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Hoje fora um dia bastante atribulado no hotel. Kate deixou-me encarregue de uma família com cinco crianças. Desde o segundo que os vi entrar até ao último em que o irmão do meio partiu o vaso à entrada, percebi que a estadia deles havia de ser um verdadeiro pesadelo para mim. E como eu nunca me engano a respeito de praticamente tudo, este caso também não foi excessão. A única razão para eu estar realmente calma era simplesmente porque a minha patroa me encinara a ser fingida com os clientes. Assim, até a respeito dela conseguia fingir e perceber quando ela fingia para mim. Era uma espécie de jogo. Uma vez que se soubesse as regras e com uns anos de prática, tornava-mo-nos umas peritas. Durante uma dura semana consegui ser o mais amável possível com a família Duncan. A principal coisa que eu não conseguia perceber  no meio de centenas, era o porquê de deixarem as crianças fazerem o que bem quisessem. Leonel, o mais novo com cinco anos, andava de um lado para o outro incomodando todos os outros clientes e, fosse um reclamar, os pais punham-se logo a discutir com os senhores e a defender o menino, que, coitadinho, era uma criança. Agora Mark, de dezassete anos, era já bem crescido para saber que no mínimo, não se fumava num estabelecimento público, muito menos num hotel como este onde as regras são bem expressas desde início!

"Kate, hoje saio mais cedo que tenho de ir buscar o meu filho. Ficas encarregue de o fazer? Por favor?" 

"Claro, sem problema!" sorrio-me

A minha relação com a minha patroa foi melhorando ao longo dos anos e posso dizer que ela se tornou mais que uma amiga até. Ajudou-me imenso quando estava para ter o Edward e deu-me dinheiro antecipado, o que eu não estava de todo à espera. Acerca do meu trabalho, desde que ele soube que eu aqui trabalhava bem como todos os outros trabalhos que já tive, ele nunca gostou da ideia. Eu sei, nós somos ricos, ele tem imenso dinheiro que certamente lhe dará para os últimos anos de vida, mas de qualquer forma eu gosto de trabalhar, não me consigo ver fechada em casa vinte e quatro horas por dia. E ele, porque é que ainda trabalha extra? Não lhe chega já ser cantor? Pois bem, Harry é quase hiperativo, não consegue estar quieto, por isso trabalha ainda mais daquilo que devia. Conclusão - se ele pode, eu também posso.

Guiei o meu pequeno Fiat até à escola primária de Holmes Chapel e estacionei uns metros mais à frente do portão principal, esperando que o meu filho saísse. Era o seu último ano nesta escola e depois seguiria para a "escola dos crescidos", como ele costumava dizer. Eu tinha receio por ele, se se adaptaria bem ou não e se os mais velhos não o chateariam. Avistei-o pouco depois com a sua mochila verde ás costas e este, mal me viu, saltou para os meus braços.

"Olá amiguinho, como é que estás? Correu bem o dia?"

"Sim mãe. Olha hoje fizemos uma experiência na aula de ciências! Fizemos um vulcão explodir!" manuseou as mãos imitando uma explosão

"Oh estou a ver. E gostaste?"

"Adorei mãe! A Lauren ficou tão assustada com a explosão que mandou um grito tão alto e começou a chorar." deu uma gargalhada

Durante a viagem de regresso, ele não parava de falar noutra coisa se não na dita experiência e na pobre rapariga que apanhara um valente susto. Eram cerca de oito e meia quando Harry chegou a casa, mais tarde que o habitual. Dirigiu-se à cozinha e veio ver o que andávamos a fazer. 

"Que andam a fazer?"

"PAI!" gritou

"Queres dar uma volta de avião?" Edward assentiu

Harry pegou nele e fingiu ser um avião, fazendo barulhos com a boca que se pareciam com os motores de um avião. Retirei o frango do forno e coloquei-o em cima da mesa principal da sala. Edward veio a correr para se esconder do pai e este vinha logo atrás. Estavam os dois tão animados que até eu me ri quando Harry espirrou de uma maneira tão fininha que parecia uma velhinha.

"Estás a rir-te de quê?" apertou-me a perna debaixo da mesa

"Harry!"

"Do espirro de esquilo que acabaste de dar." ri-me

"Os esquilos espirram mãe?" 

De-mos os dois uma gargalhada. - "Acabaremos esta conversa logo à noite." piscou-me o olho

Ri-me baixinho. O jantar foi decorrendo de forma agradável. Edward contava agora ao pai o que acontecera no seu dia. Puxei a camisola de Harry chamando-o à atenção. Este deixou de ouvir o rapaz e percebeu logo o que os meus olhos diziam.

"Hm filho, temos algo a falar contigo."

"Claro pai. O que se passa?" cruzou os talheres e olhou para ambos

"É um assunto bastante sério e eu e o teu pai precisamos de saber se estás de acordo com isso." olhei para Harry antes de falar

"Gostarias de ter um irmão?" sorri-lhe

Dito isto, parece que Edward imobilizou completamente. As suas expressões faciais alteraram-se completamente. Os seus olhos deixaram de brilhar e este limitou-se a cruzar os braços e disse.

"Não. Os meus amigos dizem que é horrível ter irmãos e que eu tenho muita sorte em não ter nenhum. Não quero."

"Edward, querido, nem todos os irmãos se dão mal sabes? Há alguns que são bastante próximos."

"Olha eu e a Gemma. Sempre nos entendemos bastante um com o outro, embora não estivéssemos muito tempo juntos."

"Depois já não vão querer saber de mim!"

"Porque é que dizes isso?"

"Eu sei como as coisas são! Vocês acham-me uma criança mas eu já sou muito crescidinho e eu sei que me estão a mentir!" - gritou -" Eu não quero ter um irmão!" saiu da mesa e correu as escadas

Olhei para Harry que já olhava para mim. Ficámos perplexos à sua reação e no decorrer da noite, nenhum dos dois disse mais nada.



Ups. ://

Caroline.

Far Way ;; h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora