Capítulo 32 - 26 de julho (Sofia)

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26 de julho de 2016

Meu diário,

Que noite fantástica! Ok, nem tudo. Mas já lá vamos.

Começámos por jantar algo muito saudável: pizza. E que boa que estava. Antes de a encomendarmos, ainda ponderámos fazê-la em casa, mas, tendo em conta que da última vez nos tínhamos esquecido dela no forno, achámos por bem mandar vir e, quiçá, dar de caras com um rapaz jeitoso que pudesse ser um dos temas de conversa da noite.

Mas a noite foi toda ela tranquila. Comemos, conversámos sobre os nossos planos para depois do estágio (algo que me começava a assustar cada vez mais) e até falámos sobre o que gostaríamos de estar a fazer daqui a uns anos. Claro que divagar era a palavra de ordem e bem que nos divertimos, a tentar imaginar onde estaria cada membro da nossa turma em cinco anos. Resumidamente: foi uma conversa animada e, acredita, não foi maldosa.

Os lenços foram a nossa companhia ao ver A Melodia do Adeus (eu não te tinha visado?). Juro-te! Adorava que tivesses olhos para o veres. Contudo, um filme romântico lamechas não é nada sem o seu protagonista masculino. E, claramente, que esse foi o tema do debate antes de adormecermos.

– Como te sentes? – quis saber a Marta, ajeitando-se no saco-cama. Elas faziam questão de dormirem comigo no chão. Fazíamos sempre uma estrela com os sacos-cama.

- Não estou propriamente a transbordar de alegria, mas a fase da depressão já acalmou. Foi mais difícil pela memória da minha irmã.

Fitámos as três o teto, até que foi a vez da Marlene falar.

- Gostavas "mesmo" dele?

Ponderei na resposta. Uma pergunta que já tinha feito, a mim própria, montes de vezes não deveria ser tão difícil de responder, ou deveria? Mas admitir os meus sentimentos sempre fora isto. Uma luta interna constante com o que sentia. Com o que verdadeiramente nutria por determinada situação. Mas deixar ir continua e irá sempre continuar a ser difícil. Saberá alguém o quão difícil é? Sofrer? Quase que silenciosamente? Bem, se alguém não souber, espero que não o queira. A verdade é assustadora!

- Gostava. Não romanticamente, percebo agora. Mas de uma maneira que, se continuasse, sem dúvida iria levar a algo mais. Mas compreendo que ficarmos um com o outro nos faria pior. Nos iria deteriorar ao longo do tempo. Foi o melhor...

- Sabes que estamos aqui para o que precisares! – entoaram quase em uníssono, estendendo-me as mãos para que as apertasse. E sabia bem sentir aquela força. Não tinha o direito de me sentir sozinha.

- Obrigada – articulei, engolido em seco as lágrimas que me assolavam.

- Mudando a conversa para algo igualmente interessante...

- Estás a falar daquele "assunto" musculado, gémea?

- Nem mais! – corroborou Marta.

- Do que vocês se foram lembrar – disse-lhes, disfarçando as lágrimas com um sorriso genuíno.

- Ele é mesmo gato. – confessou Marlene, suspirando.

- Sim. Tenho de admitir que tem um ar de sua graça – revelei.

E era a verdade. O Pedro parecia ser, realmente, um ser único e encantador. Um ser? Do que raio me fui lembrar.

- Pena o seu ar, infelizmente, nem tudo é sempre perfeito.

- Não estou a compreender – deixei saber a Marta, que me olhava divertida.

- Eu e a Ma vimo-lo há umas noites. Estava com uma estrangeira penso...

- Pois foi! – Corroborou a Marlene, como se se tivesse feito luz. – Aquilo é que foi abocanhar. Até tinha pensado que a rapariga estava a morrer.

- Claramente que ele dava um bom nadador salvador. Achas que é por isso que ele vai tantas vezes à praia? Quero dizer, pela cor bronzeada, só pode...

Mas o meu pensamento ficou ali. Naquela pequena confissão. Mas não sei o porquê. Não consigo compreender o porquê de me ter atingindo tanto. Eu nem sabia o seu apelido. Só sabia que se chamava Pedro e era, mais o João, o melhor amigo do Carlos. Só isso!

Sabia também do seu sorriso e tinha conhecimento do quão esculpido era o seu corpo e o quão profundo era o seu olhar, mas..., mas será que era uma pequena inveja por ver toda a gente com alguém, menos eu? Seria? Ou seria eu a pensar, durante a minha fase de excentricidade, que o seu olhar revelava algo mais? Um desejo reprimido?

Foi este o meu dilema durante o dia. Fiquei a noite toda a pensar nisto e, na verdade, são sete e trinta e quatro da manhã e ainda estou sem conseguir pregar olho.

Estarei eu desesperada? Paranoica? Ou simplesmente triste e magoada com o que o destino me tem dado? Não sei... juro-te que não sei. Mas também te digo uma coisa, agora, nem sei se quero descobrir...

Sofia

P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora