Capítulo 20 - 19 de julho (Sofia)

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19 de julho de 2016

É engraçado, sabes?

É engraçado como a vida nos prega partidas.

Como se, de um momento para o outro, deixássemos de sentir aquele calor dentro de nós para passar a sentir um frio impiedoso. Como se aquela violenta chama da paixão, que nos movia, fosse extinta.

É assim que me sinto.

Já não tenho uma chama a aquecer-me. Já não tenho aquela vontade de acordar a sorrir pela manhã. Já não tenho vontade de ser feliz.

Não tenho vontade de tentar...

Já faz alguns dias que o Carlos terminou o que quer que tivéssemos.

Desculpa, não é bem assim.

Faz alguns dias que eu e o Carlos terminámos o que quer que tivéssemos.

E foi quase com um olhar que nos apercebemos do que estava a acontecer.

Desculpa também a minha ausência de organização em te transmitir o que quer que seja, mas este rompimento levou muito mais que isso.

Faz dias que parei de contar. Deixou-me exausta.

Contar o tempo que passou desde que senti o seu olhar sobre o meu, pela última vez.

Contar o tempo que passou desde que o vira sorrir para mim, pela última vez.

Contar o tempo que passou desde que, com o seu último olhar e sorriso, levou também o meu sorriso.

E ele levou parte do meu coração.

Se tu fores capaz de sentir, peço-te desculpa pelas marcas que as minhas lágrimas te estão a deixar. Mas isto é tão difícil.

Consigo pensar num milhão de razões para poder ficar com ele. Desde a sensação dos seus olhos nos meus, até ao calor das suas mãos ao envolverem as minhas. As suas piadas, os abraços, sorrisos e gargalhadas. Por me ter feito voltar a sorrir para a vida. Milhões de razões para tentar estar com ele. Mas tentar, como te disse, está difícil. Já percebeste o quão repetitiva estou. Estou assim por dentro também. O meu coração bate descontrolado, no meu peito, e os meus pensamentos são piores que um novelo de lã.

São milhões de razões para ficar com ele, mas bastou uma para acabar tudo. Para me voltar a atirar para o meu quarto e para estas paredes que tão bem conhecem o meu sofrimento.

Foi só uma que bastou...

Uma memória. Uma breve sinapse que atingiu a minha parte lógica e me destruiu com ela. Uma descarga elétrica que me fragmentou.

E não só por ter que dizer "adeus". Mas por me ter lembrado de tudo.

De ter lembrando o porquê de aquele olhar ser tão familiar. O porquê de o olhar do Carlos ter falado comigo.

Porque eu conhecera-o antes. Quando ele era um jovem apaixonado e feliz. Um jovem feliz e apaixonado pela minha irmã.

A minha Ana...

A minha irmã mais velha. Aquela que me orientou quando me ia abaixo só por uma simples paixoneta.

Ana, onde estás agora?

O que fui fazer eu? Apaixonar-me pelo teu antigo namorado.

Ele nunca mais foi capaz de amar depois de ti e ao conhecer-me...

Fui a única depois de ti.

A única por quem ele não se deveria apaixonar.

O destino é tão cruel. Porquê?

Porquê...?

Eu sei que ele se poderia apaixonar por mim. Sei que eu me poderia apaixonar por ele, mas..., mas seria tão estranho.

Mas...

A minha nova palavra amiga.

Eu gosto dele, mas não podemos ficar juntos.

Eu gosto dele, mas a minha irmã namorou com ele.

Eu...

Será que é mais que gostar?

Tudo isto é tão estranho.

É tão irreal!

Parece ser. E quem me dera poder acordar deste pesadelo.

Acredita, já me belisquei tantas vezes que deixei de sentir o braço. Na verdade, o que eu queria era deixar de sentir esta dor. Mas, deixar de a sentir, está longe de ser possível.

Sofia


P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora