Capítulo 31 - 26 de julho (Pedro)

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26 de julho de 2016

Meu diário,

Que ideia parva tive!

Diz-me! Fez algum sentido?

Como te disse na última página, tinha-me decidido a ir falar com o Carlos. Falar e ver como ele estava.

E fui.

Demorei o que pareceu uma hora a arranjar coragem para ir falar com ele. Para dizer aquilo que se passava. Quando me ia a aproximar para tocar à campainha, recuei, como se o bicho papão estivesse à minha frente. Recuava em passos e avançava com pensamentos que me queriam fazer desandar dali para fora. E em parte tinham razão. Eu mal conhecia a rapariga. Mal conhecia a Sofia. Nem o seu nome completo sabia..., mas...

Mas porque não me sai ela da cabeça? Porquê?

- É isto que é amor? – bufei para o ar, fechando rapidamente a boca, apercebendo-me de que estava junto à casa de Carlos. – Vamos lá acabar com isto!!!

Toquei à campainha e esperei, com o coração aos saltos à medida que o som ecoava pela casa já familiar.

- Oi! – saudou Carlos, abrindo por completo a porta e fazendo-me sinal para que entrasse.

- O...olá! – respondi, ainda sem saber o que raio estava ali a fazer.

"Se me fosse agora embora seria muito mau?" – pensei para comigo.

- Estás bom? – quis saber, conduzindo-me até à sala, onde se sentou, e voltou a atenção para a PlayStation.

- Sim, sim. E tu? Que estás a jogar?

Ele atirou o comando para o lado e fitou-me, claramente intrigado.

- Ok! Tu não estás bem. Qual o dilema?

Questionei-me, "digo ou não digo?

Não tem mal, pois não?

Mas ele estava ainda a recuperar...

3...

2..."

- Eu poderei estar a desenvolver um interesse pela Sofia.

O ar parecia ter desaparecido.

Tanto ele como eu sustínhamos a respiração.

Parecia lívido. As suas mãos apertavam com força os joelhos. Não fosse ele humano e diria que já os tinha partido.

Impaciente, levantei-me. Estava incapaz de o olhar.

É uma coisa tão estúpida. Amor à primeira vista. Que ridículo. Que cliché! Mas a verdade é que não a conseguia tirar da cabeça. Não conseguia, por mais que tentasse desviar a atenção para outras miúdas. A maneira como o seu olhar tinha tocado o meu... tinha, simplesmente, incendiado o meu coração. O meu coração nada habituado a estas coisas. N-a-d-i-i-n-h-a.

- A Sofia... Qual Sofia, Pedro? – quis saber, articulando amargamente o meu nome. Estava claramente incrédulo.

- A Sofia... tu sabes. Fogo, não tornes a situação mais constrangedora.

- Ah! Eu é que estou a tornar constrangedora?

Ele tinha razão. O que eu dissera fora, claramente, uma escolha errada de palavras.

Exasperado, voltei a sentar-me, esperando que fizesse o mesmo. Queria tê-lo calmo e à minha frente. Não queria estar a tocar mais na sua ferida. No seu coração destroçado por sentimentos passados e que, para sempre, marcariam o seu futuro.

- Desculpa. Eu não sei porque aconteceu. Nem como. Perdoa-me. Eu precisava só de te... de te contar. Não me estava a sentir bem. Por favor, perdoa-me. Eu não controlo...

Ele sentou-se, fixando-me. As suas mãos estavam já relaxadas e o olhar... esse, esse tremia.

- Eu sei que não controlas. Tal como eu não controlei. Tal como ela me invadiu a vida e o fez por uma razão tão cruel.

- Estás a querer dizer q...

- Deixa-me acabar... - retorquiu, calmamente. – Eu disse-lhe para ela ser feliz. Na altura, não imaginava o quão difícil iria ser, agora, vê-la com outro rapaz. Mas não a posso impedir. Tu és o meu mano, das pessoas que mais quero ver feliz e devo-te isso pelo que passaste comigo, mesmo quando te estavam a crescer sentimentos por ela. Devo-o também a ela e à irmã, que aposto iria querer o mesmo.

- Obrigado! – proclamei, incrédulo pelas suas palavras. – Obrigado! – silabei novamente, abraçando a pessoa com o maior coração do mundo.

- Só te peço uma coisa. Ou melhor... duas! – respondeu-me, tentando sorrir.

- Tudo!

- A primeira, é que não te posso dizer que não me irá custar ver-te eventualmente com ela, se vocês andarem, quero dizer.

- Eu compreendo, sabes disso! E a segunda? – perguntei, mal ele assentira.

- É que quando e SE fores para... te envolveres com ela, o faças com o coração e a cabeça. Não só a de baixo! – exclamou, rindo-se a pregas soltas, dando-me um leve encontrão. E chorava. Não conseguia imaginar o conflito interno em que se encontrava.

- Não te preocupes, SE isso acontecer, será por que é a altura para acontecer. E será sincero! Prometo.

E é algo que espero cumprir.

Pedro


P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora