Os dois sentaram-se nos degrauzinhos da escada da entrada da grande estrutura que era a casa de Eric, mantinham uma distância segura apesar de à poucos minutos atrás estarem se agarrando. Lilian estava especialmente inquieta e envergonhada, pensou em quão ousada foi e quão difícil seria olhar para o garoto de agora em diante.
A garota esperou as palavras que iriam sair dos lábios de Eric, e entendeu que deveria ser difícil para ele. Apesar disso, ele falou:
- Começou quando eu ainda era menino…
- Para mim você ainda é um menino - disse Lilian interrompendo-o, não conseguiu evitar que as palavras escapassem de sua boca.
Eric fuzilou-a com toda força que tinha.
- Se me interromper de novo te jogarei na frente do primeiro carro que aparecer - ameaçou cruelmente.
- Prossiga meu amo.
- Minha mãe não quis trabalhar, optou por ser dona de casa, apesar do meu pai sempre a incentivar a arrumar um emprego.
“Ela me criou com muito carinho mas ao contrário de todas as suas expectativas eu não era uma criança carinhosa ou fofa…”
- Isso eu posso imaginar! - interrompeu novamente.
- Você está pedindo para morrer, Lilian? - Um carro passou naquele exato momento, como se para meter medo na garota. Funcionou.
- Não! Me desculpe e prossiga meu amo.
Ele bufou antes de continuar.
- Eu também era indiferente demais para notar que algumas coisas estranhas começaram a acontecer em casa, como saídas repentinas da minha mãe, ou ligações de um amigo dela que eu não conhecia ou sequer tinha visto.
“Eu só vi o problema quando os meus pais pararam de se falar e meu pai já não dormia no mesmo quarto que minha mãe. Infelizmente eu entendia o que estava acontecendo, via o problema com clareza mas ainda assim eu não queria enxergar.”
“Diferente da maior parte dos casais meus pais não tinham brigas, e esse era a pior parte. A dor se acumula e transborda, mas nunca para.”
“Uma vez eu vi o meu pai chorando, foi apenas uma vez, mas foi a pior briga que eu já presenciei.”
“Eu tinha 15 anos quando minha mãe fugiu com o amante.”
Lilian prendeu a respiração, o mundo era silencioso como de praxe mas na cabeça da jovem se formava um alarido.
“Óbvio que eu não compreendi a princípio o que ocorreu, culpei meu pai por não ter dado atenção suficiente a esposa mesmo sabendo que isso não era verdade, culpei a ela, culpei ao seu amante, culpei a circunstância, culpei a tudo e todos mas ainda assim não era culpa de ninguém.”
“Alguns meses depois ela me ligou, me pediu perdão, disse que me amava muito e perguntou se eu poderia perdoá-la.”
- Sabe o que eu respondi? - perguntou a Lilian que negou fervorosamente com a cabeça. - Respondi que ela poderia morrer que eu não me importaria. E minha mãe realmente o fez, se suicidou no dia seguinte.
A garota arregalou os olhos amarelos reprimindo o choro. Que tipo de coisa era essa? Como tal coisa repulsiva poderia ter acontecido?
- Não sou uma boa pessoa, Lilian - arrastou as palavras secas até ali e deixou-a como um corpo morto estatelado no meio da conversa.
Lilian olhou para o céu sem ter verdadeiramente uma resposta que o consolasse, então apenas disse o fato:
- Você tem razão, você é uma pessoa muito ruim Eric - A garota o encarou com resignação -, mas não significa que você não pode ser perdoado. Independente do quanto você errou existe sempre um perdão.
- Eu não devo ser perdoado!
- Você tem toda razão! - Lilian segurou com firmeza o rosto de Eric obrigando-o a encará-la. - Você não merece ser perdoado enquanto não se perdoar!
- Eu não posso me perdoar. - Eric estava fadigado de ter de lidar com aquele intrometidinha.
- Então eu te ajudarei a carregar a sua culpa até que você possa se perdoar - as palavras depois destas custaram a vir -, ou encontrar alguém que ame.
Eric tirou as mãos de Lilian do seu rosto, levantou-se e começou a abrir o portão de sua casa ao mesmo tempo que limpava a poeira imaginária de suas roupas. A conversa não o ajudou muito, nem o libertou de nada, mas era certo que algo dentro dele tinha mudado.
- Faça como quiser - cuspiu as palavras e dessa vez elas não continham raiva. Eric entrou dentro da sua própria casa deixando a garota só com seus pensamentos.
***
Minhas raposinhas, verdade seja dita, esse capítulo foi intenso! Apesar disso eu espero que vocês tenham gostado. Não se esqueçam de deixar uma estrelinha e um comentário.
Bjs <3
Amo vocês!!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O oposto do inverso
Romance"Tomo sua dor como minha e seus problemas como meus, isso se chama amor." Como qualquer pessoa de uma cidade pequena, Lilian vive em uma rotina simples e monótona. Mas sua vida dá uma reviravolta quando se vê envolvida com Eric, um garoto que acaba...