Capítulo 49 - 6 de agosto (Pedro)

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6 de agosto de 2016

Não sabes o que aconteceu...

Eu estive com ela.

Comemos gelado e eu comia-a com os olhos...

Ok! É melhor riscar isto. Vamos lá recompor-me!

Como te disse, fui a casa dela. Não aguentava esperar dentro do carro. Não aguentava, conhecendo a sensação de proximidade dela, esperar mais. Demorei ainda algum tempo até tocar à campainha. O meu dedo fez ainda muitos trajetos. Mas, quando menos esperava, premi o botão.

Sentia-me aterrado. Como se fosse uma brincadeira de miúdo. Como se tivesse puxado o gatilho a uma arma. Mas esta arma valia a pena ser disparada. As únicas balas que saíram dela seriam as de um coração apaixonado. Balas recheadas de amor, de um coração que desejava, velozmente, morar junto do dela.

A conversa com os pais, como deves imaginar, foi do mais constrangedor possível. Mas não podia deixar de me sentir contente, sabes? Por saber que, mesmo não tendo o Carlos ou... ou até mesmo a mim, tinha alguém que a amava verdadeiramente. Alguém que cuidasse dela. Os seus pais!

Mas, depois, estes pensamentos varreram-se por completo quando ela desceu as escadas. O seu cabelo caía sobre os ombros, quase como emoldurando o seu rosto, e o seu olhar tocou no meu, sorrindo.

Seguiu-se, claro, o gelado e, meu Deus, se não me estava a dar gosto tê-la ali comigo.

Rimos os dois, falámos do presente e das ambições futuras. Fiquei a saber o que ela queria e eu... eu confesso-te que fiquei a pensar no que eu próprio queria. No que queria para o meu futuro. Como seria o meu futuro com ela.... Comecei a pensar num mestrado, depois cheguei à conclusão de que, possivelmente, a teria longe de mim. Mas poderia, talvez, tirar um mestrado perto dela? E tê-la no meu olhar ao final do dia. Saber que está bem. Saber que é feliz!

O seu sorriso foi, igualmente, encantador durante toda a conversa. A maneira como demonstrava o quanto estava a gostar de me ouvir falar. Confesso-te que não disse nada de jeito... não tanto como ela. Mas o que ela dissera, sem dúvida, tivera a capacidade de me pôr num estado reflexivo.

Contudo, apesar da reflexividade, consegui arranjar espaço para pensar noutras coisas, nomeadamente no que poderíamos fazer a seguir. Se ela iria alinhar comigo em algo inesperado, que não tivéssemos combinado.

E surpreendeu-me! Depois de uma conversa, mandou mensagem para as Gémeas para estarmos mais à vontade e evitar situações embaraçosas como a que aconteceu na casa dela (provocada por mim, assumo a culpa). Qual o resultado? Fomos para casa delas e vimos dos melhores filmes da minha vida: Harry Potter! Fiquei radiante por saber que ela gostava tanto do filme como eu e confessou ter lido todos os livros mais que uma vez. As Gémeas, ao que parecia, já tinham visto, nesse dia, os dois primeiros filmes, pelo que nós fomos o motivo ideal para que quisessem ver connosco o terceiro.

O olhar das Gémeas perscrutava-me do sofá que ocupavam. Qualquer gesto que fazia, mesmo que fosse para coçar a cabeça, era acompanhado por um olhar atento por parte delas. Mas foi no meio desse olhar e nervosismo que me invadia, por me sentir pressionado, que fiz o impensável e entrelacei os meus dedos nos de Sofia.

Os meus ossos pareciam quebrar-se pelo ritmo frenético do meu batimento cardíaco. O meu estômago parecia estar numa aula de ginástica, revirando-se vezes e vezes sem conta. Mas já estava feito. Os meus dedos já estavam entrelaçados e, agora, os seus finos e elegantes dedos abraçavam individualmente cada um dos meus. Já tinha feito isto a muita rapariga..., mas nenhuma me tinha dado aquele pequeno choque elétrico. Nenhuma me tinha dado a segurança servida com um trago de ansiedade. Uma ansiedade que se aliava ao medo de que ela se arrependesse e rejeitasse a minha oferta. A oferta de um corpo a aconchegar o outro.

Mas não o fez.

O seu ombro roçou no meu e a sua perna juntou-se à minha. Conseguia sentir o calor que lhe aflorava da pele. Conseguia distinguir, até, a fragância de maçã do seu champô.

Não me conseguia atrever a olhar para ela. Tinha medo que se desse conta do que pudesse estar, realmente, a acontecer. Mas, se havia quem tivesse problemas em olhar (eu, claro), as Gémeas não se faziam passar despercebidas. Todavia, não eram nos seus olhares, de evidente felicidade, que estava interessado, mas sim no da mulher que tinha a meu lado. De que maneira me iria olhar quando o filme acabasse e nos tivéssemos que despedir...

Esse momento acabou por chegar. O momento em que o nosso contacto se extinguiu.

- Amanhã mando-te mensagem.... Pode ser? – perguntei, aproximando-me dela e rodeando-a nos meus braços. Nem conseguia descrever como era o encaixe, quase perfeito, que os nossos corpos faziam um no outro.

- Sim.... Claro! – respondeu, sorrindo com os olhos.

Estava nervosa.

- Boa. Assim pode ser que possamos, não sei, ver o próximo filme juntos?

Claro que era um plano um pouco para o "arrojado", tendo em conta o quão "juntos" tínhamos estado hoje, mas porque não?

- Até amanhã... - sussurrei-lhe, vendo que tinha ficado sem resposta.

Mas eu gostava de a ver assim. Com aquele rubor nas faces. O seu olhar curioso a fugir para todo o lado. Era por causa desses seus pequenos gestos que me tinha apaixonado por ela.

E agora, estou aqui prestes a premir o botão enviar...

Vamos a isto?

"Olá miúda

Hoje os meus pais irão ver um filme com o meu irmão, pelo que teremos tempo para vermos a nossa merecida continuação. Que te parece?

Beijinhos,

Pedro"


P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora