Capítulo 14: Percurso Imutável.

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    Yulla dormia de forma desajeitada encostada em Cam enquanto ele guiava o cavalo que recebera pelo seu momento heroico.

    Ofereceram a carruagem para ela descansar, mas ela se recusou fazendo cara feia, já que passara tempo até demais ali.

    Seu corpo estava escorregando dos braços de Cam e ele a puxou para cima fazendo com que ela acordasse ainda sonolenta, já estava anoitecendo, os grilos se manifestavam ao longe.

    – Já estamos longe de lá? – ela perguntou um pouco enfraquecida e assustada devido a "luta" que tivera contra a deusa.

    – Você me perguntou a mesma coisa algumas horas atrás e a resposta é a mesma: já estamos longe o suficiente e seguros.

    Ela olhou ao redor, para os outros caminhantes e depois olhou para Cam outra vez.

    –Eu não quero ir para lá, Cam. - ela sussurrou. - Não deixe que eles me levem para lá, por favor... – a voz dela falhou e ela fechou os olhos.

    – É necessário que você vá, agora mais do que nunca. Sabe que isso é para a sua segurança e a nossa.

    – Você não entende... - a voz dela estava embargada, mas mesmo assim ela não abriu os olhos.

   – O que exatamente eu não entendo?

   – Cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo que nos aproximamos do local da deusa, o meu corpo sofre mais e mais. É uma dor forte, dor física e espiritual. Como se tivesse sendo atormentada por todos os seres maléficos existentes nessa terra sem sossego.

   Cam olhou para ela preocupado e culpado.

   – Não posso mudar o rumo dessa história, não mais...

   – Então eu estou condenada a sofrer.

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    Ereshkigal gritava furiosamente. Estava com sua aparência normal de uma humana de cabelos dourados.

    Estava envolta por sete correntes grossas em chamas, cada pedaço de seu corpo era queimado, mas não era por isso que ela gritava, ela gritava por ódio, por raiva.

    Yulla ainda estava viva.

    A deusa olhou para os monstros de pele vermelha e enormes chifres que a rodeava, eles puxaram mais as correntes apertando o corpo dela com mais força.

    – Vocês pagarão caro por isso, malditos!

    Os monstros resmungaram e puxaram mais as correntes com suas mãos calejadas. Alguns até rindo, zombando da deusa.

    – Não sabem com quem estão se metendo!

    Um chicote ricocheteou no rosto dela queimando seu rosto belo, nunca pensou que algo místico a derrubaria, nunca.

    O mais alto dos monstros olhou para ela desafiadoramente girando o corpo para lhe chicotear mais uma vez com a mão direita enquanto a esquerda segurava a pedra azul com força.

    – Yulla! - ela gritou ecoando em todos os cantos do Sheol.

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