Capítulo 21: O sopro de vida.

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O corpo estava quentinho e agradável. As dores haviam sumido, tudo em seu ser parecia estar mais forte do que nunca. Ela respirou aquele ar agradável e correu pelo campo, seu coração mais acelerado do que nunca. O sol estava radiante no céu, borboletas azuis voavam na frente de Yulla e algumas se enroscavam em seus cabelos soltos, o vento batia em seu rosto e ela acreditava estar no paraíso. Estava distraída até ver um ser brilhante a sua frente.

Tinha o formato de um corpo feminino, mas brilhava tanto como o sol, o que impedia Yulla de olhá-la por muito tempo. Quando falou sua voz era suave e tranquila:

– Você precisa continuar, se deseja a salvação.

Yulla cerrou os olhos: o que aquele ser estava querendo dizer?

– Não compreendo. Que salvação?

– Você sabe que salvação estou falando, meu bem. Seja forte, lute por aquilo para que você veio ao mundo e será recompensada.

O ser radiante não disse mais nada, ela simplesmente ergueu o corpo para frente e seu corpo flutuou com velocidade ao encontro do corpo de Yulla a atravessando, mas ela não sentiu dor ou morte.

Parecia até que ela estava mais viva do que nunca.

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Cam ouviu o som de um animal, mas estava bastante longe. Seus olhos estavam injetados. Nunca pensara que choraria tanto em sua vida. Aquilo seria algum tipo de pesadelo por acaso? Ele fechou os olhos ainda abraçado ao corpo de Yulla. Não devia ter deixado ela sozinha, nunca devia deixar ela sozinha. Ele havia limpado o rosto dela que estava manchado de sangue, o que não podia era fazer com aquelas veias e aquelas manchas ao redor dos olhos fechados dela não aparecessem em sua face.

Ser líder dos caminhantes já parecia ser algo bem distante de seus pensamentos. Ele queria apenas que Yulla estivesse viva, debochando da cara dele, brigando com ele, mas que estivesse viva, droga! Como ele voltaria até os outros com aquela notícia? Lembrou do monstrengo ter dito que Yulla queria ficar sozinha com a deusa. Bem, ela conseguiu, conseguiu ficar eternamente com a deusa.

Seu coração parecia estar sufocado dentro do peito de tanta dor. Foi naquele momento que ele percebeu que a amava. O pouco tempo que eles passaram juntos foi o suficiente para perceber isso. Mil anos poderiam se passar, mas ele continuaria a amando, continuaria lembrando da face dela, do cheiro dela, da voz briguenta dela. De tudo dela.

Ele apertou o corpo dela com mais força e escutou um gemido.

Seus ouvidos estavam lhe pregando uma peça?

Ele sentiu um movimento, e sentiu o hálito quente dela em seu pescoço. Uma alucinação, só podia ser uma alucinação. Não existia outra explicação.

– Cam... – ele ouviu um sussurro rouco e frágil.

Ele afastou o corpo de Yulla e viu seus olhos castanhos o encarando. Ele fechou os olhos e sorriu. A deusa o testou. Só podia ser aquilo. Ele a olhou novamente, e, sem conter o impulso a aproximou de seu rosto e a beijou nos lábios. Não a perderia outra vez.

O beijo foi intenso, ela retribuiu o beijo e pegou na nuca dele o trazendo para mais perto. Quando pararam estavam ofegantes e quentes. Yulla o afastou de perto dela com um empurrão.

– Jeito interessante esse de me trazer de volta. – ela comentou ainda rouca. A sua vida retornara e com ela sua fraqueza.

– Espero que tenha aproveitado, pois eu não quero que isso aconteça outra vez.

– Não se preocupe senhor líder, eu não vou importunar uma outra vez. – algo em sua voz estava mudado. Cam achou que era apenas a fraqueza, apesar de seus instintos dizerem que não era bem isso.

Ele a ajudou a se erguer.

– Que tal um banho de cachoeira? – ela perguntou.

– Cachoeira?

Ela não falou nada, apenas ergueu o canto da boca em um meio sorriso e segurou a mão de Cam. Quando virou o rosto para a frente sua expressão não era mais a mesma, havia uma angustia, uma certeza de perda.

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Nota do autor:

Obrigada a quem chegou a esse capitulo sem desistir.

Os caminhantesOnde histórias criam vida. Descubra agora