impedindo que olhasse para o programa que estava a dar. Acabei a sofrer as consequências com uma série de cócegas por aqui e por ali, ficando sentada em cima do seu tronco de uma forma um pouco desconfortável. Os nossos olhares cruzaram-se por pouco, tentei afastar-me daquele esplendor azul mas inevitavelmente fora em vão.

"Acho melhor ir deitar-me se não amanhã não me levanto."

"Mas tu não trabalhas."

Levantei-me de cima dele e sentei-me devidamente no sofá moderno. -"Vou começar à procura logo de manhã."

"Hm está bem." deu de ombros.

"Ficaste chateada pelo comentário de à pouco?"

"Só tenho a dizer que não estou pronta para ter qualquer relação. Não procuro nem quero, muito menos numa fase como esta." avisei.

"Eu percebo."

"Não fazes a mínima o que é que eu estou a sentir."

"Acredita. Sei absolutamente pelo que estás a passar."

Cameron não se justificou nem disse mais nada. Levantou -se e foi direto à cozinha onde de lá não voltou.

"Cam? Está tudo bem aí?"

Não houve qualquer resposta vindo da divisão. Tirei a manta de cima de mim e fui rastejando com as pantufas dos cães que o Harry tanto gostava pelo chão fora. 

"O que é que aconteceu ali?"

Cameron encontrava-se sentado numa das cadeiras da sua mesa retangular de madeira com duas cervejas em cima da mesa, uma já pelo fim e outra que não tardaria a ser aberta. Momentos de silêncio pavorosos permaneceram ali até que por fim lá começou a falar. De início não queria acreditar no que ele me estava a contar mas percebi que já lhe tinham dado com os pés como, de certa forma, eu fizera. A rapariga que outrora o fizera sofrer era dona de um nome francês um quanto ao tanto inovador e diferente. Oceanne vivia em casa dos avós paternos pelo infeliz acidente ferroviário que os pais presenciaram e de que lá não saíram vivos. Todas as tardes, Cameron passava pela sua casa para a buscar ou simplesmente para lhe fazer uma visita,  tentando a custo que os progenitores exigentes  deixassem que este levasse a santa da rapariga a dar um simples passeio.

"Ela era a rapariga mais fantástica que alguma vez tinha conhecido, tínhamos tanto em comum que parecia impossível. O que acabou por acontecer foi que, logo após lhe ter feito o pedido que viesse viver comigo esta reagiu de uma forma horrível. Parecia ofendida ou coisa parecida. Nunca me sendo tão usado e desapontado quando soube, não por ela, que tinha data de cadamento agendada com um homem mais velho. Surpreendentemente fora com ele pela fortuna da empresa que possuía."

"Cameron,eu não sei o que dizer. Lamento por ti. Não merecias nada disso, acho que ninguém merece, mas por vezes as pessoas mostram serem algo que na realidade não são."

"Tal como tu. Pensava eu que tinha encontrado uma pessoa que realmente gostasse de mim, ou simplesmente que demonstrasse uma amizade real para comigo." levantou-se.

"O que é que estás a querer insinuar?"- levantei-me dirigindo-me a ele -"Estou a falar contigo!"

"Iludiste-me com uma série de coisas para depois teres a lata de te meter com o Harry! E porquê ele? Por ser rico?" atirou com uma das garrafas com uma certa violência para o lixo.

"Estás a comparar-me à tua ex? Apaixonei -me pelo Harry porque vi tudo o que procurava em alguém! Nunca tinha sentido nada assim por ninguém e ver isso acontecer foi a melhor coisa de sempre." -berrei-" E não é por ele ser rico ou famoso ou uma merda qualquer! Eu amo-o pela pessoa que é e não pelo que fez para chegar até onde está!"

"Porra Sophia, então porque é que quase te enrolaste comigo naquela tarde? Quais eram as tuas intenções?"

Não disse nada. Aquilo fora um completo erro que jamais se repetiria. Cameron olhava com os olhos a lacrimejar, esperando uma resposta sensata. Eu não tinha essa resposta.

"Nunca pensei que tivesse sido tão importante para ti. Nem nos conhecíamos." baixei o fronho.

"Vai à merda Sophia! Agiste como uma criança sem escrúpulos." saiu da cozinha apressadamente.

"Hey! Eu não te admito que me trates assim!" berrei.

"Fodasse, para de me chatear o bicho do ouvido!"- serrou os punhos.

Não soube o que dizer nem o que fazer. Fiquei ali imóvel, esperando que ele se acalmasse, mas a única coisa que ele soube fazer foi atirar com a garrafa de vidro já no fim contra a parede e proferir sete belas letras.

"Eu amo-te."

So ya i have no idea why am i do that. Ele sempre gostou dela mas hoje foi a revelação total. Não sei o que virá para a frente mas estou super indecisa com a continuação da fic. Eu quero que eles voltem a ficar juntos (sophia e Harry) mas como pós ver está tudo a ficar mais e mais confuso. Comentem e dêem ideias se tiverem. Obrigada lindas!

Caroline.

Far Way ;; h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora