7 de agosto de 2016
Olá meu confidente!
Sinto-me tão feliz que as palavras até me custam a sair. Como se, na força da caneta com que te escrevo, estivesse implícita a vontade em te descrever tudo, em demonstrar-te o que estou a sentir...
Nunca pensei, realmente, que me pudesse apaixonar completamente pelo Pedro. Pensei sempre que seria um romance de verão. Mas não!
Cada toque seu é uma corrente de bem-estar que me invade. Transformando cada uma das minhas células. Como se as elevasse a algo mais. Como se o meu sangue passasse a ter a designação "Amor+"...
Sei que não és capaz de sentir qualquer tipo de emoção, diário, mas..., mas amar é quase assim. Sermos incapazes de distinguir, por completo, o que estamos a sentir. Ou até de compreender o que o outro está a sentir. É todo um jogo. E, por vezes, um jogo mal compreendido. Por isso a noite de ontem foi o melhor. O melhor para conseguirmos compreender todo este "tabuleiro" do amor. Para percebermos em que lugar estava cada uma das "peças". Para entendermos como cada um se sentia em relação ao outro. Se eramos capazes de ficar na mesma "casa" ou se, simplesmente, iriamos esperar que os "dados" ditassem a nossa sorte.
Estava na sua sala. Uma sala não muito grande, mas com o espaço suficiente para dois sofás de pele branca que formavam um "L" e uma televisão com um ecrã considerável. Por debaixo dela, um móvel em madeira, recheado de filmes e, claro, o nosso próximo.
- Senta-te! – pediu-me, afastando as almofadas do sofá que ficava praticamente voltado para a televisão.
Assim fiz, sentei-me e observei-o. Observei os seus movimentos descontraídos. Quer ao abrir da caixa do DVD, quer ao ligar o leitor, e até mesmo a maneira como coçava a cabeça ao pôr a televisão na entrada de vídeo correta. Hoje já não estávamos "vestidos para impressionar"! Já tínhamos passado essa fase. Eu trazia, colados a mim, uns calções brancos de verão e uma t-shirt que as M&M me tinham oferecido no meu aniversário passado. Ele estava com uma t-shirt em "V" branca e uns calções de banho vestidos. E estava tão descontraído que atirara com os chinelos para um canto encaminhando-se descalço na minha direção. E adorava! Adorava como tínhamos chegado a este ponto. A um ponto casual. Confortável.
- Oh meu Deus! Desculpa! Sou tão estúpido! – confessou, visivelmente aterrado.
- O que se passa? Fiz algo mal? – perguntei, nervosa com a sua expressão.
- Estava tão tranquilo que nem me importei com o que ia vestir.... Desculpa! Eu vou trocar de roupa, ok?
Ele ficava tão engraçado, atrapalhado e a querer arranjar-se...
- Não tem mal nenhum. Estás na tua casa. Vim cá para ver o filme, não a ti! – disse, rindo-me. Mas depois parei. Será que ele não tinha percebido a piada?
- Certo... - respondeu, sentando-se a meu lado, carregando no botão Play.
- Sabes que estava a brincar, não sabes? – confessei, baixinho.
Ele olhou para mim hesitante, nervoso. Não conseguia decifrar o seu olhar, o que queria dizer, mas nada foi preciso. Tudo o que sei é que o logotipo do Harry Potter estava a passar na televisão e tudo o que conseguia ver era o rosto de Pedro a aproximar-se do meu.
A aproximar-se... A sua respiração quente acariciava-me e os seus dedos tocavam-me, hesitantes. A sua testa encostou-se à minha e o seu nariz ao meu.
Estávamos tão próximos que podia jurar ver o seu coração bater pelo tecido fino da sua t-shirt. Sentir os seus braços junto aos meus. Sentir a sua insegurança junto da minha...
- É melhor vermos o filme... - articulou, afastando-se a custo de mim.
A sua testa afastou-se da minha. A sua respiração já não me acariciava o rosto e os seus dedos, há muito, tinham abandonado os meus.
