A renda escura

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Que lugar engraçado aquele, a cantina do hospital, várias pessoas aglomeradas e só conseguiam produzir um coro silencioso de murmúrios. Até mesmo as crianças, que não podem ser controladas, entendiam o ambiente lúgubre.

Os pensamentos de Lilian se costuravam em uma delicada renda ainda não completa, faltava linha. Refletia como se sentiu ao pensar que talvez sua mãe pudesse morrer, como de repente ficou frio. Ela estava sozinha naquele lugar escuro, e era como Eric disse, a felicidade não existia, o mundo era apenas um lugar maçante, sabia que estava acorrentado e que não adiantava lutar, impotente perante o breu.

Percebeu por fim, que quando quis mostrar a felicidade à Eric, estava apenas mostrando uma obra de arte à um cego, que estupidez. Mas ainda faltava linha.

Tamborilou os dedos na mesa tentando se agarrar a linha tênue que era a resposta, um pontinho rídiculo e ínfimo que adormecia na ponta da língua.

“Como mostrar que a felicidade existe?”

A maior parte das pessoas teria desistido, mas Lilian não queria abandonar Eric, ele não merecia viver daquela forma, ninguém merecia. Seu coração batia dolorosamente e estava morrendo, o resultado final tendia a ser um desastre.

“Como mostrar que a felicidade existe?” esse pensamento se transformou em um ciclo hediondo sem data para ser finalizado.

Henry, o médico responsável por sua mãe, a interrompeu sentando-se à mesa, tinha um café quente na mão que fumegava um vaporzinho branco.

- Bom dia! - cumprimentou-a sorridente.

- Bom dia! - Ela tentou retribuir o sorriso, não saiu como o dele. - O que te traz aqui?

- O café - respondeu-lhe de imediato, olhando os dedos inquietos de Lilian e seus olhos divagantes. - No que está pensando? - Sua voz era um murmúrio baixo que juntava-se a babel.

- Como tirar alguém de um lugar de desespero, Doutor? - Não hesitou em fazer esta pergunta, afinal de contas ela já a tinha feito à uma criança.

Ele bebericou seu café, pensando com calma em suas futuras palavras. Não podia evitar em pensar em quão esquisita era a pergunta.

- Não sou formado em psicologia mas… Você ao menos sabe como chegar lá?

Ela refletiu naquilo por alguns segundos, ele estava certo. Conseguiu um pouco mais de linha, da cor mais escura, mas ainda não era suficiente.

- Como chegar lá? - indagou inquieta.

Ele bebericou novamente o café, quando o mesmo encostou em sua língua Henry soltou um “Ainda está muito quente!”.

A jovem segurou a risada.

- Imagino que seja um caminho perigoso, Lilian, aquele que provavelmente vai te machucar mais. - A jovem encarou para os olhos do doutor que se assemelhavam aos seus, tinham um brilho fraco e baço, dançando como mandava a luz. - A pior parte são os demônios que as pessoas produzem.

Ela olhou de esguelha para as pessoas presentes na cantina, brincou com os próprios dedos e sorriu, um sorriso fraco que dizia que agora a renda estava pronta e sobrara linha. Estava finalmente vestida para o evento que era o funeral, seu coração ia ser enterrado e ela não perderia isso por nada.

Ela já sabia a resposta.

***

Oie minhas raposinhas, estava morrendo de saudades de vocês, fiquei muito feliz quando voltei e vi os comentários e estrelinhas que me foram deixadas.

Um milhão beijos e abraços meus amores <3

O oposto do inversoOnde histórias criam vida. Descubra agora