Inconsciente

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 O clima do lado de fora daquela "caverna" estava ruim, eu me sentia apunhalada pelas costas, a todo momento pensava na tal da profecia. O arco estava preso em minhas costas, por incrível que pareça nem pesava.

 Nossos Pégasus já estavam perto, eles bufavam e suas respirações eram fortes como se estivessem cansados. Não queria dizer nada, simplesmente montei no meu e alcei voo. Seguíamos direto para Nova Yorque. A viagem demorou umas 2 horas e somente comentários se saíram durante o trajeto, já no espaço Novaiorquino a neve havia diminuído, porém fazia um manto sobre a grama que antes era verde. 

OK, agora precisávamos caminhar. Eu me mantive logo atrás, e Leandro estava na minha frente, cada vez mais estava frio, minha respiração estava totalmente visível. De relance olhei para as árvores a minha esquerda, tive a sensação de estar sendo vigiada, parei silenciosamente enquanto meu grupo se afastava. Havia algo por trás de uma montoeira de arbustos secos, parecia algum animal, de grande porte, não podia ser um coelho e nem nada do tipo.Parecia mais um... Centauro? Se fosse ele estava abaixado como se tentasse se esconder. 

 Despassei o arco de Cronos e o armei, isso alertou os outros.

- O que houve Charloe? - não respondi, na verdade estava tão vidrada no animal que nem me importei em ignorar quem é que tenha feito a pergunta. 

Eu sentia seu olhar, seus olhos se destacavam sobre a névoa que sua respiração fazia. Sua cabeça levantou, sim! Era realmente um Centauro! Ele bufava e começou a andar vagarosamente em minha direção, quando chegou mais perto seus olhos encontraram os meus e ele mugiu ou sei lá o que, por um segundo pensei que ele não ia fazer nada, porém sua pata direita se fundiu no chão e se moveu para trás, a mesma coisa que um touro faz antes de atacar. E por fim, correu.

 Por estar perto demais, acabou me arremessando e por burrice eu deixei o arco mais poderoso do mundo cair.  Saí rolando pela neve e quando levantei a cabeça minha visão estava turva, havia batido minha cabeça, me aponhei nos braços e levantei desesperadamente, não podia deixar aquilo acontecer, precisava devolver o arco pros deuses, salvar meu mundo e me ver livre de tudo aquilo. 

Os meus amigos o cercavam enquanto Leandro vinha até a mim, um pouco mais longe estava o arco, e consequentemente o Centauro tentava chegar até lá. Dispensei a ajuda do filho de zeus e saí correndo em direção da arma. Parece que o animal percebeu e jogou dois campistas para longe para abrir caminho, assim era somente eu e ele, em uma corrida meio incomum.

 O animal já passava de mim, e mesmo sabendo que eu não teria mais chances contra ele, eu continuei. Persisti por minha mãe, pelos semi-deuses, pelos humanos, e acima de tudo, continuei por mim.

 Meus pulmões ardiam, já não conseguia mais puxar todo o ar necessário, o vento cortava meu rosto com voracidade, e meus pés perfuravam a neve com força. Enfim ele alcançou o arco, o centauro parou a minha frente me desafiando a passar. Toquei meu colar e desejei uma espada, apesar de nunca ter usado alguma arma que não fosse um arco em combate eu sentia que agora podia, que aquela era a hora.

 Éramos só nós dois, novamente o animal arrastou sua pata sobre a neve, de seu focinho saia leves pingos de suor, por um momento rápido tentei passar a minha espada por seu chifre, porém ele levantou o rosto e um corte surgiu em sua cara. Ele avançou.

 A briga se seguia por alguns longos segundos, o centauro me rodeava a cada ataque e eu correspondia com investidas brutas. Na lamina da minha espada se encontrava feixes de sangue, nele os cortes se aprofundavam cada vez mais devido a minha raiva. Meus braços além de estarem dando espasmos por causa do cansaço, ardiam devido os ferimento feitos pelos chifres do animal. Em um momento de descuido ele me arremessou em direção ao chão, eu quase voei pra falar a verdade, olhei de relance e o vi se aproximar, com passadas largas porém lentas parecendo que ele estava recuperando o ar e a energia gasta.  Comecei a me arrastar, só que a neve parecia me agarrar, querendo que eu não continuasse. No momento em que caí na real que não havia mais saída, parei de fugir e me virei. Por incrível que pareça meu colar de Poseidon se prendeu no botão de minha jaqueta, e eu não o perdi. Minha vista novamente embaçou e eu senti uma dor tremenda em minha nuca, toquei o local para conferir e sentir meus dedos se umedecerem, estava sangrando.