"Por favor, não te afastes...", pensei. "Porque o fizeste?"
O filme continuava a desenrolar diante dos meus olhos, mas, a pouco e pouco, era substituído por aquilo que acontecera há minutos, talvez há uma hora atrás. A maneira como tínhamos estado, pela primeira vez, tão próximos. A maneira como o seu aroma a menta, da sua pasta de dentes, me tinha deixado a desejar pelo toque dos seus lábios. Lábios esses que ora se abriam ora se cerravam, contendo a vontade que ele tinha. Uma vontade que eu também tinha.
Ele estendeu-me o balde de pipocas que tinha preparado e voltei a comer, na esperança de que o barulho do milho afastasse os meus pensamentos.
Mas não!
E por isso comi mais.
E mais!
O meu corpo começava já a reagir mais ao filme e à minha vontade de silenciar outros pensamentos menos próprios. Mas foi no meio dessas investidas ao balde, já quase vazio, que as nossas mãos se voltaram a tocar. Se acariciaram. Se amaram.
- Foda-se para isto! – vociferou, atirando com um só gesto as poupas pipocas que faltavam para o chão, colou a sua testa à minha e beijou-me.
Ele estava a beijar-me!
Os seus lábios tocavam nos meus, carinhosamente, como que pedindo permissão. A minha boca ia de encontro à dele e, meu Deus, se não sabia tão bem tê-lo assim tão perto de mim. Sentir o seu calor. A sua respiração acelerada a criar uma melodia com a minha. E, por fim, o sabor da menta que adensava mais a dança das nossas línguas.
Ele agarrou nas minhas mãos e aconchegou-as nas dele, afastando, gradualmente, os seus lábios dos meus.
Olhámo-nos fixamente por o que pareceu uma eternidade, mas a diferença era que agora já não eramos meros parceiros de corrida. Eramos algo novo. Algo nosso. E, apesar de assustador, algo de maravilhoso.
O seu olhar era profundo, quase uma incógnita, mas uma centelha de preocupação era visível, dado o que tinha acontecido.
Agora o medo invadia-nos. O medo de não saber a onde iria isto parar. Qual o nosso próximo movimento. A próxima jogada.
A sua respiração estava profunda e foi com alguma surpresa que, sem uma palavra, me deitou sobre o seu peito agitado e continuámos a ver o filme. O único som era o da televisão, porque, entre nós, apenas os nossos olhares falavam. E os pensamentos... esses, esses nem queria imaginar.
O filme foi o mesmo durante toda a noite. Quer o que passava na televisão, quer o da minha vida amorosa. Mas estava a gostar, diário. Sentia que, agora, ao fim de todas estas semanas, estava feliz. Estava tranquila e contente pelas decisões que tinha tomado. Decisões que me tinham levado àquela noite. Àquele sofá. Àquele beijo. Àquele abraço.
- Eu amanhã digo-te alguma coisa... - sussurrou-me, envolvendo a minha cintura nos seus braços, beijando-me ao de leve o pescoço. Um beije leve e, sobretudo, cuidadoso. Era como se ele tivesse medo de me partir. Medo que me desfizesse diante dos seus olhos.
Assenti, incapaz de verbalizar o que quer que fosse, e saí da casa dele. Sozinha, mas acompanhada em espírito. E ainda o sentia. Ainda sentia como as suas mãos tinham agarrado a minha cintura e, se fechasse os olhos, jurava que ainda estava nos seus braços.
Mas não. Estava em casa, agarrada a um cobertor, na esperança de voltar a sentir o calor que ele me tinha dado. Mas agora era impossível e ... tudo o que me restava fazer era esperar pela sua mensagem. Uma mensagem que tardava em chegar...
Sofia
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P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)
Teen Fiction««« Nesta nova edição, Diogo Simões reúne-se com a revisora Ana Ferreira para um revisitar da história que alcançou mais de 4 mil leituras. »»» Passaram cinco anos desde que aquilo aconteceu. Desde que... desde que "aquilo" me marcou para o resto da...