Capítulo 58

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Alfonso

Quando a mulher entrou na sala e começou a falar sobre sua vida com o marido, eu percebi que não estava sozinho. Não disse uma palavra durante a conversa dela com Any, mas
entendia perfeitamente a situação. Ele precisando de um transplante, listado em uma filha que parecia nunca ir pra frent e. Ela dedicando sua vida à ele querendo passar todos os últimos momentos que ainda tinha com ele. O que mais me chocou foi nós três naquela sala e o homem naquela maca compartilharmos a mesma realidade. A de que ele não vai sair desse hospital vivo.

Quando a mulher se levantou pedindo licença, forcei um sorriso e quando fiquei a sós com Any, a puxei pela mão e a abrcei. Eu sabia o quanto essa conversa tinha mexido com ele. Tanto que só chamei a atenção pra que não entrasse afundo em uma conversa que eu sabia que não ia lhe fazer bem.

- Poncho... Isso não vai acontecer com a gente né?! - me encarou confirmando minhas certezas, ela tinha nos enquadrado no mesmo problema que aquele casal. - Nós não vamos terminar assim né?

Poncho: Não porque aos 50 anos, vou estar morto ou já vou ter recebido um transplante à anos. - tentei brincar, mas o tom de voz saiu sério demais.

Any: Essas coisas não deviam existir. Não é justo, as pessoas deveriam morrer de causas naturais aos 150 anos.

Poncho: Meu amor, se quer ser uma médica, não pode pensar assim... Vamos lidar com morte todos os dias.

Any: Eu sei... Por isso gosto muito mais de Pediatria... Crianças sempre vão me lembrar início, vida longa, possibilidades, esperança de que tudo só está começando e pode ser alterado e remediado facilmente.

Acariciei seu rosto enxugando suas lágrimas. Por mais que amadurecesse e lidasse com a vida, eu sabia que Any sempre teria aquele coração bom e puro. A abracei encostando a cabeça dela no meu ombro e desejei ser otimista como ela. Os exames que meu pai logo me entregaria é que iriam confirmar se eu estava bem ou mal o suficiente pra já ir me preparando para terminar meus últimos dias numa cama de hospital como aquele senhor.


Meu pai apareceu segundos depois e Any enxugou o rosto e se ajeitou na cadeira.

Carlos: Filho, vem até minha sala, por favor!

Any: Eu te espero aqui. - se prontificou em responder, antes que eu perguntasse.

Assenti e lhe dei um beijo, antes de ir com meu pai pra sala dele. Assim que entramos, ele fechou a porta e pegou na gaveta o resultado dos exames. Quando vi os envelopes abertos perguntei:

Poncho: E então? Eu continuo piorando? Vou poder viajar com todo mundo ou não?

Carlos: Sim, você vai poder viajar, mas seu quadro está se agravando... Com os remédios e as injeções que vou te passar vc não terá problemas na viajem, mas... Quando voltar vai precisar ser internado de novo.

Poncho: Tudo bem! - assenti sentindo a garganta fechar. - Vou fazer diferente dessa vez, eu mesmo vou vir pro hospital, não vou esperar passar mal outra vez, assim que voltar de viajem, vou me internar por vontade própria.

Carlos: Filho se não quiser mais viajar...

Poncho: Não pai eu quero sim, é a única oportunidade que eu tenho pra viajar com a Any e todos os outros... Vai ser a primeira e última vez que eu viajo com a minha namorada e todos os meus amigos. Se eu não for vou estragar a viajem de todos e eu quero sim.

Carlos: E se acontecer alguma coisa com você?

Poncho: Ucker sabe que eu andei piorando, ele vai me ajudar.

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