 Meus olhos começaram a pesar, como se eu não dormisse a dias. Na verdade eu não dormia direito a dias, e então era bem provável que eu esteja com sono acumulado, antes de adormecer conferi o cenário: sob a pouca luz do sol, meus amigos se encontravam caídos um pouco mais afastados de mim, de longe se via com muita dificuldade se via faróis de alguma rodovia ali perto, foquei minha visão para cima de mim, diretamente para o centauro. Ele estava como as patas abertas em volta, e seus chifres cravados bem rentes a minha cabeça sem me dar nenhuma opção de me mover. Seus olhos que antes eram negros agora se apossavam de tons avermelhados, e seu bafo era horrível. Fechei meus olhos e me entreguei ao sono.

"Que bom ter você por aqui Charloe." -uma voz despertou em meu consciente.

"Sabes quem eu sou?" -a voz era rouca e áspera.

"Suponho que não, mas sou Cilo. O titã que vai te derrotar assim como fez com todas as outras iguais a você, aquelas que se colocaram em meu caminho. O mundo está fadado a morte minha doce crianç..."

Não consegui ouvir o resto, uma dor muito forte me atingiu com brutalidade, as memórias que antes se encontravam perdidas em meu consciente voltaram a circular, lembrei das minhas noites solitárias dentro do meu quarto quando a vontade de ter um pai era imensa, o quanto eu ficava em silêncio sendo obrigada a ouvir os risos das crianças na rua, pude sentir o sol grego queimar em minhas costas, como se tentasse marcar quem eu sou. Era como se meu sofrimento não valesse a pena antes, além da dor física minha mente estava perturbada, as vozes aumentavam.

- Volte para mim princesa, mamãe te espera. 

- Você não é capaz de fazer esta missão.

- Vou derrotá-la.

-Esqueça tudo isso.

 Eu acordei, meus olhos bateram direto em na pelagem do centauro, foi quando tudo teve sentido, eu estava apoiada por seu chifre, acho que até mesmo atravessada. Minha carne se dilatava, a dor estava me deixando sem ar. Antes mesmo de tentar conter minhas lágrimas, eu já chorava como uma criança, estava com medo. Comecei a babar sangue, cada vez mais ficava inconsciente.

 De relance, olhei ao meu redor. As árvores que antes não tinham galhos começavam a florescer, o céu se fechou mais ainda, mas depois se abriu. Formando uma mistura de raios e trovões sobre sua luz, as nuvens continuaram presentes no cenário e despejavam sobre nós uma chuva fraca, sobre a neve uma grama muito verde começou a brotar, os fios de cabelos que se caiam sobre meus ombros e pousavam sobre a pelugem do animal se misturaram em seus tons. Abaixei minha cabeça sem mais força para continuar, e posei meu braço sobre as costas do centauro, foi quando vi meu colar. O peguei sem energia alguma e pensei em uma lança, consequentemente enquanto ela se formava foi adentrando para dentro dele, nós caímos no chão. Mesmo sendo fácil me livrar de seus chifres eu não fiz nada, simplesmente continuei ali, parada, olhando para um ponto sem foco. Sentia minha vida ir embora, mas mesmo assim não era capaz de fazer nada para me salvar. Acho que morri ao fechar meus olhos, porque não consegui mais abri-los, além de não conseguir mais pensar. Morta ou não, eu não tinha conseguido salvar o mundo, falhei com meu objetivo, matei minha mãe, matei meus amigos, matei a mim propia, com toda certeza os deuses erraram em sua escolha, eu não servia para a mitologia. Eu era apenas uma garota normal, com uma vida incomum, eu era Charloe Adams, mas agora suponho que não sou nada.

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Sinceramente acho que me superei neste capítulo, não sei em como vou dividir o último capítulo mas espero que gostem, será que Charloe morreu ou não? Explicações daqui a pouco negada! Amo vocês, obrigada de verdade. 

-Charloe- Filha do OlimpoOnde histórias criam vida. Descubra agora