Capítulo 28: O contrato

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Sefiron se arrastou ao redor de uma pedra e escorregou em outra que estava cheia de musgo, sua mão ficou com um rasgo profundo e ele tentou cobrir com a outra tentando estancar o sangramento.

Estava faminto, há dias que não se alimentava e chegar na margem daquele lago era um alivio incomensurável. Ele jogou um bocado de água, com gosto de sangue, na boca usando suas mãos em concha. Sua barba que antes era limpa estava desgrenhada e suja.

Ele colocou mais água na garganta com sua sede ainda não acabada e de repente se viu chorando como uma criança assustada e perdida, o que bem poderia se verdade já que antes achava que tinha uma noção de direção, mas agora estava andando em uma direção que desconhecia. Parecia que a deusa estava lhe pregando uma peça e o estava maltratando. Nem estava mais se preocupando com a mão, que não parava de arder.

Como tinha ódio de Cam e por tudo de ruim que ele fizera, perdeu seus seguidores, perdeu sua dignidade, estava perdendo a sua vida. Ele queria apenas um sinal, apenas um sinal para resolver o que fazer, para onde seguir.

Sefiron não sabia, mas seu sinal estava prestes a chegar.

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Ereshkigal estava no plano material. Seu rosto estava transfigurado. Havia gastado muita energia para chegar até ali. Seu vestido branco estava manchado de poeira negra que ela mesma havia utilizado e o sangue de seus aprisionadores.

Seus pés descalços pisaram nas folhas secas e naquele instante ela sabia onde estava. Sorriu como se tivesse encontrado a sua maior felicidade, suas forças pareciam se renovar em uma velocidade incrível. Logo seus olhos estavam em um tom alaranjado brilhante e símbolos apareceram em seu rosto.

– Tá na hora do reencontro Gaia. – sussurrou como em uma prece.

Foi interrompida em seu momento.

– Droga. – ouviu alguém se reclamar não muito longe dali.

Disparou atrás do som e se escondeu atrás de uma árvore com curiosidade se deparando com um homem maltrapilho, de barba grande e rosto sujo segurando a mão esquerda com força, ele não havia notado a sua presença pois estava de cabeça cabisbaixa.

No entanto, quando a ergueu se assustou com tanta beleza contida em um único espécime feminino maravilhoso, aqueles cabelos dourados que com a luz do sol ficava mais brilhante ainda, ele estava fascinado e ela percebeu isso de imediato. Ereshkigal o reconheceu, mesmo com toda aquela sujeira e face derrota, ela conhecia uma das pessoas que estavam naquela tarde com Yulla. Ela nunca esquecia de um rosto inimigo.

Mas ao invés de atacá-lo e matá-lo imediatamente resolveu jogar com ele, talvez ele lhe fosse bastante útil.

– O que faz aqui em terras sagradas, meu senhor? – perguntou da forma mais dócil e amável que seu modo de agir permitia. Por dentro se contorcia de nojo por exprimir aqueles sentimentos falsos.

Ele piscou uma ou duas vezes antes de responder. Para ele, ela era apenas uma bela miragem.

– Estou perdido. – falou com humildade de um ser derrotado.

– Mas o que procura?

Sefiron pensou em dizer que queria a saída dali, mas vendo que a situação voltava a ser favorável para ele e resolveu se arriscar um pouco.

– Procuro o Coração da deusa, para me redimir de meus pecados. – falou agora fingindo uma grande humildade e olhando para a deusa pedindo caridade.

Ereshkigal soube imediatamente que ele estava mentindo, mas como também iria para o mesmo destino, não custava nada levar ele e se divertir um pouco mais. Ela sorriu docemente estendendo a mão a ele.

– Que maravilhoso! – exclamou. – estou indo para o mesmo lugar. Preciso fazer minhas preces antes do meu casamento. Você me acompanha? – ela pergunta com uma voz de persuasão difícil de resistir.

Sefiron sorri e pega em sua mão se levantando mais revigorado. Não tinha como ele adivinhar, mas seu contrato estava feito naquele instante.

Ele abraçara a escuridão e a escuridão o abraçara.

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