OK, eu não estava morta. De longe se ouvia uma música clássica, provavelmente vinda de uma harpa, estava deitada em uma superfície macia que elevava de leve meus ombros, primeiramente senti medo de abrir os olhos por receio do cenário que iria encontrar mas a curiosidade acabou me forçando a abri-los.
Estava em uma sala muito grande, parecia mais a casa de um gigante, porém era bem decorada, as paredes altamente cumpridas eram acompanhadas por janelas, o sol adentrava o local com leveza e parecia destacar as grandes obras de artes penduradas na parede oposta de um piano, também em tamanho anormal. A decoração se baseava em tons claros que se sobrecaíam em dourado, o piso era de pedra escura.
Mesmo com a visão ainda turva pude avistar do lado esquerdo da cama uma bandeja de comida, com pedaços de bolo, copos de sucos, e frutas vistosas que jamais vi. Meu estômago parecia ter um buraco negro, comecei a devorá-la.
- Calma, a comida do mundo ainda não acabou. -levantei meus olhos, na minha frente estava um homem com traços perfeitos, com tons de cabelos aloirados e olhos verdes azulados. Terminei de mastigar.
- Quem é você?
- Sou apolo. - meu corpo se enriqueceu, primeiro eu estava no Olimpo, e segundo estava na frente do meu pai. Ele era o homem que sempre quis conhecer, mesmo sentindo um pouco de raiva por ele me deixar junto a minha mãe, não pude deixar de sorrir. Era um sorriso largo e sincero, mas de repente se transformou em vergonha, eu sabia que tinha falhado com minha missão. Abaixei os olhos.
- Você está bem? - ele perguntou.
- Eu sinto muito.
- Pelo o que Charloe?
- Eu falhei. - minha voz estava trêmula, estava quase chorando.
- Ei, você nos salvou. Não se preocupe o meu arco-flecha está a salvo aqui no Olimpo.
- Mas como?
- Quando você matou o centauro, seus amigos se recuperaram e conseguiram levantar.
- E como ele estão? - me mexi incomodada pela dor.
- Eles estão bem não se preocupe. Charloe obrigada. Vim aqui te agradecer e te pedir desculpas como pai e como deus, sem você agora estaríamos em apuros e sei que pra você isso tudo foi um sacrifício, eu senti sua dor, pude ver sua angústia e raiva, e por isso te peço perdão, tanto por não interferir, quanto por te colocar em uma situação como esta. Você é apenas uma criança e não tinha que passar por nada daquilo.
Me lembrei da raiva que senti na caverna, na vontade que tive de ser quem eu era antes, mas aquilo tudo passou. Agora, não sinto mais nada, estou feliz por ter este momento, se eu fosse ainda uma humana normal, teria que conviver com uma mentira que todos acham que não existe, não acreditaria na mitologia grega.
Sorri.
- Venha, os outros querem te conhecer. -ele estendeu sua mão pra mim, como imaginei, era quente como o sol.
Fiquei feliz por ele estar ali, mas queria algo mais. Talvez um abraço, ou mais algum tempo, andava com dificuldades, porém quase não tinha mais dor, provavelmente por causa do efeito de algum remédio dos deuses e pela presença do meu pai.
Nós passamos por uma imensa porta e atravessamos um pátio com incríveis flores, todos os tipos de cores e tamanhos.
- Aqui é lindo! -falei admirada.
- Aqui é o que os humanos chamam de paraíso.
- Só que eles não vem para cá. Vão para tártaro. -disse um pouco triste.
Ele não disse nada, apenas apertou minha mão e me lançou um sorriso meigo. O campinho de flores não era muito grande, e logo nós acabamos de atravessá-lo entrando assim em um grande salão, onde os deus estavam sentados conversando.
- Não acredito no que eu vi, ela não é normal Zeus.
- Eu sei Hera, mas precisamos ter fé de que ela é a escolhida. -eles ainda não haviam me visto, por isso meu pai coçou a garganta.
Todos ficaram em silêncio me encarando. Até Afrodite quebrar o silêncio.
- Deuses do olimpo, e não é que ela é bonita.
Ignorei o comentário e analisei os deuses, eram incrivelmente lindos. Zeus saía das minhas expectativas, tinha uma aparência um pouco mais velha, com cabelos brancos e olhos cinzas marcados por rugas.
- É Apolo, você sabe fazer filhos.
- Cale a boca Hefesto, deixe meu irmão em paz.
- Venha criança. - Zeus me chamou.
- Apresente-se. - Hera disse friamente.
Me mantive calada. Mesmo que tentasse dizer algo minha boca não se movia. Meus olhos pousaram no horizonte e senti uma leve brisa ultrapassar as colinas, por trás dos Deuses os céu se tornava cada vez mais alaranjado, como se o sol já partisse. De repente comecei a me lembrar de algumas coisas, como a tempestade que teve quando ainda tinha 9 anos de idade e meus amigos da escola estavam chorando assustados por causa dos trovões, e eu sorria brincando com o barulho.
E também no dia em que fizemos uma excursão em um lago próximo a nossa cidade, para conhecer o processo de limpeza da região, acabei me desequilibrando enquanto me apoiava na proteção e caí na água, mesmo não sabendo nadar na época eu sobrevivi. Acontecimentos do tipo foram aparecendo em minha memória e ganhando finalmente um sentido que antes eu não imaginava ter.
- Charloe! - voltei a encara-los.
- Responda Hera querida. - Afrodite disse meigamente.
- Você já me conhecem muito bem. Foram quem me criaram, vocês estavam lá não é mesmo? Todas as vezes, como quando eu fui atacada por um lobo na floresta, foram vocês que me salvaram, e aquilo não era um lobo. O mal sempre esteve perto de mim, eles sempre souberam quem eu era desde o início, minha mãe não saía pra trabalhar, ela fugia, por isso nunca houve divulgação e nem um bufê para as minhas amigas. Meu peixe, sobreviveu 7 anos. Os gatos miavam quando eu passava, os cavalos se aproximavam, as aves me perseguiam... Eu sempre estive com vocês, mas nunca percebi.
O céu atrás de nós trovejou. As cores alaranjadas desapareceram e se transformaram em cinzas. Voltei a encarar os deuses buscando proteção, mas não havia. Seu olhos transpassavam medo, a tensão tomou conta de seus incríveis corpos.
- Fui eu quem fiz isso? - gaguejei.
- Não, foi Cronos. -meu pai me abraçou.
- Charloe, saia pelos fundos e vá até a casa no alto da colina e encontre seus amigos. Corra!
Obedeci Atenas.
Eu já sabia que corria contra o tempo, os ventos que antes podiam ser chamados de brisas se tornaram ventania, as nuvens pareciam que iriam cair sobre mim, meus pés cortavam o chão com rapidez e estalavam de dor, mas não me atrevi a parar. Seguia cada vez mais rápida e quando finalmente cheguei bufei de alívio por não estar sozinha novamente, estavam todos lá.
Cada um deles, me encarando com olhar de dúvida. Parei bruscamente.
- O que houve Charloe?
- Cronos. Ele veio até nós.
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Pequenos cometários, estou sem celular de novo. Me perdoem pela demora, apesar de já ter em mente o final deste meu primeiro livro não estou tendo como escrever, mas vou fazer de tudo par conseguir até o final deste mês. Amo vocês.
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-Charloe- Filha do Olimpo
RandomQuando situações ruins te cercam, muitas vezes você não tem escolha. Se os filhos dos deuses estão em perigo, as pessoas juradas de morte, e os própios deuses, aqueles encarregados por cada elemento, cada estação, sentimento, ou virtude, podem ser...