Capítulo 24: Laifet

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Laifet fora dado como louco e maníaco por todos os outros caminhantes que não seguiam a sua doutrina de que deviam procurar a deusa apenas para a finalidade de se tornar imortal.

Ele ficara irado com aquilo no passado e resolveu mostrar que estava certo em seus ideais de imortalidade, no entanto quando havia conseguido o que queria decidiu que não se envolveria com seres inferiores outra vez. E decidiu também que ninguém além dele mesmo e os seus não encontrariam a fonte vital, o segredo de suas vidas eternas.

Ano após ano, centenário após centenário, ele e os seus ambulantes aeternam vigiaram aquele território e achavam que somente eles poderiam ser tão eternos como a deusa. Isso fora a 3000 anos atrás, quando os caminhantes ainda eram seres mais primitivos que os atuais e se utilizavam de magia pura para se defender.

Naquele dia em questão ele estava meditando, tentando manter suas memórias mais importantes em sua mente e assim também a sua antiga magia, quando Rafahel, o seu mais fiel seguidor, de cabelos loiros e cacheados e olhos azuis/esverdeados se aproximou da pedra lisa e plana em que ele se encontrava. Ele abriu os olhos como se estivesse saindo de algum tipo de transe.

Seus olhos avermelhados com mariscados de amarelo fogo encararam seu pupilo com paciência desconhecida, sua face era jovem e severa como se tivesse visto apenas desgraça em sua vida, seus cabelos negros, lisos e compridos balançavam pela brisa fraca, sua leve armadura dourada com prata reluzia pela luz do sol, mais parecia um rei dos homens que um ex líder caminhante, não tinha mais esse cargo, agora era superior demais para meras coisas como aquela em que considerava mundana e humana demais para ele. Ele aguardou que o outro se manifestasse.

– Mestre Laifet, - cumprimentou curvando o corpo levemente por puro respeito, ele e os outros não cometiam mais os mesmo erros de se recusar a fazer isso para o mestre ensandecido, ele era o mais forte deles ali e eles sabiam disso. – perdoe-me interromper vossa tão sagrada meditação, mas é que o assunto é de extrema importância...

– Continue. – falou com a voz mansa de um homem sábio e de bom coração, coisa que ele nunca fora.

O outro engoliu em seco.

– Pithlo avistou algo que pode lhe interessar muito, na verdade, avistou duas pessoas, duas pessoas banhando perto da cachoeira a oeste daqui.

– Dois seres humanos? Aqui? – Laifet se ergue da pedra pisando com firmeza na grama delicada. Sua expressão era de alguém que tivera seu templo e deuses profanados. Ele estalou os dedos das mãos como que tentando ter calma e olhou furioso para Rafahel. – junte os outros e mande que me esperem. Nós vamos até os desconhecidos.

Rafahel se curvou uma outra vez antes de se afastar do mestre.

Ninguém profanava aquele lugar. Ninguém!

Laifet não estava gostando nada disso. Era como se seu passado retornasse querendo lhe mostrar algo que não queria ver, pelo menos essa foi a sua sensação, mesmo sem entender direito por que sentira aquilo, afinal só eram apenas estranhos, estranhos comuns. Ele só sabia do significado daquilo.

Sabia e odiava.

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