Lilian não teve mais notícias de Eric mas quando chegou em casa não conseguiu evitar que seu corpo transbordasse a tristeza contida. Era uma garota forte, mas ser forte não é sinônimo de não chorar.
Precisava disso. Suportar cada palavra cortante de Eric e permanecer impassível fora uma façanha e tanto, em meio aquilo pensou que talvez fraquejasse, mas sabia que se fizesse isso na frente dele não adiantaria de nada todo o seu esforço.
Subiu as escadas com passos trôpegos, tendo de se apoiar nas paredes para não cair, deitou-se em sua cama embrulhando-se até a cabeça mesmo que estivesse calor e deixou o pranto escorrer. Fez isso até adormecer num sono profundo.
***
Um barulho irritante explodia em seus ouvidos irrompendo seu sono. Sua cabeça latejava. Lilian abriu os olhos tentando enxergar mas já estava de noite, encarou o relógio que pendia na parede e rolou da cama sentindo os olhos inchados, seguiu em direção ao telefone do corredor e o atendeu:
- Alô?
- Filha? É a mamãe! - Lilian levou algum tempo para que a compreensão a atingisse.
- Mãe! Você acordou? Graças a Deus! Eu estava tão preocupada! - exclamou ignorando as lágrimas, agora de alegria, que escorriam no seu rosto. Sua mãe riu e Lilian não pode evitar em pensar o quão maravilhosa era sua voz. - Estou tão feliz mãe!
- Me perdoe por te preocupar - foi dizendo um tanto envergonhada -, mas você se alimentou direito? Foi para escola todos dias? Se cuidou? Tomou banho? - nesse exato momento Lilian sentiu uma necessidade de interromper aquilo:
- Não se preocupe! Eu estou bem! - acalmou-a, um comichão de alegria ardendo em seu peito.
- Me desculpe por tudo querida - pediu Romênia em um murmúrio que pairou no ar e desapareceu depois de uma nesga.
- A culpa não é sua, mãe. - “A culpa é minha” pensou com seus botões mas não conseguiu dizê-lo - Eu te amo, mãe.
- Eu também, querida. Você não aprontou muito por aí, né?
- Eu pergunto o mesmo a você! - brincou enquanto enrolava a linha do telefone. - Espero que não tenha infernizado a vida dos médicos, mocinha!
- Claro que não!
***
Lilian saiu perambulando durante a noite, divagando sobre o famigerado Eric. Pensou que depois de adentrar e se instalar no seu coração estaria tudo resolvido, mas não era verdade, ela ainda precisava fazer uma boa faxina naquele lugar. Sentia saudades de casa, claro; seu próprio coração, mas agora que existia mais alguém nele; Eric, seu coração tornara-se inabitável para si.
Andou até a lojinha de conveniência onde parou e a encarou, não que tivesse algo ela quisesse na loja mas Lilian precisava parar e encarar um ponto fixo.
Alguém muito jovem e bonito saiu de lá carregando duas sacolas cheias de comida instantânea, o médico da sua mãe, Henry.
- Nunca pensei que diria isso a um médico mas - começou a dizer chamando a atenção do doutor -, você vai adoecer desse jeito.
Ele sorriu sem graça:
- Oi Lilian!
Henry começou a andar e Lilian foi atrás dele.
- Não sabia que morava por aqui - comentou meio distraída.
- Me mudei recentemente. - E acrescentou. - Você tem umas belas bolsas embaixo dos seus olhos.
Lilian franziu o cenho, tocou os olhos inchados e suspirou. Não precisava falar sobre isso com Henry.
- Eu acho que preciso resolver logo os meus problemas - murmurou mais para si mesma.
- O primeiro passo é admitir que tem um problema - disse enfiando a mão livre no bolso -, mas pra você parece ser mais fácil resolver os problemas alheios. - Lilian corou envergonhada. - Talvez eu tenha escolhido a profissão errada, eu deveria ser psicólogo.
- A princípio eu pensei que você fosse um masoquista mas é um sádico - retrucou equilibrando-se no canto da calçada.
- Está com uma língua afiada hoje…
- Você também, doutor.
Os dois andaram em silêncio por mais alguns minutos até pararem em frente a casa de Eric.
- É aqui que nos despedimos. - Henry apontou para a grande estrutura. - É minha casa.
Lilian ficou estupefata com aquela informação, só conseguiu pronunciar a primeira palavra depois se alguns minutos:
- Você… você é algum conhecido do Eric? - Ela não sabia exatamente porque aquela fora a primeira pergunta, provavelmente se devia ao fato de não estar conseguindo pensar direito.
- Conhece o meu filho? - Lilian arregalou seus grandes olhos amarelos, nunca mais olharia para o Henry da mesma forma.
“Então Henry é meu futuro sogro” pensou com seus botões.
Como a jovem demorava demais para dizer qualquer palavra que fosse, o jovem doutor decidiu entrar em sua casa.
“Mas espera aí, se ele é o pai de Eric, ele não pode ser tão novo quanto aparenta… isso quer dizer que…”
- Quantos anos você tem? - Exclamou meio agitada.
- Tenho quarenta e nove anos.
Lilian não sabia o que era mais surpreendente, ele ter quarenta e nove anos ou ser o pai do Eric.
***
Raposinhas, antes de mais nada eu quero dizer que… COMPLETAMOS 1000 VISUALIZAÇÕES!!!! 1K!!!
Isso tudo só pode ser realizado porque vocês estavam comigo e me acompanharam! Não tenho alegria maior que vocês meus leitores e nem tenho palavras suficientes para descrever minha gratidão.
Obrigado por tudo e amo vocês <3
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O oposto do inverso
Romance"Tomo sua dor como minha e seus problemas como meus, isso se chama amor." Como qualquer pessoa de uma cidade pequena, Lilian vive em uma rotina simples e monótona. Mas sua vida dá uma reviravolta quando se vê envolvida com Eric, um garoto que acaba...