51

543 43 9
                                    

Senti leves carícias nas coxas expostas e acordei subitamente. Olhei para o lado e sorri aos dois pontos verdes que me fitavam. Como eles eram bonitos. Como ele era maravilhoso. Passei a mão pelos seus caracóis selvagens todos despenteados e proferi um "bom dia" quase inaudível. Levantei-me e vesti um robe cor de rosa, pendurado na beira da cama. Tinha em mente um pequeno almoço repleto de açúcar e guloseimas.

"E o meu beijinho?"

"Estás muito longe." reclamei, esticando o braço

"Não me vais dar um beijinho?" fez beicinho

Neguei com a cabeça e diriji-me à cozinha. Retirei leite, ovos e farinha. Um prato grande e o resto dos utensílios. Preparei uma dúzia de crepes tal como o Harry gostava. E eu também. Uma vez prontas, coloquei a mesa e esperei que ele viesse.

"Não me vais falar?"

"Não me deste um beijinho." cruzou os braços contrariado

Limpei as mãos no pano e saltei em cima dele fazendo-o quase tombar. Ele agarrou-me as pernas e fez-me rodopiar, enquanto eu tentava a todo o custo, dar-lhe vários beijos na cara. Seguimos para um beijo intenso que rapidamente se propagou a um linguado. As nossas línguas tocaram-se durante algum tempo, dando a conhecer cada canto do parceiro. Ele andou até à bancada e colocou-me em cima desta, apalpando o meu rabo por trás. Levei as mãos ao seu pescoço e agarrei um fio de cabelo, brincando com ele. Ele estava prestes a tirar a minha blusa de dormir quando o impedi.

"Não vamos exagerar."

"Se chamas a isso exagerar."

Ele olha para baixo e eu sigo o seu olhar, acabando por observar um alto nas suas calças. Homens.

"A sério Harry?"rio

"Metes-me fora de mim. Agora já acreditas?"

"Acredito em quê?"

"No que eu sinto por ti. Eu amo-te, e tu não acreditas." sorrio ligeiramente

Aproximo-me e acaricio o seu rosto. Levo a mão ao seu cabelo e pentei-o com os dedos. Beijo suavemente os seus lábios e aproximo-me, susurrando ao seu ouvido.

"Sempre quis acreditar e acredito. Só que nunca tu disse."

Levei o prato com os crepes para a mesa e sentei-me.

"Não vens?"

Ele sentou-se e tirou duas crepes colocando-as no prato e espalhando doce de laranja.

"Que nojo. Doce de laranja." fiz uma cara feia

"É muito bom. Melhor que tu."

"Melhor que eu?! " esbocei uma cara de espanto

"Melhor que tu, sim. Nunca te provei, que eu saiba." sorrio perversamente

"Podes ter a certeza que sou muito melhor."

"Mais saborosa, então." revirei os olhos

Comi cerca de cinco crepes, todas com o mesmo doce. Morango. É sem dúvida o melhor e o único que aprecio. Olhei para Harry múltiplas vezes sem que este se apercebesse. Parecia um anjinho a comer as crepes. Fui apanhada a observa-lo e este sorrio de lado. Ri-me.

"Muito pensativa?"

"Talvez.." sorri fraco

"Então o que se passa?"

Engoli em seco. "Tenho uma pergunta à qual não obtenho resposta sem ta perguntar primeiro."

"Conta."

"Porque é que me foste buscar?"

"Porque é que isso surgiu agora? Lá vens tu com a história do teu pai." bufou

"Não surgiu. Ando à demasiado tempo com ela, aqui a picar-me para eu falar, mas eu nunca falei e achei correto perguntar."

"Não sei. Quer dizer, tu estavas sozinha numa ilha, não sabias do teu pai e eu era a única pessoa que sabia da tua existência, que estavas viva. Não fazia sentido deixar-te lá."

"E foi só por isso? Porque eu estava lá sozinha? E se o meu pai não tivesse desaparecido? Se nunca tivesse ido na sua viagem e estivesse tudo bem, alguma vez me irias buscar? Mesmo que o meu pai o contradissesse tu virias?"

"Eu não sei Sophia, felizmente que te fui buscar e por um lado ainda bem que isto tudo aconteceu. Não teria aqui, agora."

"Estás a dizer que foi bom o meu pai ter morrido?"

"Nao foi nada disso que eu disse. Não inventes. Estou a dizer que se essa tragédia não tivesse acontecido, provávelmente não estarias aqui."

"Só se não o quisesses. Podias muito bem ir buscar-me. O que significa que só o fizeste para salvar uma menina insegura e assustada. Mais nada."

Levantei-me e lavei o prato juntamente com o copo que continha sumo de fruta. Ele agarrou o meu pulso e apertou-o com alguma força para me chamar a atenção.

"Estas a aleijar-me." proferia mesmo depois de ele continuar

"O que é que querias que eu tivesse feito?"

"O que estava certo."

"Então o certo não é isto? Querias ter ficado?"

"O meu sonho era puder abraçar-te e saberes que eu existia. Nunca pensei ficar a viver contigo e estabelecer uma relação. Estará isto certo?"

"Estás arrependida?" ergueu um sobrolho

"Antes pelo contrário. Estou grata por tudo isto. Mas contínuo a achar que tudo isto é uma fantasia."

"Uma fantasia muito duradora." rio

Ele puxou-me contra si, levando-me a um beijo. Debati-me no seu abraço mas em vão. Ele começou a fazer-me cócegas e eu ria como uma desalmada.

"Porque é que respondeste ao meu comentário? Aliás, porque é que quiseste saber a minha opinião?"

"Porque foste a escolhida." sorrio

"Havia mais par além de mim?" arregalei os olhos

"Não. Estou a brincar contigo. Apenas, não sei, apeteceu-me fazer uma fã feliz." riu-se

"Feliz ao ponto de ela viver em tua casa à mais de um mês?"

"Feliz ao ponto de estares a viver comigo à mais de um mês, sim."

-Carol

Far Way ;; h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora