A dor de Lilian

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Lilian andou até o corredor sendo seguida de perto por Eric, que não se atrevia a deixar-la sozinha. Seus olhos vagaram por toda a extensão do corredor não deixando escapar qualquer ínfimo detalhe.

A jovem abriu a segunda porta do corredor, que não produziu barulho ao ser aberta. Era um quarto simplório, organizado e bonito. Havia uma enorme cama de casal arrumada em sua extremidade, uma estante de livros ao lado de uma TV e um closet.

- E esse é...? - perguntou curiosa.

- O quarto do meu pai. - Eric se encostou na parede entediado e sonolento.

Lilian o olhou de forma travessa, se afastando alguns passos dele e pulando sorrateiramente na enorme e macia cama de casal, rindo como uma hiena.

- Eu disse pra você não encostar em nada! - disse irritado saindo de sua zona de conforto e obrigando-a a sair da cama.

Lilian voltou novamente ao corredor sem muita graça entrando na terceira e última porta, Eric alguns passos atrás dela vigiando-a de perto.

Aquele era definitivamente o quarto de Eric, havia uma cama de solteiro em sua extremidade e ao lado uma escrivaninha, também havia uma TV e um closet. O que diferenciava esse quarto dos outros era as roupas espalhadas por todo sua extensão, os livros empilhados no chão e uma cama desarrumada.

Esse tipo de visão fora surpreendente para Lilian, pensava que Eric era do tipo organizado mas tamanha bagunça era digna de um prêmio.

Lilian entrou no closet de Eric não se importando com a repreensão passada, e então saiu:

- Eu estou saindo do armário! - disse escorregando pelo assoalho de madeira. - Literalmente - acrescentou.

- É claro que está. - Eric não fez sequer um movimento, continuava com a mesma  expressão sonolenta. - Já terminou de xeretar? - Lilian assentiu. - Então vou te levar para casa.

- Mas já? - reclamou com uma voz esganiçada. - Não quero…

- Vamos logo! - ordenou autoritário.

Lilian o seguiu emburrada até o andar de baixo, ainda não se dava por satisfeita.

Os dois andavam lado a lado pela rua estupidamente quente, estava mais quente do que quando Lilian saiu de casa, o boné já não era de grande ajuda.

- Posso te fazer algumas perguntas? - perguntou aproveitando a oportunidade para saber mais sobre ele.

- Mesmo se eu disser que não você vai perguntar - começou a dizer ocioso -, só não garanto que eu irei responder.

Lilian comemorou baixinho e começou a atirar-lhe perguntas:

- De que cidade você veio? - Essa pergunta não era importante, mas Lilian gostava de começar com coisas sem muita importância.

- São Paulo - respondeu quase que de imediato.

- Como era a sua escola?

- Normal.

- E seus amigos?

- Normais.

- Você teve uma namorada? - Essa pergunta saiu por acidente, não a planejara.

- Sim - Lilian não gostou da resposta, por algum motivo o seu coração começou a doer novamente, aquela dor insuportável que sentia apenas por Eric -, mas não mais.

- Como ela era? - Lilian não queria saber realmente, mas parecia que ela havia perdido o controle da própria boca.

- Tímida - respondeu sem muito interesse.

- Ela era bonita?

“Não quero saber! Não quero saber! Não quero saber!” repetia desesperada em pensamentos.

- Provavelmente.

A jovem não sabia como mas conseguiu recuperar o controle da própria boca, e em troca estava muito machucada, com só um fiozinho de felicidade restante. Sentia-se cansada e estúpida.

- Essa será a última pergunta - avisou sem muita vivacidade. Para esta pergunta ela ficou frente a frente com progenitor de sua dor pois a achava de extrema importância. - Você foi feliz? - a pergunta saiu suavemente e começou a pairar no ar desaparecendo aos poucos, o mundo se silenciou para ouvir a resposta de Eric.

- Essa coisa de felicidade existe?

***

Obrigado a todos pelas leituras, pelos votos, a ajuda e o carinho que eu recebi de vocês. Espero que continuem acompanhando Lilian nos seus intrometimentos.

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Amo vocês <3

O oposto do inversoOnde histórias criam vida. Descubra agora