Epílogo

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Já haviam passado 69 anos desde a despedida de Yulla e Cam, quer dizer, a deusa Gaia nunca o abandonara, sempre estivera em seu coração e mente e quando ele tinha que tomar uma decisão difícil ela lhe dava uma iluminação.

Cam, com 93 anos, era um homem vigoroso e muito sábio, já não era mais o líder dos caminhantes a 10 anos, mas sempre fora procurado para aconselhar líderes ou caminhantes mais novos.

Era um senhor calmo, de fisionomia tranquila, seus cabelos era completamente brancos em um tom prateado, tinha uma barba grande e volumosa, seus olhos azuis olhavam as coisas com cuidado. Estava sentado em uma cadeira de madeira, na sua antiga cabana no meio da floresta virgem e suspirou fundo se recordando de seus tempos de juventude e as aventuras que vivera.

Ele se sentiu cansado de repente e achou melhor se deitar, sua velha espada estava embainhada na pele do lobo e estava ao lado de sua cama. Ele a pegou e a colocou acima do peito. Só se relaxava quando estava com ela por perto. Ele olhou para o teto e sorriu.

– Estou atrasada? – Gaia pergunta com o sorriso mais doce estampado na face. Seu rosto estava radiante e ela exalava sua felicidade, continuava com o mesmo jeito jovem (é obvio). Estava de joelhos em cima da cama, usava um vestido cor de marfim com detalhes dourados.

– Nunca esteve atrasada Yulla. – ele falou com dificuldade, mas tentou deixar sua voz no jeito mais sedutor e brincalhão possível. – por que não é a sua irmã quem vem me buscar já que ela é a deusa da escuridão e da morte?

– Quer que eu chame ela pra você? – ela pergunta brincando, depois sua expressão relaxa e ela suspira. – ela não pode exercer seus poderes ainda, ainda tem muito que aprender com o equilíbrio das forças, mas um dia ela chega lá...

– Você está só me enrolando.

– Admito que sim.

– Está com medo de eu te atormentar no paraíso? Ou... eu por acaso fui um homem muito mal e vou para o inferno onde sua irmã fará o pior de mim?

Gaia sorri.

– Minha irmã não governa o inferno, seu dever é apenas ceifar a vida dos humanos na terra.

– Você não está pronta.

– Estou nervosa.

Cam pega em sua mão e ela parece ficar mais atenta.

– É sério Yulla, eu estou pronto, não fique com medo de ceifar uma vida que sempre foi sua.

– Os seres humanos tem livre arbítrio Cam, podem fazer o que quiser da vida deles, eu não comando a vida de ninguém.

– Você comanda a minha, comanda a minha alma e o meu coração. Sempre comandou.

– Faz tanto tempo que nos vimos. – a deusa comentou.

– Mas você nunca parou de interferir em minhas decisões.

Ela gargalhou.

– Era porque tinham coisas que seriam muito imbecis se eu deixasse você fazer.

– Livre arbítrio... – ele sussurrou de um jeito brincalhão.

Ela sorriu, mas de repente ficou séria. O olhou nos olhos.

– Eu posso fazer aquilo outra vez?

– Aquilo o que?

– Um último beijo nessa vida.

– Você pode? – ele pergunta.

Gaia ou Yulla – não importava que nome ela tivesse, para Cam seria a mesma criatura amada – abaixou a cabeça e segurou o rosto enrugado de Cam. Ele fechou os olhos esperando o toque macio e delicioso dos lábios dela. Os lábios se tocaram, Cam sentiu sua alma fugir do corpo e se elevar aos céus.

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