Capítulo 23: Fractus

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Existem momentos na vida em que as pessoas querem sumir, dar um tempo de tudo e pensar melhor do que fazer daqui pra frente, mas no caso de Yulla ela queria ter continuado morta do que descoberto algumas coisas.

Estava tudo surreal para ela agora, até mesmo Cam do seu lado. Era como se ele não estivesse ali, era como se ela não estivesse ali. Ela suspirou chamando a atenção de Cam que apertou sua mão quase dizendo: "Ei, estou aqui". Ela agradeceu mentalmente a ele por não ter feito perguntas, pois ela não sabia se seria capaz de responde-las como ele gostaria. E o beijo que eles tiveram... bem, o beijo tornara as coisas apenas piores. Era incrível como uma coisa que ela quisera tanto pudesse fazer com que ela sofresse mais ainda.

Ela escutou o som de quedas de água e voltou a sua atenção apenas para isso. Logo sentiram uma lufada de névoa fina de água. Yulla solta a mão de Cam e segue em frente. Aquilo era maravilhoso, a queda da cachoeira devia ter mais de 30 metros de altura, o sol conseguia bater certinho nas águas, fazendo surgir pequenos arco-íris. Tudo ali parecia ter um tom amarelado, as árvores ao redor, as pedras, o ar...

Yulla se virou e olhou para Cam quase dizendo: "Eu disse que tinha uma cachoeira" e se virou novamente para frente. Sem fazer cerimonia ela tirou o vestido branco e Cam soltou um som de surpresa que Yulla sabia que viria. Nas costas de Yulla tinha várias tatuagens gravadas, runas que nem mesmo Cam conhecia e também várias cicatrizes e manchas rochas como se ela tivesse sido espancada.

Cam ficou preocupado, ele não se recordava de ter visto tudo aquilo no corpo dela antes. Foi nesse momento que os questionamentos que estavam na cabeça dele desde que ela acordara se empurraram dentro da cabeça dele, querendo sair.

– Yulla...

– Vamos entrar logo na água. Os outros devem estar nos esperando e devem estar preocupados com nossa demora. – ela o impediu de falar qualquer outra coisa e entrou na água indo pelas pedras como se querendo se afastar dos problemas, o que poderia ser bem verdade.

Cam soube que não adiantaria discutir sobre aquilo, não naquele momento. Resolveu que o melhor era tirar suas roupagens de couro e entrar na água.

Ele se aproximou do corpo quente de Yulla a abraçando de frente e dando-lhe um beijo terno nos lábios. Naquele momento era como se eles fossem um só. Ele nem sabia que esse um só estava quebrado.

Bem quebrado.

Outra coisa eles também não estavam sabendo: estavam sendo vigiados.

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