Tanto as testas quanto os narizes de ambos tinham se encontrado, os olhos acenavam um para o outro - não os fecharam -, a boca, bem, a boca ficou intocada, era meio anti-social e só se encontrava com os lábios certos. Era exatamente dessa forma que João e Lilian se encontravam; testas e narizes colados, lábios a pouco centímetros, centímetros que nunca seriam fechados e olhos bem escancarados.
- Você colocou alguma magia em mim? - perguntou quando João finalmente se afastou com um sorriso satisfeito.
- Eu já disse que não sou mago! - replicou arrumando o cabelo bagunçado, ou ao menos pensando que o arrumou. - Mas de certa forma, não foi em você que coloquei a magia, foi no Eric.
- Não entendi!
- O Eric estava vendo! - esclareceu à Lilian.
Do lado de fora as nuvens se abriram um pouquinho e deixaram um filete de luz de sol escorrer, porém, logo que perceberam o seu erro se fecharam novamente trancando o sol naquela prisão cinzenta.
- Ainda não entendo! - Um medo terrível começou a apertar o coração de Lilian, daqueles que faziam o corpo inteiro parar.
O sinal - que mais parecia um grito - ecoou por toda escola avisando o fim do intervalo.
- Eu tenho que explicar tudo? - Lilian fez que sim. - Para Eric eu estava te beijando, olhando apenas para suas costas deveria parecer isso.
Parecia que um monstro estava dentro da barriga da garota comendo as paredes de seu estômago.
- O. Que. Você. Fez? - cada palavra foi cuidadosamente pronunciada, em parte porque Lilian não estava conseguindo pensar direito, em parte porque o momento exigia.
João apenas riu como sempre ria, mas para Lilian foi a risada de um demônio.
Ela queria esclarecer tudo com o Eric mas antes mesmo que ela percebesse todas as pessoas que estavam na cantina haviam se extinguido. Sobrou ela com os seus botões.
***
No caminho de volta para casa Lilian o encontrou. Era fácil encontrar ele numa multidão, se comparava a encontrar ele em um lugar vazio, o resto do mundo escurecia. Também acontecia com Eric, só que, no caso dele, isso era como um aviso de perigo.
- Eric, aquilo que você viu no intervalo não era o que parecia… - começou a dizer em desespero tropeçando nas palavras.
- E aquilo seria? - perguntou com indiferença.
- O beijo. - Ela corou, seu nariz também se tornou rosado por causa do frio.
- Ah, aquilo! - sua expressão era como a de uma pedra tanto quanto sua fala. - Não me importo, você pode fazer o que quiser.
Aquele sentimento era a de total rejeição, ela já o havia sentido diversas vezes, mas dessa vez foi diferente, porque algo tinha mudado entre eles, e junto com a tristeza veio a cólera que engoliu tudo o que era melancólico. O rosto dela se tornou um vermelho-pimentão, e por algum motivo ainda oculto ela começou a tirar o sapato.
- SEU IMBECIL! - gritou como nunca tinha gritado em toda a sua vida. Ela jogou o sapato em Eric, acertou em cheio. - EU TE ODEIO! - Não odiava. Ela jogou o segundo sapato nele, mas dessa vez ele desviou com perícia.
Estava muito irritada, nunca ficou tão encolerizada em toda sua vida. Ela não se importou que estava descalça no chão gelado, foi para casa daquele jeito mesmo; com os pés enregelados.
Lilian não ficou lá para ver, mas Eric soltou um longo suspiro, seu rosto dizia “piedade”. E ao invés de tacar fogo nos sapatos como qualquer Eric saudável faria, ele os pegou e os levou para casa com todo o carinho e cuidado.
***
Espero que tenham gostado minhas raposinhas ❤
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Beijos de café!
Obs: A greve não pode me impedir de postar! Mas eu a apoio!
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O oposto do inverso
Romance"Tomo sua dor como minha e seus problemas como meus, isso se chama amor." Como qualquer pessoa de uma cidade pequena, Lilian vive em uma rotina simples e monótona. Mas sua vida dá uma reviravolta quando se vê envolvida com Eric, um garoto que acaba...