A felicidade existe?

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Lilian fechou e abriu os olhos devagarinho encarando seu teto branco e cheio de finas rachaduras. A pergunta que Eric fizera não saia de sua mente e a pobre garota não conseguia ter um pensamento lacônico sobre esse assunto. A felicidade existe? A sua resposta era sim, mil vezes sim, mas não podia dize-lá a ele pois não conseguia explicar como chegara a essa conclusão.

Era fácil ouvir sua própria respiração naquele cubículo, apenas um fiozinho que pairava no ar e desaparecia.

- Vamos lá! - murmurou para si mesma.

Lilian se arrumou e saiu pelas estradinhas íngremes daquela cidade em busca de saber como poderia provar que a felicidade existe, uma pequena jornada em busca da resposta que mudaria sua vida e a de Eric. A jovem viu as mesmas coisas que sempre via, as suas pequenas trivialidades, a sorveteria, a biblioteca, a escola, o campinho, a loja de conveniência, mas nada que lhe desse a resposta. Depois de muito pensar ela chegou a uma conclusão:

“Eu prefiro matemática…”

Lilian voltou novamente ao parque onde encontrou a figura pálida de Luíz no balanço, balançando-se vagarosamente para frente e para trás. Ela já não tinha mais muito o que fazer, então sentou-se no balanço ao seu lado.

- Você é algum tipo de fantasma do parque? - perguntou meio entediada.

- Você é a única estranha aqui - replicou encarando-a com seus grandes olhos verdes.

Os dois continuaram se balançando sem dizer uma única palavra, ouvia-se apenas os rangidos irritantes do balanço.

- Tia, está tudo bem com você? - Era fácil ver a preocupação do pequenino, uma preocupação pura que você só via em crianças.

- Bem, não sei se devo te contar… - murmurou preocupada com os tipos de males que tal questão poderia trazer para uma criança.

- Só imagine que sou um psiquiatra e me conte! - replicou fortemente.

Lilian riu baixinho.

- É psicólogo! - corrigiu entre risos.

Luíz corou envergonhado, ficou da cor de um tomate o pobrezinho:

- Que seja! - Ela não conseguia evitar rir, Luíz era uma criança muito fofa.

- Luíz - Ele a encarou ainda vermelho -, você acha que a felicidade existe?

O silêncio começou a murmurar. O vento parou. Nada atrevia-se a mexer, Lilian nem mesmo respirava. A pergunta que não a deixava dormir a noite fora proferida em voz alta.

- Tia, você é burra? É claro que ela existe! A felicidade existe dentro de cada pessoa, você cria sua própria felicidade. Você pode criar ela através das pequenas coisas ou das grandes. Você pode receber a felicidade de alguém, isso não importa! Uma tia que não consegue ver algo tão simples só pode ser burra! - Lilian arregalou os olhos estupefata, não por uma criança de nove anos ter-la chamado de burra duas vezes, de forma alguma, e sim pela simplicidade da questão que ela demorou um século para resolver.

Lilian pôs se a rir. “Era tão simples! Eu sou realmente uma burra por não ter percebido!”. Luíz encarou-a assustado, mas a jovem não se intimidou por isso e continuou rindo como uma hiena.

- Obrigado meu psiquiatrinha! - Lilian beijou a testa do garoto e saiu correndo deixando-o só.

Correu o mais rápido que pode, o vento a atingiu como se tivesse se tornado algo sólido mas ela não se importou e continuou correndo. Em menos de dois minutos ela estava na frente da casa de Eric, estava cansada, suada e sorrindo.

- ERIC! - gritou em plenos pulmões. - ERIC! - Uma cabecinha de óculos apareceu na janela do escritório, coisa que ela ignorou. - ERIC!

A porta se abriu com um estrondo. Eric ainda estava de pijama, seu cabelo estava ainda mais bagunçado do que o habitual e sua expressão era de puro ódio, isso a fez lembrar que ainda era manhã.

- Temos uma campainha! - cada palavra fora dita com ódio exalando dela, outra coisa que Lilian ignorou.

- Se arrume para sair! - ordenou tripudiando de alegria. - Vou te mostrar que a felicidade existe!

***

Mais um capítulo para vocês minhas raposinhas, espero que gostem <3

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Bjs S2

O oposto do inversoOnde histórias criam vida. Descubra agora