Intrometidos não pegam resfriado

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Naquele mesmo dia, Lilian contou para sua mãe que havia arrumado um namorado, a resposta para isso foi um leve arregalar de olhos; uma expressão de surpresa.

- E quem é ele, querida? - questionou fingindo falta de interesse.

- Você não conhece. - Romênia fez uma expressão que insinuava que independente disso ela queria saber. - Se chama Eric, ele mora perto da lojinha de conveniência.

Sua mãe ficou em silêncio por um tempo pensativa, e por fim decidiu convidá-lo para um jantar o convite veio acompanhado de um "sempre pensei que você acabaria ficando com João", que Lilian ignorou.

***

As coisas com a sua mãe estavam bem, tinham ido melhor do que o esperado, agora só faltava conversar com Eric.

Lilian o esperou na saída da escola, rezando para que ele apenas concordasse sem muitos problemas, o que parecia ser extremamente difícil.

Eric não a notou quando saiu, foi necessário que ela o chamasse:

- Eric!

- Ah! O que foi Lilian? - perguntou girando sobre os calcanhares e indo em direção a garota. Ele parecia estar com frio, usava uma blusa realmente grossa, um cachecol de lã e uma touca meio engraçada, parecia exatamente como a de um gnomo só que sem o pompom na ponta.

- Vamos pra casa juntos! - Lilian levantou-se e se pôs a caminhar com ele.

Eric arqueou com sutileza as sobrancelhas; gesto quase imperceptível, mas não disse nada.

A jovem olhou para o céu repleto de nuvens escuras, sem realmente saber como agir. Seu nariz estava bem vermelho pelo frio, parecia uma rena. Até que sentiu alguém segurando a sua mão e entrelaçando os seus dedos nos dela, era uma sensação esquisita, como se sua mão não estivesse realizando suas verdadeiras funções até aquele momento.

- Estou com frio nas mãos! - esclareceu Eric vermelho, talvez pelo frio, talvez por vergonha, quem sabe? Só podemos dizer com certeza que Lilian sorriu feliz com seus botões.

O vento estava meio agressivo naquele dia, até as árvores mais impotentes envergavam-se perante ele.

- Eric - balbuciou tremendo, ora, pelo frio, ora, por medo -, minha mãe o convidou para jantar.

- Tudo bem - respondeu impassível.

Lilian o encarou atordoada:

- Assim tão fácil?

- Eu sabia que cedo ou tarde isso ia acontecer - desvelou meio distraído -, só aconteceu de ser cedo.

Ela tinha se esquecido que Eric já tiveram uma namorada, e que já tinha experiência nesse assunto, ela inconscientemente franziu o cenho irritada e Eric pareceu ter acompanhado a sua linha de pensamento porque disse:

- O que aconteceu, aconteceu.

- Você gostava dela?

- Na verdade, não. - E acrescentou. - E se já gostei não me recordo.

Os dois continuaram caminhando em silêncio até chegar à casa de Eric, que naquele dia específico, parecia excruciantemente perto.

- Tchau. - Eric soltou a mão de Lilian deixando-a com uma estranha sensação de vazio.

- Te vejo no jantar! - Lilian já estava se virando para ir embora quando a voz afável do rapaz a chamou de volta. - O que foi?

Eric abriu a boca e balbuciou algumas palavras sem som que Lilian não pôde entender mas pela expressão dele parecia ser importante, o farfalhar das folhas das árvores também não ajudava.

- Eu não ouvi - murmurou se aproximando dele e quando o fez ele deu um rápido e delicado beijo em seus lábios e depois em sua testa, aquilo realmente havia-na pego de súbito.

Piscou atordoada por alguns segundos até finalmente conseguir encará-lo.

Ele retirou o próprio cachecol e enrolou no pescoço de Lilian, o delicioso cheiro de chuva e chocolate invadiu suas narinas quase que imediatamente, ela quase teve intento​ de colocá-lo sobre o nariz para conseguir sentir melhor o perfume mas se impediu visto que Eric ainda estava ali.

- Está frio! - esclareceu apertando o nariz vermelho de Lilian. - Não pegue um resfriado, intrometida.

- Não se preocupe! Intrometidos não pegam resfriado!*

Ele ficou lá parado por vários minutos, parecia querer dizer algo mas não conseguiu, então desistiu:

- Pode ir! - Ele enfiou as mãos nos bolsos e encarou o céu cinzento.

Lilian exitou por alguns segundos pensando no que Eric queria dizer-lhe, mas foi embora.

Mais tarde, quando já tinha certeza que o garoto não podia mais vê-la, colocou o cachecol sobre o nariz e respirou profundamente deixando o perfume invadi-la, e conseguiu identificar ainda outro cheiro, o de laranja.

***

*A frase correta é "idiotas não pegam resfriado", e é bastante usada no Japão.

***

Outro capítulo doce pra vocês raposinhas, com gostinho de frio e cheiro de laranja.

Espero que tenham gostado. Eu estou meio doente hoje então talvez eu não tenho escrito da forma que eu geralmente faço, mas ainda assim amei fazê-lo.

Bjs de chocolate ❤

O oposto do inversoOnde histórias criam vida. Descubra agora