Uma garota tagarela

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Romênia, a mãe de Lilian, acabou por ter de trabalhar naquele final de semana, o que levou Lilian a concordar em jogar futebol com os garotos, que ficaram muito felizes com sua decisão. Apesar de tudo, Lilian era uma jogadora de mão cheia.

O sol naquela tarde estava quase insuportável, e mesmo assim ninguém iria pra casa enquanto o jogo não acabasse, era uma questão de honra.

Como em qualquer jogo, Lilian fez do seu time o vencedor, nenhum garoto conseguia derrotar-la. Ela se orgulhava em dizer que tinha o histórico perfeito de zero derrotas.

- Se a gente tivesse pedido a Lilian para entrar no nosso time desde o começo isso não teria acontecido - resmungavam alguns jogadores antes de entrarem no vestiário masculino.

Lilian sorriu orgulhosa de si mesma quando os ouviu, quem não gosta de ouvir algo positivo sobre si mesmo.

Depois de um jogo cansativo, Lilian só pensava em tomar uma ducha no vestiário feminino, mas foi impedida por Matheus.

Matheus fazia parte do clube de futebol, um garoto simpático. Era quase careca, tinha uma pele escura e um sorriso muito bonito, além de jogar um bolão. Era provavelmente o garoto mais legal do time.

- Ei Lilian!

- Oi Matheus! - cumprimentou Lilian.

- O Túlio pediu para mim te perguntar se você vai ficar pra festa da pizza. - Matheus parecia bastante empolgado, mas Lilian não, estava cansada e queria ir pra casa.

- Desculpa, eu não vou...

- Mas, porquê? - perguntou meio decepcionado. - Não me diga que está de dieta!

Lilian não conseguiu conter risada, de onde havia surgido essa ideia?

- Claro que não! - respondeu enquanto gargalhava.

- Então o quê?

- Eu só estou cansada - respondeu com toda sinceridade -, quero ir pra casa descansar...

- Se é assim, não se pode fazer nada, né! - consentiu dando um suspiro. - Vou avisar para o Túlio.

Lilian entrou no vestiário vazio e tomou um belo banho, e depois de vestir roupas limpas e cheirosas estava pronta para ir pra casa.

Sua casa não era longe do campinho, de carro demoraria dez minutinhos. A pé era no mínimo meia hora.

O dia começava a escurecer, as nuvens antes brancas, assumiram tons de laranja, rosa e amarelo. O sol começava a se pôr no horizonte. O dia já não estava tão quente, estava ameno, com uma leve brisa que acariciava Lilian, e fazia com que seus cabelos voassem. Era um final de tarde perfeito.

Em seu caminho ela viu Eric saindo de uma loja de conveniência carregando três grandes sacolas nas mãos.

- Ah! Você é o garoto daquele dia! - exclamou entusiasmada quando o viu. - Que coincidência!

- Sim... - concordou, não tão entusiasmado.

Na verdade, aquilo não poderia ser chamado de coincidência, era uma cidade pequena, encontrar seus conhecidos na rua era quase um ritual diário.

- E o seu machucado? - perguntou preocupada. - Ele não ficou infeccionado, né?

- Era só um arranhão. - Eric continuava inexpressivo, e Lilian continuava não deixando isso a abalar.

Quando Eric voltou a andar, Lilian o seguiu, já que os dois pareciam ir pelo mesmo caminho.

- Eu me chamo Lilian! - se apresentou entusiasmada.

- Eric.

- Você não quer ajuda com essas sacolas? - Perguntou educadamente.

Eric a olhou por alguns segundos e suspirou.

- Não estão pesadas. - Ele olhou pro céu por algum motivo, Lilian o acompanhou, mas não entendeu o que ele estava olhando.

Apesar de Lilian tentar com todas as forças, não conseguia entender o que ele pensava, ele não dava sequer uma brecha, era o poço de mistérios que Lilian estava procurando.

- O que tem nas sacolas? - perguntou.

- Comida instantânea - respondeu com sua habitual frieza. - Hambúrguer, Cup Noodles, lasanha etc...

Lilian franziu o cenho enquanto olhava para as sacolas cheias de veneno.

- Você vai adoecer desse jeito! - alertou preocupada.

Pela primeira vez Lilian viu Eric sorrir, sua expressão tornou-se muito mais bonita e seus olhos mais suaves. Por meros segundos o coração de Lilian não conseguia se aquietar, mas se recompôs.

- Melhor doente - começou a dizer suavemente - do que morto de fome.

- Não sabe cozinhar?

- Não.

Lilian ficou feliz em saber daquele pequeno defeito, sentia-se desvendando o mistério de Eric, mesmo que pouco a pouco, e com trivialidades.

- O dia está tão bonito - começou a tagarelar. - Sabe, até entendo porque você queria brincar com aquele gato, ele era muito boni...

- Aqui é minha casa! - interrompeu, enquanto parava no portão de uma casa bonita, que fora construída lá recentemente.

- Entendo... - Lilian analisou a casa em que ele morava como se pudesse descobrir algo mais sobre ele.

- Sabe... - De todos às vezes que os dois conversaram, aquela era a primeira vez que ele puxava o assunto, por isso Lilian parou e o ouviu atentamente - você é uma garota estranha.

Lilian ficou estupefata, não acreditava em seus ouvidos, estava mais que chocada.

- De qualquer forma eu tenho que entrar. - Eric entrou em sua casa, deixando Lilian com seus botões.

Depois de alguns segundos Lilian recuperou os sentidos e voltou a caminhar em direção a sua casa ainda distante.

"Será que eu o deixei irritado?" pensou Lilian. Apesar de não entender o que fez para o deixar irritado, também não podia pensar em outro motivo para que ele a chamasse de estranha. "Tenho que pedir desculpas da próxima vez que eu o encontrar".

Esses pensamentos ficaram de lado quando ela chegou em sua casa e começou a imaginar se sua mãe já havia chegado, mas infelizmente Romênia ainda estava trabalhando.

Lilian ligou a sua TV em um canal qualquer, e sentou-se no sofá, esperando que sua mãe chegasse logo. Não demorou muito e Lilian ouviu a porta abrir, e com o barulho da porta rangendo veio um baque extremamente alto.

- MÃE! - gritou Lilian preocupada com o barulho, mas não houve resposta. - MÃE! - gritou novamente, dessa vez estava desesperada.

Lilian não pode mais suportar e correu ao encontro de Romênia, e mal pode acreditar na imagem assustadora que se estendia a sua frente, sua mãe estava desmaiada no chão da entrada da casa.

***

Terceiro capítulo, obrigado a todos que leram os outros capítulos e votaram neles.

Espero que gostem desse, não se esqueçam de deixar a estrelinha e um comentário.

Amo vocês <3

O oposto do inversoOnde histórias criam vida. Descubra agora