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"Edward despacha-te com as decorações!" gritei da sala

Começá-mos duas semanas antes a preparar as decorações e os arranjes de Natal. Ainda que nós achássemos que era cedo de mais, muitas famílias do bairro já tinham luzes e pais natais pendurados à entrada de suas casas. O espírito natalício aqui era muito reconfortante, todos pareciam estar mais alegres nesta altura do ano e principalmente as crianças, que esperavam impacientemente pela chegada do seu amigo pai natal que lhe traria muitas prendas. Edward regressou com uma caixa que abarrotava de fitas e bolas de todas as cores. Harry estava empoleirado num escadote a arranjar os ramos da árvore, cortando aqueles que fossem maiores e ali ficassem menos bem. Uma vez que desceu, abriu a caixa e com a ajuda do filho, puseram-se os dois a espalhar as bolas e outros enfeites em cima do enorme pinheiro que ocupava uma grande parte da sala. A tradição em nossa casa era termos uma árvore verdadeira e não aquelas de plástico que acabam por se estragar ao longo dos anos. Todos os anos comprava-mos uma nova, sempre repleta de surpresas menos desejáveis, como pequenos habitantes de quatro patas a passearem na nossa sala.

"Parece-me que este ano devo tê-la escolhido bem." comentou

Subitamente, eu e Harry que estava-mos na cozinha a tratar dos biscoitos, ouvi-mos um barulho na sala que parecia nada mais que algo a partir. Apressá-mo-nos a ir lá e estava Edward empoleirado na escada, a tentar colocar a estrela no cimo da árvore. Havia montes de bolas partidas no chão e a bebé pusera-se a chorar.

"Edward? O que é que aconteceu?"

"O pai esqueceu-se da estrela." riu

"Já viste o que fizeste?" zangou-se Harry

"Desculpa pai, a culpa foi tua." 

Harry fê-lo descer dali e quando o apanhou despercebido, fez-lhe um ataque de cócegas como me costumava fazer a mim. Edward tinha o mesmo problema que eu, que era rir muito e entrar rapidamente em pânico. Quem diria que éramos tão iguais.

Após terminar-mos as decorações todas, tanto no interior como no exterior da casa, soube de uma feira de natal no centro da cidade, onde haveria muita animação e divertimento para as crianças. Depois do jantar, fomos os quatro até lá. Havia pouco lugar de estacionamento, mas lá conseguimos encontrar um, um pouco mais longe do recinto.

"Mãe mãe, posso experimentar aquilo?" 

Olhei para Harry e esperei que este dissesse algo. Ele limitou-se a afirmar que sim ao filho e lá foram os dois para uma banca onde o prémio era nada mais que um urso gigante. Mas quando falo de um urso gigante, é porque era duas vezes maior do que o meu filho. Como é que se obtinha aquele peluche? Atirando contra cinco latas de vidro, com apenas cinco tentativas. Harry acabou por entrar no jogo com o filho e estavam um de cada lado, tentando acertar no máximo número de garrafas. Riam à gargalhada como dois miúdos. Lembrei-me do dia em que aparecera um helicóptero com um urso gigante na ilha. Foi a melhor prenda de anos que eu alguma vez pude pedir, e foi também aí que tudo começou. As coisas não acontecem por acaso, pois não? E eu acho que foi um acaso muito destinado. Eu merecia que algo assim acontecesse na minha vida. O que mais me fazia confusão é que já tinham passado nove anos desde que tudo isso tinha acontecido. Nunca mais voltá-mos a falar no assunto, mas continuo a questionar-me o porquê de ter ocorrido desta forma, e no porquê de Harry me ter ido buscar. Continua a não fazer sentido na minha cabeça, mas talvez um dia faça.

"Consegui! Consegui!" Edward gritou

O senhor tirou o urso castanho e deu-o ao rapaz que estava eufórico. Harry parecia feliz pelo filho, mas também expressava desconforto por não ter ganho nada. 

"Não precisas de me impressionar." -sorri-lhe-" Já tiveste a tua vez." pisquei-lhe o olho

Recordo-me das vezes que fomos a feiras populares como esta, a concertos e festivais, a tudo e mais alguma coisa que dois adolescentes e namorados podem fazer. Mas cada coisa a seu tempo, e agora tínhamos era que nos dedicar aos nossos dois filhos. Em ambas as gravidezes decidimos que não queríamos saber qual o sexo do bebé, que fosse algo a ser descoberto no parto. E por sorte, tivemos uma adorável rapariga. Como prometido, Harry deu o nome de Darcy à nossa menina. Não nego que adoro o nome, porque lhe fica mesmo bem e é mesmo a sua cara. Aliás, é mesmo a cara de Harry. Enquanto que Edward tem os meus cabelos, as minha feições de rosto e os meus olhos avelã, Darcy tem uns caracóis loiros, bem encaracoladinhos como os do pai e uns olhos, que não eram olhos, mas sim duas grandes esmeraldas verdes. Harry tinha um tremendo carinho pela filha, mais do que pelo filho, diria eu, mas acho que os pais acabam sempre por ganhar um afeto nem que seja ligeiramente mais forte por um dos filhos, ainda que não devesse ser assim. 

Far Way ;; h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora