Capítulo 3 - 3 de julho (Sofia)

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3 de julho de 2016

Olá diário,

Que noite.... Ok, não aconteceu nada assim de mais, mas acho que vou rechear estas páginas amareladas com todos os detalhes da noite. Ou assim o espero... sabes, a mente às vezes prega-nos partidas!

Ontem vesti o que de melhor tinha no guarda-roupa. Algo que fosse leve e me ajudasse a enfrentar a noite quente. O meu vestido amarelo foi a escolha que me pareceu mais acertada, para combinar com o bronzeado que adquiri com as minhas corridas matinais. Sim, eu corro pela manhã. À falta de melhor maneira para eliminar esta barriguinha... e a minha mãe fez questão de me ajudar com o fecho na parte de trás do curto vestido. Não era propriamente curto, curto... como que "terminava" numa saia, que me favorecia as pernas. Meu diário, não me julgues por esta escolha de palavras, mas há uns anos era como que gozada pela minha... pela minha estrutura, pelo que, agora que tenho oportunidade, ao menos que mostre. Nem que seja só mesmo um pouquinho. Também te confesso que, antes, não tinha vergonha no meu corpo, muito pelo contrário! Ao menos que o meu esforço possa inspirar outras mulheres, ou homens, sabe-se lá...

Ao fim de uma meia hora, despedi-me da minha mãe e do meu pai com um beijinho, carregando-lhes as bochechas com o meu batom bordô, e lá saí alegre de casa para a festa que tinha já começado na Praça Rodrigues Lobo.

Tal como te contei, prefiro o conforto do meu quarto a festas onde só vejo malta a divertir-se em banhos de álcool, mas esta festa... aquela que vivi, ultrapassou as minhas expetativas. Bem, verdade seja dita, não tinha o hábito de sair muito. Mas agora, depois da noite passada, fiquei com mais vontade. A Praça estava decorada tal como tantas vezes vira em filmes: candeeiros de papel avermelhados pendurados de prédio em prédio, ligando-se estes candeeiros às árvores também elas iluminadas. Um cenário digno de fotografia, em que nem a lua se mostrava tímida, dando um brilho acrescido. Os bares estavam cheios e pequenas bancadas estavam dispostas em círculo pela Praça, vendendo quer comida, quer bebidas, pequenas bebidas alcoólicas era o que predominava. Resumidamente, era uma festa gigante, onde um conjunto de DJs ia mostrando o seu valor.

As gémeas estavam animadíssimas e, rapidamente, me arrastaram para o meio da gigante pista de dança. Dancei, MUITO, e diverti-me. Especialmente pelas gargalhadas provocadas pelas piadas parvas da Marta aos penteados de algumas raparigas. A mais marcante foi a sua crítica a uma rapariga que lá estava, cujo cabelo mais parecia um abacate.

Mas agora, que te contei o ambiente e a animação que estava a sentir, vou falar-te do que me aconteceu quando fui à casa de banho... ou melhor, quando tentei ir.

A confusão era enorme, é certo. De encontrões não me livrei, mas... como te hei de dizer isto de forma elegante?

Olha, não há maneira. Ia eu, no meio da manada que se deslocava para umas casas de banho extra ali colocadas, quando me perdi na confusão e embati num rapaz, caindo redonda no chão. Foi a minha maior humilhação. Acho que, se estivesse perto de uma das bancadas, me enfiava lá debaixo.

Mas... confesso que parte de mim se aqueceu com o que aconteceu. Não pela queda e pela vergonha, mas pelo gesto de um dos rapazes do grupo. Estendeu-me a mão e pôs--me em pé num ápice.

Vamos fazer aqui um parêntesis: eu tenho estado sozinha há bastante tempo. Tanto tempo que nem uma mão chega para o contar. Sempre estive enfiada nos estudos ou nos livros e... e depois do que aconteceu (aquilo que ainda não te consigo contar, desculpa) nunca mais troquei qualquer carícia que fosse com um rapaz. Pelo menos romanticamente. Ou seja, ver este gesto num rapaz desconhecido alegrou-me o coração.

Quase que consigo ouvi-lo:

- Desculpa o meu amigo... Ele já está mais para lá do que para cá...

Lembro-me que ri. Aquele riso estúpido e quase esganiçado, sabes?

- Obrigada! Como te chamas?

Pois foi... foi mesmo assim que fiz a pergunta. Acho que devo ter ficado com a cara ainda mais vermelha, mas, olha, não havia nada a fazer.... O que está dito, está dito. Não é verdade?

Bem... já me alonguei muito e a minha mãe está-me a chamar para a ajudar. Ela entrou de férias ontem, pelo que agora terei um dia de limpezas pela frente. Ao menos ficarei a pensar neste pequeno mistério com que te deixo. Já estás desejoso de saber mais, não é?

Despeço-me de ti,

Beijinho,

Sofia

P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora