Capítulos 26 - 23 de julho (Sofia)

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23 de julho de 2016

Diário,

Nem imaginas o dia que tive ontem. Não penses que encontrei desta vez o Car...

Ok, vamos combinar uma coisa: de ora em diante, passarei a referir-me a ele como C. Pode ser? Sei que já te falei de como me sentia, mas pensar no nome dele custa-me. Não só por me lembrar dos momentos que tivemos, mas, e sobretudo por isso, por me lembrar da minha irmã. Daquela dor que tive quando a perdi...

Por isso, e afastando as lágrimas que estão já desesperadas por me escapar dos olhos, irei continuar o meu relato. O relato do dia de praia que tive com as M&M!

Elas ficaram radiantes por me verem. Contei-lhes tudo. Não só o que tinha acontecido, mas o que se passava na minha cabeça. Abraçaram-me, quase que eternamente, e saltitaram de entusiasmo ao saberem que queria ir à praia. E assim foi.

Elas prepararam tudo. Não me deixaram fazer literalmente nada. Nem o biquíni pude escolher. Foi tudo organizado por elas. Diziam que queriam dar-me um dia de princesa. E foi isso que aconteceu... pelo menos na parte da manhã e grande parte da tarde, mas já lá vamos. Preciso rapidamente de sorver ar antes de te falar disso, por isso, uma coisa de cada vez.

Chegámos à praia, a mesma que tinha ido da outra vez com o C e seus amigos, e prontifiquei-me logo a certificar-me de que ia o mais longe possível de onde tinha passado a (maravilhosa) tarde com ele. Diário, digo-te, fui tão eficiente que as Gémeas nem se importaram de andar o que pareceram quilómetros. Afinal de contas, elas é que me tinham querido tratar como se fosse uma princesa, não era?

O que restava da manhã passou-se, tranquilamente, e boa parte da tarde também. O sol estava quente, pelo que foram ainda umas boas duas horas que eu e as minhas meninas passámos dentro de água.

Sentia o mar levar toda a tristeza. Sentia o sal secar as nódoas negras da minha alma, de cada vez que uma onda agitava aquela água quase que cristalina. Mas nem o mar conseguia ser translúcido. E eu... eu estava um pouco como ele. Mas ambos regenerávamos. Cada um a seu ritmo. Mas regenerávamos e esperávamos por o que quer que a próxima onda trouxesse. Quer fosse algo de bom, quer fosse algo de mau.

Verdade seja dita, a onda que veio, não foi no mar, quando o deixei, mas em terra. Quando o vi. Quando o vi a beijar carinhosamente uma rapariga.

- Ohh – exclamou, atrapalhado, ao ver-me, não evitando que as suas faces corassem mais que um tomate. – Este sol está mesmo quente, não está? – perguntou, retoricamente, como se adivinhasse o que me ia no pensamento.

- Pois... parece mesmo isso! – respondi-lhe, amargamente.

Mas... porque estava eu a responder-lhe assim? Ele não tinha qualquer cul...

As palavras morreram-me na boca ao olhar bem para ele.

O corpo de Pedro era completamente diferente do seu amigo, e, outrora, meu conhecido. Ao contrário de Carlos, Pedro tinha um corpo quase que completamente esculpido, que mostrava abdominais bem definidos. Abdominais onde se viam escorrer, lentamente, gotas de água. Sem dúvida que as minhas hormonas saltavam de contentamento com o que viam.

Os meus olhos percorreram-no, estudando-o afincadamente e fazendo-me imaginar a que caminho levaria os poucos pelos que tinha do umbigo sexy, até aos seus calções curtos. Claramente que as corridas nele tinham um efeito bastante severo...

Eu acabei de chamar sexy a um umbigo?

Meu Deus! Estava perdida.

Ele, percebendo que ficara roxa de me ter esquecido de respirar, tocou-me no braço.

Voltei a olhar para ele, percebendo que se encontrava já sozinho.

- Desculpa... estava perdida em pensamentos.

Oh, se ele soubesse o que eu pensava...

- Que bom ver-te por aqui – disse-lhe e pensei se algum puto teria feito um buraco para me enterrar.

- Sim. Decidi vir com o meu irmão à praia e, entretanto, convidei uma amiga minha também para...

As palavras morreram-lhe na boca e quase que podia jurar que estava embaraçado com o que iria dizer. Mas, rapidamente, o tranquilizei. Afinal de contas, que sentido fazia eu, uma rapariga super solteira, levar a mal ele estar com outra rapariga que não era eu. Nenhum, não é?

- Fizeste tu muito bem. O teu irmão parece também divertir-se com ela – constatei, ao ter apanhado um vislumbre do biquíni quase florescente a jogar às cartas com um rapazito.

- Sim... ouve, ela é a minha melhor amiga...

"Que claramente quer mais, seu burro!" – acrescentei eu mentalmente.

- Andas em boa companhia – atirei, envergonhada pela minha resposta.

Eu já não preciso de um buraco. Eu preciso é de me ir ali afogar no mar. Será que ele me iria salvar se isso acontecesse? Sofia! Controla-te! Claramente que tens as emoções à flor da pele. Só tens de te acalmar, respirar fundo. E por amor de Deus. Para. De. Olhar. Para. Os. FANTÁSTICOS. Abdominais. Dele.

- Aqui estás tu!

Nunca na minha vida ficara tão contente em ver as Gémeas ao meu lado.

- Oh! Estás com o rapazito que te salvou do chão! – Guincharam elas, calando-se de seguida ao olhar para o corpo do rapaz, que nos olhava num misto de curiosidade e embaraço.

- Diverte-te, sim? – disse a Pedro, que me sorriu calorosamente.

E ele foi, relutante em virar costas, ter com o seu irmão.

- Quem é aquela rapariga que está com ele? – perguntou Marlene, incrédula.

- Mesmo, Gémea! Parece que tem um colete refletor vestido.

- É a melhor amiga dele – esclareci, encaminhando-me para a minha toalha.

- Pois claro que é! – responderam elas, em uníssono, rindo-se em surdina.

E foi assim a tarde. E o resto dela, já que os meus pés me encaminhavam constantemente ao mar. E via-o. Muitas vezes nem reparava em mim, nem esperava que o fizesse, mas em outras, olhava-me. Ainda era a uma distância considerável, mas juro nestas páginas, que parecia que conseguia ver a minha alma. De lhe tocar. Nunca sentira algo assim. Um desejo tão profundo de alguém, para comigo. Podes perguntar-me do C, e sim, os olhos dele hipnotizavam-me, pela sua cor e intensidade com que me olhavam, mas era só isso! Um "só" que valeu muito, atenção! Mas era um olhar que me tocava à superfície. O do Pedro era um olhar quase idêntico ao de quando me ajudou e que agora tão claramente me lembrava.

Mas bem... Eu e as Gémeas vamos novamente à praia hoje. Daqui a uns minutos passarão aqui com o seu carro para me vir buscar.

Se estou ansiosa? Não sei. Se o encontrar, se fico? Talvez. Afinal de contas, quero voltar a ser feliz. Por mim, pela Ana e pelo C.

Mas é o amigo dele... Dilemas... Talvez hoje não vá ao mar. Talvez hoje fique confinada à minha toalha.

Beijos,

Sofia

P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora