Embrenhando-se num caminho sombrio

95 13 15
                                    

Foi depois de um dia cansativo de escola que as palavras subiram do coração até a garganta.

Lilian viu entre as pequenas multidões de pessoas o seu alvo mais comum. Andava pelas calçadas rachadas e desviava com perícia dos postes. Obviamente, ela o seguiu.

Salvaria Eric do seu próprio mundo e depois nunca mais se intrometeria em um problema que não fosse o seu.

O dia era de um azul repulsivo, os passarinhos cantavam felizes, o mundo inteiro continuava maravilhoso e patético. Não era como nos filmes, o tempo não compartilhava dos mesmos sentimentos de Lilian, ignorava sua dor e seguia feliz voando com as nuvens.

Certamente que sua perseguição não passou despercebida, Lilian também não fez questão. O garoto parou em frente a sua casa e encarou os olhos amarelos com uma mescla de tristeza e felicidade da jovem.

- O que você quer agora? - perguntou enfiando as mãos no bolso.

- Falar de uma coisa séria - Lilian sorriu ao dizer tais palavras mas passeava no ar a intensidade delas.

Eric suspirou, ele já tinha uma ideia do que seria e isso não o deixava feliz:

- Diga.

Foi como Henry disse, havia uma pequena fissura na parte morta de Eric, cabia perfeitamente um corpo, e foi ali que Lilian se embrenhou:

- Me explique o que exatamente aconteceu com a sua mãe? - indagou sabendo que havia encostado num lugar proibido, a expressão de Eric apenas confirmou isso.

- Não é da sua conta! - ele a fuzilou sem qualquer misericórdia. - Pensei que já tivesse dito isso!

- Você já disse - confirmou, a voz da garota saiu como um murmúrio, já estava muito ferida -, mas eu apenas não posso deixar para lá porque me importo com você. É da minha conta sim! - “porque também dói em mim!” Acrescentou em pensamentos.

Eric riu com desdém, o riso ecoou na mente da garota que se encolheu e desviou o olhar para os próprios pés, e isso durou alguns segundos. Estava errado, não poderia fazer nada senão o encarasse, foi difícil mas Lilian conseguiu se reerguer e olhar novamente para os olhos repletos de dor do rapaz.

- Não se engane só porque eu e você temos uma espécie de… convivência. - No começo as coisas estavam ruins mas só iam piorando. Era como se Lilian subisse vários degraus, cada um proporcionando uma dor mais elevada do que a outra.

- Eu entendo seu sofrimento… - Lilian cerrou os punhos até que suas unhas perfurassem a pele da palma da sua mão.

Eric apenas franziu o cenho em negação como se dissesse “Não entende”. Como ele conseguia ser tão cruel, tão sangue frio a ponto de proporcionar a garota uma dor tão insuportável e ainda assim não sentir qualquer culpa?

- Por favor - ela deu passos trôpegos indo de encontro ao Eric e quando estava perto o suficiente embrulhou seus braços ao redor dele sussurrando -, se você não consegue acreditar em si mesmo então acredite em mim.

- Você pode me soltar? - pediu ainda desdenhoso - Que estorvo.

Apesar de querer muito, Lilian não derramou sequer uma lágrima:

- Não vou te soltar até que você me conte o que aconteceu com sua mãe.

Eric deu um de seus longos suspiros, daqueles que fazem tsunamis.

- Isso é assédio… - Lilian cumpriu sua palavra e não desgrudou dele por um tempo incrivelmente longo, fechou os olhos e se deixou apagar.

A garota conseguia ser teimosa quando queria. Quanto tempo ficou abraçada com ele? Podiam ser horas, podiam ser apenas alguns minutos. O mundo não mudou nessa nesga de tempo, o coração de Lilian sim, e talvez o de Eric.

- OK, você venceu - Ele tirou os braços de Lilian que estavam ao redor de seu pescoço -, eu te conto o que aconteceu com a minha mãe.

***

Mais um capítulo para vocês minhas raposinhas, espero que tenham gostado. Não se esqueçam de deixar uma estrelinha e um comentário.

Bjs <3

O oposto do inversoOnde histórias criam vida. Descubra agora